Resumo

Vôo livre é uma atividade física de aventura na natureza (AFAN) cuja característica é decolar de um local elevado e manter-se voando com a utilização de correntes de ar. No país há mais de 5.000 praticantes, entre pilotos e pilotas de parapente e asa-delta. A maioria desses praticantes de vôo livre o realiza como opção de lazer, tendo forte relação com seu estilo de vida e com a formação de redes de socialidade. Via de regra não se voa sozinho, mas em grupos de afinidade. Outra característica societal é que homens e mulheres voam juntos. Embora fosse esperado encontrar corpos jovens e atléticos, fatores como a tecnologia, permitem que diferentes pessoas participem: a quantidade de pessoas com idade acima dos 30 anos nesse esporte é destacável. Geralmente são os mais jovens que se arriscam nessas aventuras. Intriga ainda o fato de o vôo livre ser adotado como lazer de pessoas comuns do cotidiano, já que apresenta riscos à vida. Nesse sentido, o estudo considerou socialidade, corpo e risco como dimensões essenciais à compreensão desta AFAN. Considerando os problemas já mencionados, o objetivo foi compreender significados dados ao risco, ao corpo e à socialidade a partir da prática corporal do vôo livre. Para tanto, numa apropriação da pesquisa etnográfica, foi realizado estudo de campo por meio de observação participante, entrevistas e registros de imagens em Terra Rica, Paraná. Vinte e duas pessoas participaram das entrevistas. A amostra foi intencional e não probabilística, determinada pela saturação dos dados. O referencial teórico de base foi buscado em Michel Maffesoli, privilegiando suas discussões sobre socialidade, potência da socialidade, nomadismo, tribalização, sensibilidade teórica, razão sensível, teoria erótica, ética da estética e enraizamento dinâmico. Destacam-se entre as evidências descritas: a ênfase racional no trinômio equipamento-piloto-condição; a efervescência societal em torno do vôo como estilo de vida; a estruturação dos momentos do vôo analogamente ao ritual; a percepção sensível da espiritualidade e da natureza na fase de suspensão; ambigüidades e contradições nas práticas e representações sobre corpo e risco. Numa vida pautada pela rotina e estresse, o vôo surge como um pólo diferenciado. As pessoas transitam entre essas duas esferas (cotidiano e lazer), evidenciando o enraizamento dinâmico na contemporaneidade. Nessa prática corporal, que explora liminarmente as emoções em situação de risco, pilotos incorporam a lógica de se auto responsabilizarem pelos erros. Assim mesmo, dado o risco real implicado, não existe um corpo ideal imune à imponderabilidade dos acidentes. Desta forma, aspectos de uma racionalidade sensível, como a solidariedade grupal ou a intuição, se fazem incorporadas na experiência dos voadores e voadoras como uma complementaridade ? contraditória ? à técnica e à tecnologia na gestão dos riscos no vôo livre. Essas interações, não passíveis de síntese, reforçam a tese de que risco, corpo e socialidade são elementos prioritários no entendimento da coletividade de sujeitos que praticam um esporte de risco num momento de suas vidas não mais relacionado à juventude.

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