Resumo

O objetivo deste estudo foi investigar as relações entre o desempenho motor e as características do ambiente familiar (espaço físico, atividades diárias, brinquedos e a percepção da qualidade de vida do cuidador principal), de lactentes residentes nas regiões norte e sudeste do Brasil. Estudo exploratório e transversal, no qual participaram 80 famílias de lactentes típicos entre 3 a 18 meses de idade de dois grupos: 40 famílias e lactentes de Marabá (PA) e 40 famílias e lactentes de Piracicaba (SP). Considerou-se como critérios de inclusão: famílias com filhos entre 3 e 18 meses, residentes na zona urbana de Marabá (PA) ou Piracicaba (SP) e a assinatura do termo de consentimento. Foram excluídos do estudo lactentes com alterações neurológicas, síndromes genéticas, malformações congênitas ou que apresentassem qualquer condição que comprometesse seu desempenho motor no dia da avaliação. Para a avaliação do desempenho motor utilizou-se a Alberta Infant Motor Scale (AIMS). Para avaliar as características do ambiente familiar (espaço físico, atividades diárias e brinquedos) usou-se o Affordances in the home environment for motor development – Infant Scale (AHEMD-IS) e o World Health Organization Quality of Life - Bref (WHOQOL-BREVE) na avaliação da percepção de qualidade de vida do cuidador principal. Empregaram-se os testes de Shapiro-Wilk e de Levene com o objetivo de testar a normalidade e homocedasticidade dos dados. O teste t de Student e de Mann-Whitney para a comparação dos grupos. Os testes de qui-quadrado, o teste exato de Fisher e o coeficiente de contingência na comparação dos dados categóricos. Para análise de correlação o teste R de Spearman. O coeficiente de fidedignidade de Cronbach no teste de consistência interna. O nível de significância foi de 5%. Os resultados mostraram que os grupos não diferiram quanto ao desempenho motor. O grupo de Marabá (PA) apresentou pontuações menores nas características do ambiente familiar avaliadas por meio do AHEMD-IS, com diferença significativa entre os grupos para o escore total do AHEMD-IS (p=0,002), o espaço externo (p=0,021) e brinquedos para motricidade fina (p<0,001) e grossa (p<0,001). O maior impacto em relação à percepção de qualidade de vida dos cuidadores foi no domínio IV (meio ambiente), com diferença significativa (p=0,007) para esse domínio, entre os grupos. Não foi evidenciada correlação entre o desempenho motor e a percepção de qualidade de vida dos cuidadores. Encontrada uma correlação fraca (r=0,33; p=0,03) entre o desempenho motor e as oportunidades para o desempenho motor para o grupo de Marabá. E correlação fraca/moderada (r=0,45; p<0,001) entre o desempenho motor e atividades diárias para o grupo de Piracicaba. A partir dos dados conclui-se que, residir na região norte ou sudeste do Brasil, não traz impactos distintos ao desempenho motor de lactentes. Entretanto, impacta nas oportunidades para o desempenho motor, disponíveis no ambiente domiciliar e também repercute na percepção de qualidade de vida das mães, particularmente no domínio ambiental. Os achados sugerem alguma repercussão do ambiente no desempenho motor de ambos os grupos, relacionado às oportunidades globais para o desenvolvimento motor (escore total do AHEMD-IS), para os que vivem da região norte e relacionado com a dimensão de atividades diárias do AHEMD-IS, para os que vivem na região sudeste.

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