Resumo

A marcha humana é um movimento complexo que integra todos os segmentos corporais. Ela é objeto de pesquisa em laboratórios de todo o mundo e nestes o principal protocolo adotado, protocolo Helen Hays, analisa apenas o movimento dos membros inferiores e pelve e, através da interpretação dos resultados, muitos procedimentos invasivos e/ou conservadores podem ser prescritos. O objetivo geral deste trabalho é propor, avaliar e aplicar modelos de representação biomecânica dos membros superiores e escápula visando a análise de marcha. Um segundo objetivo é integrar os modelos propostos ao protocolo experimental para análise de marcha descrito por ANDRADE (2002). O corpo humano foi modelado como um sistema de quinze corpos rígidos articulados, cada um representando um segmento corporal. A cada segmento foi associado um sistema de coordenadas e a posição e a orientação relativas entre dois segmentos foram descritas, respectivamente, pela translação entre suas origens e pela rotação entre as bases a eles associadas. Os modelos de representação do braço e escápula adotados neste trabalho seguem a recomendação da Sociedade Internacional de Biomecânica. Foram avaliados três voluntários do sexo feminino, sem histórico de patologias ou comprometimento da marcha e dois voluntários do sexo masculino portadores de Paralisia Cerebral Diplégica. Os resultados foram avaliados a partir de testes de acurácia em relação à reconstrução da trajetória de dois marcadores durante a marcha e a acurácia encontrada foi de 2,4mm em um volume calibrado de 4,5m3, o que garantiu a confiabilidade dos resultados. Considerando um ciclo de marcha do membro inferior esquerdo observou-se, nos voluntários normais, que durante a fase de apoio, o ombro direito apresentou aumento da adução, extensão e rotação interna. Durante a fase de balanço, os ângulos mencionados diminuíram. O ombro esquerdo apresentou comportamento simétrico relacionado ao ciclo de marcha. Em relação ao cotovelo, os ângulos de abdução-adução e rotação internaexterna permaneceram constantes em ambos os lados. Um sinal claro de flexão pode ser observado durante todo o ciclo. A análise proposta foi capaz de identificar e caracterizar os padrões de marcha dos voluntários normais. Em relação aos voluntários patológicos, um paciente apresentou um padrão de marcha em crouch e ele revelou um comportamento aproximadamente simétrico considerando os membros superiores do lado direito e esquerdo. O outro paciente apresentou rotação interna aumentada no quadril e pé esquerdo associado a uma rotação do tronco para o lado direito. O cotovelo e o ombro do lado direito apresentaram pequena mobilidade provavelmente para compensar a rotação do tronco para este lado. Os resultados obtidos a partir do protocolo proposto para os sujeitos normais e patológicos foram compatíveis com os dados da literatura em relação aos ângulos articulares dos membros inferiores e da pelve. Os resultados da movimentação dos membros superiores, escápula, tronco e cabeça dos voluntários com e sem alterações da marcha também mostraram coerência com a movimentação esperada pela análise visual e com os dados disponíveis na literatura.

Acessar Arquivo