Resumo

A pesquisa desenvolveu-se mediante três estudos. O primeiro composto por 62 homens objetivou avaliar o impacto da lesão medular sobre a sexualidade humana, buscando identificar os componentes sexuais significativamente afetados. Verificou-se alterações entre os períodos pré e pós-lesão medular: diminuição significativa da freqüência e número de parceiros sexuais; redução sensível da prática sexual de sexo anal; modificações consideráveis nas preferências sexuais por abraço, penetração vaginal, utilização de vibrador; variação no prazer advindo das zonas erógenas da boca, pescoço, pênis, coxas e pernas; alterações nas funções sexuais com redução significativa dos níveis de desejo, excitação e orgasmo, bem como disfunções erétil e ejaculatória; redução significativa na satisfação sexual, embora algumas alterações percebidas equiparam-se à população em geral. Os resultados confirmam a importância de se prestar assistência à esfera sexual desses pacientes e embasam a proposta de reabilitação sexual, servindo como indicadores. O segundo estudo composto pela mesma população objetivou analisar o aconselhamento sexual e compreender o processo de auto-adaptação sexual pós-lesão medular. Entre os resultados observou-se que menos da metade dos participantes e apenas cerca de um a cada seis parceiros recebeu algum tipo de aconselhamento sexual. Verificou-se que a auto-adaptação consiste em processo influenciado por vários fatores: idade de incidência e tempo de lesão, qualidade das informações recebidas,não sendo sempre exitoso, possuindo peculiaridades como a distinção entre presença e ausência de experiência sexual prévia à lesão. O terceiro estudo foi composto por 25 pessoas entre pesquisadores, profissionais da saúde, homens com lesão medular, parceiras e familiares objetivando elaborar proposta de reabilitação sexual que refletisse os anseios, necessidades e potencialidades da população destinada. Desenvolveu-se por meio do Grupo Interdisciplinar de Apoio à Sexualidade Adaptada – GIASA, caracterizado por encontros semanais com 90 minutos de duração, em duas etapas: a primeira realizada entre maio e setembro de 2007 que objetivou identificar os temas pertinentes e a segunda, entre outubro e dezembro, com a finalidade de apresentar e discutir com propriedade os temas propostos pela etapa anterior e sugerir estratégias avaliadas pelos participantes. Enquanto os encontros da primeira etapa foram marcados por discussões de temas livres relacionados à sexualidade, a segunda foi composta por dois momentos: um marcado por seminário, compreendendo intervenção teórica sobre os temas previamente definidos, com posterior abertura para discussão, troca de experiências, reflexão quanto à temática e forma de abordagem, caracterizando o grupo focal; e um segundo momento, onde foram aplicadas e avaliadas as estratégias caracterizando as intervenções terapêuticas, realizadas interdisciplinarmente, procurando-se envolver os participantes ativamente como sujeitos nos processos de discussão focal e intervenção teórico-terapêutica para a resolução do problema diagnosticado e proposto por esta pesquisa. Por fim, baseando-se nas etapas do GIASA, elaborou-se a proposta de reabilitação sexual denominada Grupo Interdisciplinar de Apoio à Saúde Sexual – GSex, voltado à comunidade em geral, em especial a pessoas com deficiências físicas e/ou doenças crônicas, sendo definidos: finalidade, metodologia de ação, fundamentação teórica, princípios, funções dos membros, delineamento das ações, processo de atendimento, entre outros tópicos.