Resumo

Buscamos interpretar criticamente, com base na hermenêutica de Paul Ricoeur, o discurso de um canal especializado da TV a cabo sobre o esporte, e apontar possíveis repercussões para a Educação Física. Foram gravadas em videocassete 107 horas de programação. Houve predominância de matérias dedicadas aos esportes radicais, seguindo-se o futebol. As mensagens caracterizam-se pela complexidade semiótica, entrelaçando os códigos imagético, sonoro e verbal, predominando as imagens. Tal fato, por um lado, ao exigir múltiplos sentidos perceptivos, abre amplas possibilidades de interpretação ao espectador, mas por outro torna mais difícil a determinação da relação do signo (o esporte enquanto imagem televisiva) com o que ele significa (o esporte enquanto tal), distanciando mais ainda a prática “real” do esporte de sua representação na TV. O discurso da TV a cabo assume tais características pelo desejo de levar a espetacularização às últimas conseqüências, tornando o esporte consumível enquanto imagem puramente televisiva. O predomínio dos esportes radicais pode ser interpretado, conforme Lévy (1996), como uma reação à virtualização dos corpos, fenômeno da nossa época, gerando uma dinâmica de atualização em esportes que concentram o esforço de ultrapassar limites, conquistar novos meios, intensificar as sensações. Práticas corporais alternativas, e atribuição de significados e valores divergentes da cultura esportiva dominante apareceram em algumas matérias, possibilitando uma visão mais contemporânea, às vezes crítica, da cultura corporal de movimento. Por fim, indaga-se sobre a possibilidade da Educação Física fornecer instrumentos para a interpretação crítica de um discurso assim constituído.