Sexualidade na Escola
Por Leni Mércia Nachard (Autor).
Em VI EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
A sexualidade tem seu início com o nascimento, e se desenvolve durante toda a vida, tornando-se mais visível na puberdade.
O conhecimento do corpo e de seu funcionamento propicia uma maior conscientização da importância da saúde e da necessidade de ações curativas e principalmente preventivas. Nossos jovens não estão tendo acesso a informações ("confiáveis") a respeito de sexualidade, estão iniciando sua vida sexual cada vez mais cedo e sem maturidade e conhecimento para tal. A imposição de certos padrões de beleza veiculados pela mídia, acrescidos de músicas que induzem ao sexo, são fatores que propiciam essa iniciação tão precoce e despreparada. Essa imaturidade pode lhes causar sérios problemas, alguns deles até irreversíveis (ex: aborto).
Neste trabalho procuraremos mostrar a importância do papel da Escola, em especial da Educação Física, na formação do indivíduo. A Educação Física, por privilegiar o uso do corpo e a formação de hábitos, atitudes e valores na busca de uma construção de uma cultura corporal, é um excelente espaço onde o conhecimento, o respeito e a relação prazerosa com o próprio corpo podem ser trabalhados.
Abordaremos assuntos pertinentes a gênero, transformações ocorridas na puberdade, gravidez indesejada, métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis, AIDS, e finalmente como a Educação Física pode ajudar no desenvolvimento da sexualidade.
O objetivo deste trabalho será alertar para a necessidade real e imediata do acesso à formação específica, por parte de todos os profissionais da educação, sem permitir que alguns fujam de sua responsabilidade, já que compete a todos educadores passar informações verdadeiras a seus educandos. Desta forma estaremos contribuindo para que crianças e jovens possam desenvolver e exercer sua sexualidade com prazer e responsabilidade.
Gênero
Em nossa organização social, deparamos com uma interação da identidade de gênero, tendo esses processos seu início nos primeiros anos de vida e estruturando-se simultaneamente de forma integrada.
Desde cedo, inicia-se uma série de normas, regras e preferências que serão ditadas pela sociedade, diferenciando claramente o que se espera de um menino ou de uma menina em termos de papel sociossexual. Regras de papel de gênero, que deverão ser internalizadas para que possam ser aceitos pela sociedade como indivíduos masculinos ou femininos.
O conceito de gênero, surge para desnaturalizar os papéis de identidades atribuídas ao homem e à mulher. Diferencia o sexo (a dimensão biológica dos seres humanos) do gênero (uma escolha cultural, arbitrária, um produto social e histórico).
Puberdade
É um período de muitas mudanças biológicas que tornam o indivíduo apto à procriação, é também onde a sexualidade adulta emerge.
No garoto a testoterona alarga a laringe, fazendo mudar o tom de voz, desenvolve os músculos, aumentando a força física e deixando os ombros mais largos. Nas garotas os hormônios femininos aumentam o depósito de gordura nos quadris, nádegas, coxas e seios, dando uma forma mais curvilínea ao corpo.
Por volta dos 14 anos, os garotos costumam ter sua primeira ejaculação, em geral, como conseqüência da masturbação ou mesmo durante o sono (polução noturna).
A idade em que ocorre a primeira menstruação varia muito, e sua chegada indica que a garota já possui óvulos e pode engravidar. Uma das campeãs em preocupação é o tamanho do pênis.A vagina é suficientemente elástica para acomodar os diversos tamanhos de pênis e uma vez que a parte mais sensível dela fica logo na entrada, trata-se de uma preocupação infundada: o tamanho não influi na satisfação sexual do casal
É justamente na adolescência que a personalidade passa por enormes transformações e isto faz parte do desenvolvimento. A adolescência é uma época de incertezas, dúvidas e também de crescimento (conflito entre ser criança e ser adulto).
Gravidez indesejada
Ficar grávida e dar à luz uma criança pode ser uma das experiências mais emocionantes da vida de uma mulher. Principalmente se o pai e a mãe se amam e desejam essa criança.
