Resumo

Introdução: Nos últimos anos o Acidente Vascular Cerebral (AVC) tem sido responsável por um grande número de mortes. No Brasil, é considerado uma das doenças com maior risco de morte e sequelas, influenciando negativamente a qualidade de vida dos pacientes. O AVC pode ser divido em hemorrágico (AVCh) e isquêmico (AVCi), este último representa 80% dos casos. O AVC é caracterizado pelo envolvimento de um ou mais vasos cerebrais em um processo patológico, podendo ter diferentes sequelas, como déficit motor, problemas emocionais, déficit nas funções cognitivas e déficit neurológico. Além disso, as lesões cerebrais nos diferentes hemisférios podem causar sequelas distintas. Diante deste contexto, o objetivo da pesquisa foi verificar a relação entre o hemisfério cerebral acometido pelo AVCi, a habilidade motora, os sintomas depressivos e a função cognitiva dos pacientes. Métodos: foram avaliados pacientes entre 18 e 90 anos, ambos os gêneros, do programa de Neurovascular do HC/UNICAMP, diagnosticados com AVCi unilateral, único e de circulação anterior. Os instrumentos utilizados foram: Protocolo de Desempenho Motor Fugl-Meyer (FM - habilidade motora); Inventário de Depressão de Beck (BDI - sintomas depressivos); Mini Exame do Estado Mental (MEEM - funções cognitivas); National Institute of Health Stroke Scale (NIHSS), Índice de Barthel (IB) e Escala Modificada de Rankin (EMR) - estado neurológico. Para verificar o hemisfério acometido pelo AVC, foi realizado o exame de ressonância magnética computadorizada. Resultados: foram avaliados 135 sujeitos com idade média de 60 anos (±15), 80 (59%) do sexo masculino, 126 (93%) sujeitos destros, 71 (53%) com AVCi no hemisfério esquerdo. Os resultados das avaliações mostraram: FM=118,19 (±30,45; total de 138 pontos); BDI=9,93 (±7,14; total de 63 pontos); MEEM=21,7 (±5,43; total de 30 pontos). Quantos ao estado neurológico os pacientes apresentaram: NIHSS=1,61 (±1,24); IB=90,11 (±20,97) e EMR=1,67 (±1,20). O grupo maior de 50 anos de idade teve pior desempenho apenas para o MEEM (p<0,01). Não houve diferença estatisticamente significativa na comparação entre os sujeitos acometidos pelo AVCi no hemisfério direito e esquerdo. Foi possível notar relação entre FM e BDI (r=-0,41; p<0,01); e FM e MEEM (r=0,38; p<0,01) e BDI e MEEM (atenção e Cálculo) (r=0,24; p<0,01). Todas as escalas neurológicas se correlacionaram. As escalas neurológicas se correlacionaram com as variáveis analisadas. Foi possível predizer a FM através do NIHSS e do IB. As mulheres tiveram menores escores somente para BDI (p<0.01). Não houve diferenças entrar as variáveis para o grupo sedentário e fisicamente ativo. O tempo de estudo se correlacionou com FM, MEEM, EMR, IB e NIHSS. Não houve correlação entre o tempo pós AVCi e as variáveis analisadas. Conclusão: Nosso estudo verificou que as sequelas do AVCi estão relacionadas entre si. Além disso, o comprometimento pós-AVC se manifesta de formas diferentes nos subgrupos de pacientes (idade, gênero e tempo de estudo). O profissional da Educação Física deve estar atento a essas especificidades, pois além do exercício físico ser importante na prevenção primária e secundária, possui um papel fundamental na reabilitação do paciente, uma vez que o desempenho físico está atrelado aos componentes psicológicos e cognitivos

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