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Amigos

          Tinha outro texto “engatilhado” para “postar” no blog quando leio dois artigos na “Folha de São Paulo” de hoje (04/11/11) que me chamaram a atenção. O primeiro de Marina Silva (“Além do cotidiano”), articulista das sextas-feiras, tratando da despedida de Rubem Alves, que escreveu seu último artigo no mesmo jornal na última quarta-feira, redigindo um instigante texto sobre seu “cansaço” de lidar com as obrigações da vida (“minha alma é movida pelas ausências…”). Esse texto, assim como toda obra do autor, tem tudo a ver com os pressupostos do lazer! Como docente na Unicamp, tive a felicidade de participar com ele em uma banca de doutorado e constatar, além de seu conhecimento e sensibilidade, seu enorme carisma. Também como secretário municipal em Sorocaba, tive o prazer de trazê-lo duas vezes à nossa cidade para “conversar” com as pessoas, ocasião em que esse profícuo escritor sempre trouxe luzes novas para a escuridão da nossa educação.

          Mas foi outro texto que me chamou mais atenção, na página 03 do mesmo jornal (“Tendências/Debates”), onde Gilson Schwartz e Guilherme Ary Plonski escreveram um texto sob o título “Ocupe o digital”, lançando como desafio às lideranças de nosso país a “promoção da digitalização da economia criativa, da saúde e da cultura”. A certa altura do texto, quase que desconectado do conjunto da obra, os autores afirmam: “Vale aqui um alerta: o que faremos com a Copa e com os Jogos Olímpicos, não em termos de estádios, estradas e aeroportos, mas na educação e cultura?”

          Relatei no último blog minha “peregrinação” por 14 capitais brasileiras num espaço de dois meses. Coincidentemente ou não, naquelas que irão sediar a Copa do Mundo, sempre dava um jeito de passar por perto desses espaços para sentir um pouco de como estavam as obras físicas. Além disso, pude constatar que as ditas estradas e especialmente aeroportos continuam os mesmo (se não, piores…). Alguns aeroportos me fizeram recordar a antiga rodoviária da Duque de Caxias em São Paulo que, em 1976 (!), “visitava” diariamente, saindo de Sorocaba às 05h30 para chegar por volta das 07h30 e então, à pé, dirigir-me para onde ficava a sede do SESC, na Dr. Vila Nova. Aquela rodoviária era muito melhor do que muitos aeroportos que visito hoje!

          Comecei, desde então, como bom brasileiro, parte desse “povo cordial”, a me acostumar com a idéia que nas “coisas” (parte física), daremos algum jeito (“..tinho brasileiro”…): o “trem bala” “açucarou”, os aeroportos serão objetos da “arquitetura de puxadinhos” e, entre tantas outras “soluções criativas”, para amenizar o trânsito nos dias de jogos, celebraremos um novo feriado(!)

          Há, no entanto um legado muito mais importante que, salvo engano (e até fruto da minha desinformação…) está sendo deixado de lado e que os dois autores acima mencionados traduziram numa pergunta clara, concisa e que merece resposta: quais os legados educativo e cultural que estão sendo planejados para o “day after” a esses mega-eventos.

          Posso estar equivocado, mas a impressão que se tem hoje é que em 2016 tudo acaba!

          Ledo engano. Em termos cultural e educativo deveríamos considerar o que é comumente chamado em marketing de “spill-over effect”, ou seja, a capacidade que determinados eventos possuem de ter “sobrevida” e de influenciar outros contextos não previstos.

          Será que não seria o caso de, por exemplo, o CONFEF (ou tantas outras organizações, de forma articulada e sistemática) lançar neste natal um programa, do tipo “Mega-Eventos: Legado Educativo-Cultural/2011-2020″? Certamente os Jogos Olímpicos de 2020, após Rio de Janeiro, terão um grande impacto na manutenção do espírito olímpico em nosso país. Só espero que não tenhamos mais uma “década perdida”, agora no campo das práticas físico-esportivas.

          Abraços,

Bramante

P.S. Confesso a vocês que eu gostaria de ganhar esse presente do Papai Noel!

Por Bramante
em 4-11-2011, às 14:01

4 comentários. Deixe o seu.

Comentários

Prof Bramante, Pessoal,
Podemos lançar a campanha daqui do CEV mesmo. Aliás, está lançada com o seu texto. Nosso colega de FEF-Unicamp (nunca consigo conter a presunção!:-( , Manuel Sérgio, ensinou que um pardigma não se cria; é descoberto ;-)
Já como contribuição à campanha, e como sou otimista, antevejo uma área promissora de aprendizagem e geração de empregos desses megaeventos no Bananão. Transdisciplinar! Que envolverá o esporte, a arquitetura e a veterinária: “Tratamento e manutenção de elefantes brancos”.
Laércio

Por Laercio Elias Pereira
em 4-11-2011, às 16:52.

Prof Bramante,
Mais lenha pra campanha. Destaco o paágrafo do artigo dos professores Gilson Schwartz, Guilherme Ary Plonski – Ocupe o Digital, na Folha de São paulo, e link pro artigo:

“Vale aqui um alerta: o que faremos com a Copa e com os Jogos Olímpicos, não em termos de estádios, estradas e aeroportos, mas na educação e na cultura?”

http://cev.org.br/biblioteca/ocupe-o-digital/

Por Laercio Elias Pereira
em 5-11-2011, às 10:47.

“spill-over effect”, ou como um evento pode influenciar outros eventos “previstos”.
Há pouco postei wm http://www.procrie.com.br/encontroniteroiamericadosul/ em que divulgo um acontecimento cultural de quase 30 dias na minha cidade. A ideia de gravar no blogue é de transmitir a outros a importância transdisciplinar na Educação. Muito embora o foco do Procrie seja a educação do movimento, tratamos de pensar o indivíduo como um todo, um ser pensante inserido na sociedade. Não queremos pensar que a pessoa, transformada em atleta de expressão internacional venha a dizer que “não me dei bem na Itália porque não sabia falar o idioma e tinha dificuldades até de frequentar um supermercado”. Em várias textos procuramos expressar algo de uma ou outra cidade brasileira e do exterior, pois o Procrie alcançou os cinco continentes, especialmente Portugal, como poderá constatar. Em próxima postagem, p.ex., estaremos falando sobre Belgrado. Creio ser uma forma de contribuir para que professores de Ed. Física entendam como a internet pode contribuir para o desenvolvimento cultural de seus pequenos alunos.
Sinto-me gratificado por compartilhar as mesmas impressões! Aliás, já deixei um comentário em seu primeiro retorno a respeito de meu trabalho e atuação no SESI-DN.
Um grande abraço e continue a nos brindar com a sua cultura e inteligência. Todos nós precisamos de você.

Por Roberto Pimentel
em 6-11-2011, às 8:04.

Caro Roberto, creio que iniciamos o nosso “papo” no texto desta semana, certo?
Laércio, achei sua idéia excelente! Vou participar, como conferencista, no “I Congresso Internacional sobre Gestão do Esporte” em Brasília no dia 18/11(vc vai estar por lá?)e vou aproveitar para lançar a CAMPANHA!!!
Sua idéia de constituir uma equipe interdisciplinar e multiprofissional para tratar das instalações da COPA e das OLIMPÍADAS, incluindo “veterinários especializados em animais selvagens de grande porte” é EXTRAORDINÁRIA, mas acho que deixarei isso prá você que é muito mais criativo que eu…:)

Por Antonio Carlos Bramante
em 13-11-2011, às 22:17. 

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