Resumo

Trata-se de um estudo causal comparativo com o objetivo de avaliar de que forma as gestantes vivem e percebem a sexualidade, à luz das Ciências do Movimento Humano. E, mais especificamente, mensurar a confiabilidade via teste e re-teste do Questionário de Sexualidade na Gestação (QSXG) e comparar as respostas de variáveis da sexualidade entre dois desenhos de estudo - longitudinal prospectivo e retrospectivo. Materiais e métodos: o QSXG foi aplicado de forma transversal e longitudinal. No estudo transversal 80 gestantes (20 do primeiro, 31 do segundo e 29 do terceiro trimestre), oriundas de 15 estados brasileiros, média de idade 27 (± 4,31) anos, responderam duas vezes o questionário num intervalo de uma semana. E no estudo longitudinal 14 gestantes de Florianópolis (SC), média de idade 28,1 (± 5,1) anos, responderam ao QSXG uma vez em cada trimestre da gestação (desenho prospectivo); onze destas responderam o questionário retrospectivo uma semana após a última resposta do prospectivo. Para avaliar a confiabilidade do instrumento e comparar os desenhos prospectivo e retrospectivo utilizaram-se os testes de correlação de Pearson e coeficiente Kappa; para comparar mulheres sedentárias e ativas o teste T independente; e para avaliar as alterações da sexualidade os testes ANOVA medidas repetidas, Friedman, Wilcoxon e Cohcran.s Q. Adotou-se um p<0,05. Resultados: (a) Estudo transversal: houve uma boa reprodutibilidade das medidas quantitativas (0,599 ≤r ≤1) e categóricas (0,499 ≤k ≤1) do QSXG no teste e re-teste. Apenas 30% das gestantes praticavam atividade física durante o período avaliado; as mulheres ativas fisicamente, em média, sentiam-se mais satisfeitas sexualmente (T=-2,1, p=0,04), consideravam o sexo mais importante (T=-2,4, p=0,018), gostavam mais da atividade sexual (T=-2,1, p=0,037) e tinham orgasmos com mais freqüência (T=-3,3, p=0,001) que as gestantes sedentárias. (b) Estudo longitudinal: observou-se uma diminuição, mais marcante nos primeiro e terceiro trimestres gestacionais, na freqüência ou intensidade das variáveis: freqüência sexual, práticas sexuais, posições sexuais, desejo sexual, excitação sexual, lubrificação vaginal, orgasmo, importância atribuída à atividade sexual e satisfação sexual. Do ponto de vista metodológico, houve um bom grau de concordância entre as respostas dos desenhos prospectivo e retrospectivo para a maioria dos itens quantitativos nos trimestres gestacionais; porém, para o período antes da gestação houve menos concordância. Criou-se uma versão do questionário com perguntas fidedignas para serem aplicadas num desenho retrospectivo. Conclusões: O QSXG que avalia os aspectos comportamentais, fisiológicos e simbólicos da sexualidade é um instrumento confiável em termos de teste e re-teste e capaz de mensurar as adaptações da sexualidade feminina na gestação. A relevância deste estudo vai além do campo teórico, pois discute também o próprio método utilizado para construir esse conhecimento. Sugere-se que as Ciências do Movimento Humano abordem o tema sexualidade em suas pesquisas, uma vez que este é um importante aspecto da saúde e, como demonstrado nesse estudo, relaciona-se com o movimento humano enquanto atividade física.