Integra

28-12-2012,

No passado dia 24 de dezembro o Sr. Secretário de Estado do Desporto e Juventude (SEDJ) deu uma entrevista ao jornal "A Bola" que merece ser refletida já que Alexandre Mestre veste a camisola do Olimpismo e, voluntariosamente, pretende superar demasiados anos de uma liderança incapaz no Comité Olímpico de Portugal (COP).

Entre os vários aspetos da entrevista conduzida por António Simões, ressalta o facto invulgar do COP estar ao serviço do Governo ao ponto de, no término de um Ciclo Olímpico, ser responsabilizado por não conseguir as medalhas almejadas. Ora, o COP não tem qualquer responsabilidade direta relativamente às políticas públicas desenvolvidas em Portugal. E se, indiretamente, tem, é porque nunca se deu ao trabalho de criar um think tank habilitado, entre outros aspetos, a produzir os argumentos capazes de obrigarem os Governos a darem ao desporto um destino de desenvolvimento para além dos interesses partidários da tutela. Até porque, das diversas leis de base do desporto já publicadas sempre ficou claro que o COP só tem competência para constituir, organizar e dirigir a Missão Olímpica. Não controla os programas de alto rendimento e, menos ainda, o desenvolvimento do desporto que os deve alimentar.

Então, como é que se podem pedir ao COP responsabilidades sobre um produto resultante de um processo que não controla?

É claro que Alexandre Mestre, pelo facto de apresentar um currículo apreciável no domínio do Olimpismo e por excesso de voluntarismo, está a ser levado a voltar a transformar a Secretaria de Estado numa espécie de CONI à portuguesa. Como ao tempo de Hermínio Loureiro que demonstrou ser um mestre na arte de marear quando, através de um bem elaborado protocolo, assumiu a liderança de uma espécie de CONI à portuguesa e pôs o presidente do COP a navegar de acordo com um azimute de cinco medalhas em Pequim. Se, por obra do Espírito Santo, tivessem sido conseguidas, o Governo embandeirava em arco. Como não foram, como se viu, o bode expiatório foi o Presidente do COP. E bem porque, "quem não quer ser lobo não lhe veste a pele". Em conclusão diremos que, se existe aspeto que, nos últimos quinze anos, caracterizou a vida do COP foi a derrota do pensamento.

Mas se, perante a liderança fraca e desorientada do COP, o estratagema de Hermínio Loureiro pode ter sido a solução, a partir do próximo mês de março, perante uma liderança forte e esclarecida, será certamente um problema.

O modelo CONI, como ainda há bem pouco tempo o Prof. João Boaventura me lembrava, representa uma perversão da liberdade do Movimento Olímpico que o Comité Olímpico Internacional nunca foi capaz de resolver.

Esperamos que tanto Alexandre Mestre como o próximo presidente do COP disso tenham consciência.

Um CONI à portuguesa? Não muito obrigado...

Nota: CONI - Comité Olímpico Nacional Italiano.

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