Resumo

Padronização e norma são orientações históricas, muitas vezes arbitrárias, impostas às existências humanas. Existir está relacionado à forma pela qual nosso corpo é e está no mundo: sentimentos, emoções, ações, relações, diálogos, movimento e as condições impostas pela natureza e pela cultura que nos molda. Tudo é parte dessa existência que é corporal (PONTY, 2018). Com base nesse emaranhado que estrutura o vivido, talvez possamos identificar o que poderia ser a razão do preconceito, da discriminação, da exclusão de tantas pessoas que têm sua existência negligenciada em decorrência de normas e convenções sociais, aprendidas entre gerações. No caso das pessoas com deficiência, a universalização dos padrões costuma ser ainda mais cruel, pois o mundo resiste em se adaptar (AMARAL, 1998). Diante disso, já podemos compreender o porquê de tanta exclusão ao invés da inclusão. Essa inadaptação às diferenças privilegia apenas um tipo de sujeito com características bem definidas: “[...] jovem, gênero masculino, branco, cristão, heterossexual, física e mentalmente perfeito, belo, produtivo” (AMARAL, 1998, p.14). O desenquadramento dessa norma será marginalizado e negado “[...] por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso” (COUTO, 2011, p. 13). Historicamente a Educação Física Escolar (EFE) valoriza características que se somam às anteriormente expostas: indivíduos sãos, melhor forma física, desempenho, qualidade técnica de movimento. Nesse componente curricular essa configuração de sujeito reforça a exclusão e a opressão dos que não se “enquadram” (FONSECA e RAMOS, 2017). Nos intriga a perguntar: o que exclui estudantes das aulas de EFE? São as diferenças significativas ou a não reprodução do movimento técnico baseado nos esportes, que deu forma ao seu entendimento? Essa exclusão se restringe apenas às pessoas com deficiência? Essas inquietações nortearam a nossa proposta, pois compreendemos que a exclusão nas aulas de EFE, vai muito mais além das diferenças significativas, mas também da não reprodução exata do movimento humano em sua forma restrita, como um deslocamento espaço-temporal.

Acessar