Resumo

A prática de um esporte como o voo livre, pela característica anti-natural que o ato de voar denota, representa para a grande maioria dos atores sociais contemporâneos um risco desnecessário, e que por isso, poderia ser evitado. Afastar-se da segurança que o ambiente terrestre oferece e enfrentar a angústia provocada pela vertigem das alturas, talvez por medo ou insegurança, são aspectos que não despertam o interesse de todos. No entanto, para os praticantes de voo livre, o risco é considerado um elemento desafiador e fundamental para os seus momentos de lazer: decolar de uma montanha como se fosse ave; voar em um ambiente instável e totalmente estranho ao ser humano; desafiar a gravidade utilizando-se de equipamentos como uma asa delta ou um parapente; são atitudes que representam para estes aventureiros do ar, a possibilidade de uma vivência lúdica. Quais são os sentidos do risco de voar livre pelos ares, vivenciado no cotidiano destes voadores? Que sentidos podem estar relacionados ao desejo de desafiar essa real condição humana de ser terrestre, colocar em jogo a integridade física e em alguns casos até mesmo a própria vida? Na busca de respostas que pudessem facilitar a compreensão destes questionamentos recorremos a um estudo de natureza qualitativa onde os sentidos do risco-aventura, socializados nos discursos dos voadores, foram investigados. O universo deste estudo foi composto por onze voadores de ambos os sexos, praticantes das modalidades asa-delta e parapente, frequentadores de três rampas de voo livre do Estado do Rio de Janeiro: São Conrado, na cidade do Rio de Janeiro – Pedra Bonita; Niterói – Parque da Cidade; e Nova Iguaçu – Serra do Vulcão. As estratégias metodológicas utilizadas foram: entrevista semi-estruturada e técnica projetiva de associação de idéias. Para a interpretação das falas dos respondentes utilizamos a análise do discurso de Eni Orlandi. A utilização destas diferentes estratégias contribuiu para que elementos simbólicos e míticos emergissem dos discursos, tornando possível a compreensão dos sentidos que risco-aventura assume no imaginário social dos voadores. Os sentidos do risco emergiram dos discursos como evento extraordinário, ritual, prazer pessoal, instrumento para a preservação de vínculos afetivos, coesão social e brincadeira. Os discursos e as associações revelaram que o risco-aventura enfrentado pelos voadores apresenta indícios de duas qualidades de sagrado: o sagrado de respeito ou de coesão e o sagrado de transgressão ou de dissolução. O evento sagrado, neste contexto, encontra suporte nos rituais de renovação, de observação e de transgressã

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