Integra

Certa vez em uma aula na faculdade fui taxada como alguém que condenava a atividade física pelo fato de ter me posicionado de maneira crítica em relação ao discurso da “vida ativa”.

A discussão estava sendo feita a partir do livro “Exercício da Informação” de Alex Branco Fraga, cuja grandeza reside justamente na desconstrução das falácias existentes em tal discurso. Pois bem, o debate é necessário e muitas vezes tem desaparecido do espaço acadêmico. Por isso vejo muita riqueza no fato ocorrido.

Nesta semana ocorreu algo parecido. A capa da revista “Phorte” (edição de abril-setembro 2008, ano 11 n.23) com o título: “Resgatar o Movimento nas Escolas”, me chamou a atenção. Prontamente recolhi um exemplar e qual foi minha surpresa a encontrar na matéria (que ganhou a capa) a expressão: “A riqueza da aplicação de uma aula de Educação Física devidamente planejada e orientada por um professor de Educação Física é muito grande, e muitas vezes torna-se imperceptível para certas pessoas, que chegam a eleger o movimento corporal como ‘patinho feio’ da educação física”.

Imediatamente me questionei: a quem estão se referindo? Continuei na leitura a fim de encontrar a resposta. Ao me deparar com a preocupação que os motivou a escrever, comecei a entender: “(…) no momento o que nos traz muita preocupação é a obesidade infantil”. Em seguida apontam estatísticas e pesquisas que mostram a magnitude do problema.

Passei a ter uma “quase” certeza ao ler trechos como : “Não podemos ser ingênuos e acreditar que duas ou três aulas de educação física façam com que as crianças deixem de ser obesas. Contudo, essas aulas ajudarão no controle do peso e da obesidade. No entanto, o mais importante é que, como professores de educação física, podemos estimulá-los na prática da atividade física de modo que elas possam aderir em outros momentos de suas vidas”.

A certeza enfim chegou quando li que “A adoção de um estilo de vida saudável deve ser um dos principais objetivos do processo educativo das crianças, particularmente no que diz respeito à educação física e aos esportes, uma vez que resultados de recentes estudos demonstram claramente os efeitos negativos da alimentação inadequada e diminuição da prática da atividade física na infância”.

A certeza que passei a ter a respeito de quem seriam as “certas pessoas” que segundo os autores do artigo teriam a atividade física como “patinho feio” da educação física, advém do juízo (expresso no episódio da aula com o qual iniciei este texto) que alguns sujeitos têm a respeito de quem “observa” e age na educação física a partir de um viés que não concebe o fato de que questões como a obesidade infantil, a má alimentação, e por consequência a saúde, sejam discutidas de forma descolada da realidade social e histórica em que tais problemas surgem e se perpetuam. O que não significa que a prática corporal humana não tenha centralidade em sua abordagem. Muito pelo contrário! É por ela que lutamos!

Sim, é pelo movimento que lutamos com unhas e dentes, mas pelo “movimento humano”, dotado de sentidos e significados culturais.

O que não significa que não lutamos pela saúde! Sim, é por ela que lutamos também! Entretanto lutamos por uma saúde que não se limita à ausência de doença, tampouco naquela saúde preconizada desde muito tempo pelos higienistas, carregada de moralismos elitistas.

Espero estar errada. Espero que não sejamos nós estas “certas pessoas”. Caso contrário, para aqueles que não entenderam nosso modo de ser na educação física, sugiro algumas leituras da produção acadêmica da área no Brasil a partir dos anos oitenta do século passado e não apenas manuais de fisiologia, biologia…

Acessar