Resumo

O desporto deve ser entendido como uma manifestação da saúde moral existente no contexto social (Bento, 2004). Nesse sentido, ser desportista é ter carácter, é assumir-se como figura moral, exibindo sempre uma postura ética em quaisquer circunstâncias. No desporto, o ideal de aperfeiçoamento envolve o apelo a que o desportista seja construtor de si próprio, através de muito empenho e esforço tenta corresponder ao desejo de extrair de si mesmo o mais possível, de se ultrapassar a si e aos outros. Deste modo, um campeão é um modelo da performance de excelência, da moral, não apenas por saber aquilo que é correto, mas sobretudo por saber agir em conformidade exibindo, pois, um alto índice de formação integral (Bento, 2006). A excelência não surge, pois, a qualquer preço, é o produto da vontade, da perseverança, da honestidade e da correção em busca da aretê. Por conseguinte, a excelência no desporto “é de natureza ontológica, que se define pelo ser e não pelo ter” (Patrício, 2008). Face a esta conceção, este estudo pretendeu conhecer as representações que um grupo de atletas e treinadores de elite de orientação tem acerca dos fatores determinantes para a excelência. De um mais específico, procurou-se saber qual o papel desempenhado pelos valores e a ética no âmbito dos mesmos. Através da realização de entrevistas semiestruturadas foram inquiridos dez treinadores ibéricos de elite e catorze atletas que integram as seleções nacionais da Suíça, Noruega, Dinamarca, França, Itália, Bulgária, Roménia e Letónia. O guião da entrevista foi desenvolvido com base em bibliografia relevante nesta temática (Baker, Côté & Abernethy, 2003; Bento, 2004; Bento, 2006; Côté, Ericsson & Law, 2005; Holt & Dunn, 2004; Matos, Cruz & Almeida, 2011; Miller & Kerr, 2002). A análise dos dados foram analisados através da técnica de análise de conteúdo, com o software QSR Nvivo 10. Os resultados evidenciam que a dimensão axiológica, relacionada com a formação dos valores humanos, é altamente potenciadora dos desempenhos da excelência na orientação. Verificou-se também ao nível da dimensão da realização que a influência dos fatores sociocontextuais, associados a pessoas significativas e a aspetos socioculturais, constituem-se como importantes catalisadores e modeladores da excelência. Por outro lado, os entrevistados defendem que é necessária uma equilibrada interação entre estas duas dimensões para o desenvolvimento e manutenção da excelência na orientação. Uma vez que os resultados apontam no sentido de que a excelência apresenta uma matriz multidimensional, considera-se determinante para a sua efetiva concretização, a interação bem-sucedida entre a dimensão axiológica do indivíduo e as dimensões sociocontextuais que envolvem a modalidade. Consequentemente, subentende-se que a excelência na orientação se encontra intimamente relacionada com a necessidade do desenvolvimento integral do atleta, isto é, não apenas promovendo a excelência de desempenho, mas sim a sua excelência pessoal. Em suma, a excelência na orientação não se situa apenas no ser, mas exige igualmente um conjunto de valores e referências que a fazem transcender sua realização ao mundo da axiologia.

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