Resumo

O tempo livre, tema deste trabalho, é uma dimensão de forte significado na construção das vivências juvenis dos nossos dias. Através de uma pesquisa etnográfica, Tardes ao léu busca aproximar-se dessa esfera do cotidiano de alguns grupos de jovens de um bairro periférico do Recife (PE). As atividades observadas foram classificadas em três grandes categorias, a partir das experiências dominantes de cada grupo de práticas e com base na classificação elaborada por Norbert Elias e Eric Dunning (1996) – atividades rotineiras, disciplinadoras e recreativas/festivas. Estudando cada um desses grupos de práticas, foi possível ter acesso a algumas formas de ser jovem nas camadas pobres. Especial interesse mereceram as fronteiras simbólicas que amparam a identidade do grupo em questão (“gente certa” X “gente errada”), e como as fragmentações internas afetam o desenvolvimento das atividades no tempo livre. Igualmente, o estabelecimento de relações de amizade e de coleguismo foi objeto de discussão, buscando-se descobrir algumas lógicas de sociabilidade. Finalmente, foram estudadas as dinâmicas intergerações, focando-se as negociações no seio da família como também aquelas mediadas por agências juvenis (instituições disciplinadoras do tempo livre dos jovens). Desvendando essas dinâmicas, o tempo livre emerge como locus privilegiado de negociação de significados por vezes opostos, encruzilhada na qual vêm se encontrar as imagens contrapostas do hedonismo e do ascetismo no meio das quais os jovens precariamente se equilibram. Desta maneira, embora centrada num grupo social específico, a pesquisa pode suscitar um debate sobre questões que ultrapassam o universo proposto e que dizem respeito ao lugar da criatividade, da sociabilidade e do prazer nos mundos contemporâneos. 

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