Resumo

Permitam-me V. Exas. que situe esta homenagem no contexto que a determinou. As nações não prescindem de santos e heróis. Sempre e em todos os tempos precisam de homens que funcionem como arquétipos e exemplos a seguir. De homens que se arranquem do chão da mediania e não deixem morrer nos demais a coragem, o destemor e a ousadia. Sem eles os povos e as nações não se fazem e não se sustentam. Quando não existem, há que inventá-los. Não importa em que domínio, nem a sua proveniência ou estrato social. Importa sim tê-los para investir neles a recriação de símbolos e mitos do passado, a confiança no presente e a esperança na invenção do futuro. Para se transcenderem e arrastarem os outros para a transcendência. Muitos desses heróis - tantos e tantos! - são criados no desporto, como poetas desmedidos do corpo, do esforço e do suor, da dor e da vontade, da ingenuidade e da ilusão. Os seus feitos não são apenas seus, nem apenas desportivos; são façanhas de todo um País e bandeira ondulante do pulsar das suas forças e anseios. O herói desportivo transporta nos seus ombros o fardo de traumas e angústias, de derrotas e humilhações, de sonhos e esperanças de grandeza e dignidade de um povo. Ergue nas asas do seu triunfo o orgulho adormecido da sua gente e faz irromper no seu grito de vitória a voz reprimida dos seus concidadãos. Porém, muitas vezes e tal como tantos outros heróis, é um herói tragicamente humano. Um herói que, após os fugidios dias de glória, vê empalidecer a sua luz e dá consigo a conhecer penosos e escuros dias de tragédia, esquecido e ignorado. O herói que fez a festa e a alegria do povo naufraga num oceano de amarguras. Abandonado à sua sorte. De resto o herói trágico está no centro da existência. Não é tanto o sacrificado, mas é sobretudo a disponibilidade para o sacrifício que merece a admiração em todos os povos e culturas. Rosa Mota foi e é uma heroína desportiva. Não uma heroína trágica e esquecida, mas uma heroína que continua viva na nossa gratidão e admiração, no nosso apreço e afecto. Foi para lhe dizer isto que aqui nos reunimos. Para lhe dizer que continua a ser Rosa e Estrela. Mais, uma Faculdade de Ciências do Desporto cumpre a sua missão ao serviço de um desporto melhor, entendido este como instrumento de realização de um mundo com o mesmo sentido. Logo é natural que admire e tome como seus cúmplices aqueles que na organização e na prática do desporto emergem como paladinos daquela ideia. Rosa Mota figura por mérito próprio entre os protagonistas de louvor e eleição. Era, pois, da mais elementar justiça que viéssemos aqui dizer-lhe isto e afirmar que dela recebemos inspiração para manter fidelidade à defesa de princípios e valores imanentes ao desporto. Que o seu exemplo de conduta e sucesso limpos nos encoraja a denunciar e verberar atropelos à verdade desportiva. Essencialmente porque os valores adquiridos e cultivados no palco desportivo não se confinam a esse espaço; transitam para além dele, para um quadro mais lato e abrangente. Não se ensinam e aprendem apenas para terem valimento no desporto, mas essencialmente para vigorarem na vida, para lhe traçarem rumos, alargarem os horizontes e acrescentarem metas e meios de as alcançar. Para dar expressão máxima ao bom e verdadeiro, ao belo e sublime. É de campeões iluminados por valores deste jaez que a vida e o desporto precisam. De campeões – como Rosa Mota - que não se contentem em vencer uma