Resumo

Em decorrência das transformações sociais recentes, que são causa e conseqüência da hegemonia neoliberal, vivemos um período extremamente restritivo para aqueles que objetivam a emancipação humana. A reestruturação produtiva, as transformações significativas nas classes sociais, as profundas metamorfoses da ambiência cultural, o avanço do neoliberalismo e o fim das experiências socialistas nos conduziram a um quadro societário absolutamente restritivo, do ponto de vista revolucionário. Em virtude desse quadro, a maior parte da humanidade tem vivido sem qualquer expectativa de uma existência plena de sentido. As alternativas político-teóricas ao capitalismo foram consideradas derrotadas e, segundo os conservadores de plantão, é chegado o fim da história. Como estamos, segundo tais analistas, submetidos a esta "metafísica do presente", resta-nos, apenas, o desfrute de prazeres hedonistas e consumistas. Assim, no lazer, temos a alternativa de sermos "livres para consumir". A alienação, o fetichismo de mercadoria e a reificação atingem formas e níveis nunca antes vistos. Serão verdadeiros os fundamentos dessa metafísica do presente? Estarão as realmente fracassadas as alternativas societárias ao capitalismo, especialmente as socialistas e comunistas? Foram, de fato, superadas as análises e projeções políticas formuladas por Marx? Há, ainda, possibilidades para um projeto emancipatório para a humanidade? Como fica, no quadro contemporâneo, a clássica equação marxiana "Emancipação Política e Emancipação Humana"? Por fim, como se situaria o lazer nessa equação? Quais são, efetivamente, as suas possibilidades emancipatórias? O estudo que apresentamos objetivou abordar esse conjunto de questões. Assim, por meio de uma investigação que se pôs sob o ponto de vista do materialismo históricodialético, analisamos o tempo presente e suas repercussões sobre o trabalho - a protoforma de toda práxis social (Lukács, 1979). Inicialmente, procuramos demonstrar o lugar central ocupado pelo trabalho na ontologia do ser social. Em seguida, analisamos sua (des) realização na ordem burguesa, já que se objetiva, quase que exclusivamente, como trabalho alienado. Tal alienação é acentuada com as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas e, assim, cresce ainda mais a (des) realização no/do trabalho. Assim, tanto na produção quanto na reprodução social os níveis de alienação crescem assustadoramente. Como conseqüência, a sociabilidade contemporânea é expressão contínua de desumanização. O lazer, na medida em que tem sua ocorrência no chamado "tempo livre", está totalmente vinculado ao quadro sinteticamente exposto. A superação desse quadro exige um projeto de emancipação humana - revolucionário - que perceba a emancipação política como um meio e não um fim em si próprio. As políticas sociais se inscrevem nesse processo de Emancipação Política e, dentro delas, o lazer. Nosso estudo, por fim, demonstrou que a luta emancipatória contemporânea supõe a luta pela manutenção e pela ampliação dos direitos sociais. A vitória em tal luta não representará, ainda, a emancipação humana. Essa só poderá ser obtida com a superação da ordem burguesa. Nesse processo de emancipação política, o lazer se apresenta em posição de destaque quanto ao seu potencial num processo revolucionário, pois, ontologicamente, está ligado tanto à produção quanto à reprodução das relações sociais.

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