Integra

O início deste ano de 2008 tem sido pródigo em realização de concursos para preenchimentos de cargos nas mais variadas áreas de atuação profissional na administração pública. Isso porque a proximidade das eleições municipais traz um impedimento legal às suas realizações em um período de tempo anterior e posterior à consulta às urnas, além – é óbvio – ao da própria consulta, fazendo com que eles se concentrem nesses primeiros meses.

Até aí, nada demais. Acontece que movido pela pressa ou por convicção, vimos assistindo no campo da Educação, e nele, na Educação Física, verdadeiros absurdos. Fiquemos em três exemplos aqui de perto, no nosso Estado de São Paulo: Um, o realizado pela prefeitura de São Bernardo do Campo e os outros dois, por Piracicaba e Americana.

Quem acompanha, ainda que minimamente, a produção teórica no campo da Educação Física, reconhece o salto qualitativo alcançado por ela a partir dos anos 80 do século passado, quando sinaliza seu rompimento com o paradigma da aptidão física e aponta sua aproximação ao de natureza histórico-social.


De lá para cá, identificá-la como área acadêmica afeita aos estudos da cultura corporal, (constituída pelas práticas sociais esporte, jogo, dança, ginástica, dentre outras) e da educação física escolar (como componente curricular responsável pelo processo ensino-aprendizagem do fazer corporal aliado à compreensão de seu significado), configura-se uma constante dentre aqueles que têm na educação brasileira, referência de intervenção social.

Diante disso soa anacrônica a presença, nesses concursos, de questões voltadas para a avaliação da capacidade de memorização, dos candidatos, de assuntos irrelevantes, tais como o “peso de bolinhas de tênis de mesa”, ou da “circunferência e peso da bola de handebol” – duas das pelo menos onze (de um total de cinqüenta) questões deste tipo presentes na prova de São Bernardo. Ou acerca do ano e nacionalidade da “origem do basquetebol como modalidade esportiva” – presente na parte de conhecimentos específicos (!) do concurso de Piracicaba.

Se somarmos a isso as questões do tipo de cultura inútil, como as encontradas no processo seletivo de Piracicaba, rotuladas de Conhecimentos Gerais (p.ex.: Qual o nome do ator e diretor do filme ‘Gran Torino’ a chegar às nossas telas de cinema em dezembro próximo? Ou então Qual o nome do famoso (!) grupo musical dos anos 90 que recentemente iniciou uma turnê de reencontro, interrompida no mês passado por questões pessoais?), e se as associarmos aos erros grosseiros encontrados na prova de Americana, passível de questionamento por aqueles que se sentirem prejudicados, teremos revelado um quadro mais do que preocupante…

Além do anacronismo acima mencionado, fica explicitado na postura dos responsáveis pelos processos seletivos:

  • Um grotesco entendimento do conhecimento necessário de ser conhecido pelos profissionais da Educação para o exercício de sua profissão;
  • Um acinte ao conhecimento produzido na área da Educação Física; e
  • Um descaso por parte desses governantes para com os recursos públicos angariados através dos tributos pagos por todos nós, ao utilizá-los de forma irrefletida ou, pior, conscientemente comprometida com um entendimento vulgar acerca do processo educacional ao qual seus jovens munícipes estão e estarão submetidos.

Fica ainda, em relação ao tema dos recursos financeiros, um outro ponto a ser explorado, qual seja, aquele que identifica na realização de concursos públicos, uma forma indireta de captação de recursos por parte da administração municipal. Senão vejamos: Como explicar a realização de concurso público para preenchimento, no âmbito da Educação Física, de irrisórias 16 vagas (São Bernardo), de 8 (Piracicaba) e de 3 (Americana) que não a cobrança de taxa de inscrição dos candidatos?

Como explicar a diferença de taxa de inscrição na ordem de 300% entre municípios limítrofes, como o caso de Americana (R$16,00) e Piracicaba (R$50,00), cabendo ao município do ABC paulista a prática do menor preço (R$30,00) se considerarmos a relação preço de inscrição/vaga?

Assim, de posse de postura comprometida com o conceito de ação cidadã, conclamamos os responsáveis pelos governos dos municípios mencionados a tornarem públicas as respostas aos questionamentos aqui formulados.

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