É preocupante o crescente número de gestações indesejadas, que incidem como um "efeito colateral" do exercício da sexualidade (imatura e irresponsável) dos adolescentes. Esses jovens, pelas próprias características associadas à faixa etária, ainda não são capazes de avaliar, e principalmente de assumir, o ônus da vida sexual ativa.
Em geral, enquanto possível, as adolescentes escondem a gravidez até da própria família, não recebendo apoio algum. O temor de assumir publicamente a gestação é, basicamente, o fator que mais afasta a paciente do pré-natal, esta atitude imatura leva a freqüentes complicações clínicas e obstétricas.
Instalada uma gestação indesejada, a adolescente (em geral, solteira) só tem três soluções possíveis, nenhuma delas satisfatória: aborto provocado , casamento por conveniência ou ser mãe solteira adolescente.
Métodos contraceptivos
A ausência quase absoluta de qualquer plano estruturado e coerente de educação sexual, em âmbito nacional, faz com que a imensa maioria da população tenha idéias muito confusas e preconceituosas até mesmo sobre sexualidade, quanto mais sobre anticoncepção. A afirmativa é válida para homens e mulheres de todas as idades e principalmente para os adolescentes. É comum ouvir referências a métodos esdrúxulos ou ineficazes, como o uso invertido da tabela e pílulas ingeridas apenas nos dias em que ocorre a relação sexual.
Não existe um método que seja o melhor para todas as pessoas. Os métodos variam em eficácia, uso, custo, etc. Existem os métodos naturais (tabela, coito interrompido, e muco cervical) e os métodos artificiais (pílula, DIU, diafragma, camisinha e esterilização).
DST
As DST são doenças transmissíveis através da relação sexual, todas possuem sintomas característicos e é necessário evitar a relação sexual quando houver a contaminação, e é claro, procurar um médico. Dentre as mais conhecidas temos: a gonorréia; a sífilis; o cancro mole; uretrites não gonocócicas; linfogranuloma venéreo; verrugas venéreas; herpes; candidíase.AIDS
Aids (em inglês) ou Sida (em português), quer dizer: Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida. Ela é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) , que entra na corrente sanguínea e, após um período de tempo, destrói o sistema imunológico do organismo. É uma doença ainda sem cura, que já faz parte do dia a dia de todos nós.
- Formas de contaminação da doença: relações sexuais; uso de agulhas e seringas contaminadas; por meio de feridas ou cortes em pele ou mucosas; pelo recebimento de sangue contaminado (a doação de sangue não traz risco algum).
- Formas de prevenção: usar camisinha (previne todas as DST); não fazer uso de drogas injetáveis; verificar se seringas e agulhas são descartáveis.
No que diz respeito à transfusão de sangue e seus produtos derivados, a transmissão sanguínea pelo HIV vem apresentando uma redução importante com o passar dos anos. Observa-se um número cada vez maior de pessoas que adquiriram o HIV por compartilhar agulhas e seringas com usuários de drogas injetáveis.
Educação física e sexualidade
O papel da Escola é abrir espaço para que a pluralidade de concepções, valores e crenças sobre a sexualidade possa se expressar. O trabalho de orientação sexual, compreende a ação da Escola como complementar à educação dada pela família. O professor, mesmo sem perceber, transmite valores com relação à sexualidade no seu trabalho cotidiano, inclusive na forma de responder ou não às questões mais simples trazidas pelos alunos. Afirma-se, portanto, a real necessidade do educador ter acesso à formação específica para tratar de sexualidade com crianças e jovens na escola, possibilitando a construção de uma postura profissional e consciente no trato desse tema.
A Educação Física pode se considerar uma disciplina privilegiada e bastante importante no Desenvolvimento Sexual de um "Ser". Tem a oportunidade de trabalhar ativamente com o corpo, o sentimento, a auto estima e o prazer que estão diretamente ligados à sexualidade.
