Resumo

A partir dos conceitos teórico-metodológicos oferecidos por Michel Foucault na sua obra A Arqueologia do Saber, esta dissertação analisa a história do Grêmio Foot-ball Porto-Alegrense com objetivo de encontrar as rupturas que ajudaram a forjar, em torno do clube, um discurso singular que valoriza a “força”, a “ra- ça” e a crença na “imortalidade”. Ou seja, o objetivo aqui é problematizar como foram construídas, midiaticamente, diferentes discursividades em torno do time, nos últimos 30 anos. Para tanto, como desdobramento desse objetivo maior, busquei descrever as descontinuidades enunciativas – na qualidade de rupturas – ocorridas em três momentos decisivos do clube, especificamente 1983, 1995 e 2005. Ainda assim, mostro de que forma, nessa produção pedagógico-discursiva, há uma constante reativação de uma “memória enunciativa”, que ajuda a construir uma crença do que é, efetivamente, ser gremista. Esta dissertação está inserida no campo da educação, na medida em que se entende que os sujeitos são constituídos e educados no âmbito da própria cultura e por meio dos mais diversos discursos pedagógicos instaurados neste espectro. Para efetivar as análises, operei, em especial, com os conceitos de discurso, enunciado e formação discursiva, tal como propostos por Michel Foucault em sua singular análise discursiva. Mais do que conceitos, essas noções funcionaram como ferramentas metodológicas que me permitiram descrever (em cada uma das rupturas anteriormente referidas) as dinâmicas da “ordem do discurso” gremista. O corpus da pesquisa constituiu-se de matérias e comentários jornalísticos publicados nos jornais Zero Hora e Correio do Povo, dos seguintes períodos: de 1º de dezembro a 31 de dezembro de 1983 (data da conquista do Mundial Interclubes pelo time gremista); de 1º de agosto a 1º de setembro de 1995 (conquista do bicampeonato da América) e, por último, de 1º a 31 de novembro de 2005 (conquista da série B do futebol Brasileiro). É possível dizer, a partir da análise do material empírico, que a singularidade do discurso gremista – que emerge em 1983 – é resultado de práticas construídas pela meticulosa tessitura entre, de um lado, a discursividade em torno do povo gaúcho e, por outro, dos saberes particulares que envolvem as diferenças entre futebol brasileiro, sul-americano e mundial (em especial, o europeu). Da mesma forma, foi possível caracterizar a década de 90 como um período no qual foram instaurados enunciados que caracterizaram (e caracterizam) o clube como um time de “alma castelhana”, “copeiro”, de “competitividade”, de “resultado” – enunciados, portanto, congruentes com um discurso “empresarial” hegemônico no futebol brasileiro na época. Por fim, mostro como o ano de 2005 marca a instauração de um discurso épico em torno do clube, principalmente da chamada “imortalidade tricolor” (uma concepção que parece caracterizar toda a história do time, mas que, ao contrário, apresenta-se como uma invenção bastante recente). 

Acessar Arquivo