Jogar, lutar e dançar pode representar a possibilidade de expressar afetos e sentimentos, de explicar desejos, de seduzir, de exibir-se.
Para o jovem e o adolescente, estas práticas da cultura corporal de movimento podem constituir-se num instrumento interessante de comunicação e construção de auto-imagem, mas podem também, se certos cuidados não forem tomados, constituir-se num contexto ameaçador e desfavorável para essa mesma auto-imagem. O ambiente sóciocultural, permeado de valores preestabelecidos de beleza, estética corporal e gestual, eficiência e desempenho, se não for objeto de uma postura crítica e reflexiva, pode estabelecer padrões cruéis para a maioria da população abrindo espaço para a tirania dos modelos de corpo e comportamento. O tamanho do corpo e seu arcabouço parecem afetar o desenvolvimento das habilidades motoras ( na segunda infância ). As crianças mais altas e corpulentas podem (ou não), se sair melhor nas atividades físicas que seus pares de menor tamanho. A sociedade acredita nisso e prefere o tipo físico "musculoso", isso reflete nas expectativas dos pais, que por sua vez reforçam essa preferência quando esperam que as crianças de "bom arcabouço" se saiam melhor em determinada atividade. As próprias crianças absorvem com facilidade essa atitude de seus pais, acabam por incorpora-la.
Outra questão presente no universo da cultura corporal de movimento e da sexualidade, diz respeito a configuração de padrões de gênero homem e mulher e sua relação com o corpo e a motricidade, padrões que se constroem e que são cultivados desde a infância, isso se reflete nas aulas , quando os meninos excluem as meninas das atividades.
A educação física pode favorecer situações que levem o educando a : identificar e expressar seus sentimentos e desejos, respeitando os sentimentos do outro; conhecer seu corpo, valorizar e cuidar de sua saúde; desenvolver uma consciência crítica e tomar decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade; reconhecer como determinações culturais as características socialmente atribuídas ao masculino e feminino, posicionando-se contra as discriminações a eles associadas.
Por ser uma disciplina que trabalha com o corpo nas suas mais variadas formas de movimento, tem uma forma especial de trabalhar a afetividade (tão importante à sexualidade); o emocional muda hábitos, atitudes, valores e crenças. A afetividade pressupõem: diálogo aberto; fraternidade; convivência com respeito; apoio mútuo; carinho; equilíbrio no sentimento; auto-estima. As atividades mistas podem dar oportunidades para que meninos e meninas convivam, observem-se, descubram-se, possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças, respeitem-se, promovam a integração e quebrem preconceitos.
Conclusão
Todo ser humano necessita desde a infância de uma orientação sexual, principalmente na adolescência, em vista da puberdade e da descoberta e interesse pelo outro.
Os pais têm papel fundamental quanto à orientação sexual de seus filhos, assim como a Escola não pode se omitir, deve procurar sempre esclarecer fatos e tirar dúvidas dos educandos. Os profissionais de educação física devem oportunizar situações que favoreçam ações reflexivas sobre a atuação da mídia quanto ao apelo à sexualidade, desmitificar questões de gênero e estar atento quanto à auto-estima de seus alunos. Será por meio do diálogo, da reflexão e da possibilidade de reconstruir informações, pautando-se sempre no respeito a si próprio e ao outro, que o jovem conseguirá transformar, ou reafirmar concepções e princípios, construindo significativamente seu próprio código de valores.
Com o acesso a informações sobre o funcionamento do seu corpo, prevenções contra as DST, gravidez indesejada e tantas outras dúvidas que possam vir a ter, diálogo aberto com pais e educadores (comprometidos com a Educação), nossos jovens estarão finalmente preparados para exercer; no momento certo, no lugar certo e com a pessoa certa, sua sexualidade com prazer e responsabilidade.
Obs. A autora, professora Leni Mércia Nachard, leciona na rede estadual (RJ) e cursa especialização em educação física na UFF
Referências bibliográficas
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