Resumo

No bojo do processo da gênese do olimpismo, um elemento chaves que surge na dinâmica do mesmo é a televisão. Um dos momentos quando esse elemento mais se explicita nos Jogos Olímpicos é justamente quando há a maior expressão dos valores do olimpismo e a maior demonstração simbólica da celebração do potencial do esporte: as cerimônias de abertura. Considera-se tal momento como integrante de um contexto social mais amplo, aqui denominado (de acordo com Bauman) de modernidade líquida, onde a forma é difícil de ser mantida e onde predominam a estética do consumo e a instantaneidade. Esta pesquisa também se ancora teoricamente nos estudos dos Jogos Olímpicos como “performances culturais”. De acordo com essa abordagem, o traço espetacular dos Jogos dá o seu caráter atrativo. Um dos meios de essa atração se concretizar é a imagem que se faz das cerimônias de abertura através das narrações televisivas, as quais são “construções” cuidadosamente criadas de um evento ao vivo, diferindo-se em sua apresentação e impacto na medida em que viajam pelo globo. Nesse contexto, é válido o estudo de uma narração televisiva brasileira contemporânea. Para tanto, coloca-se como questão principal do trabalho a seguinte pergunta: como uma rede brasileira de televisão (a Rede Globo) constrói, apresenta e traduz sentidos sobre valores no/do esporte e sobre valores olímpicos na transmissão da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008? Desse modo, objetiva-se: identificar os valores do esporte e do olimpismo (e seus possíveis deslocamentos de sentidos) que aparecem no discurso televisivo da Rede Globo durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008; compreender como os narradores/comentaristas brasileiros dessa rede de televisão constroem as narrativas sobre os valores do/no esporte e sobre os valores olímpicos no contexto da complexa oscilação social e esportiva em que vivemos hoje ao narrarem – através de um elemento cotidiano sintomático da citada complexidade (a televisão) – uma performance cultural não cotidiana. Metodologicamente, provem-se, aqui, do chamado “método qualitativo”. Os dados foram coletados a partir de fontes primárias. Tais fontes se inserem na pesquisa documental, que também é classificadora deste estudo. Compõe os dados um texto oral – a narração televisiva da cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim- 2008, o qual chama-se aqui de corpus de análise, sendo este constituído da fala de narradores, repórteres e comentaristas de uma emissora de televisão brasileira. Utilizam-se como técnicas principais de abordagem a Análise Crítica do Discurso e o paradigma indiciário. Na análise dos dados foi possível identificar que a maioria dos valores olímpicos e esportivos está de algum modo presente na narração televisiva da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. A maneira como tais valores são referidos não abrange uma exposição textual propositiva, isto é, são poucos os momentos da narração estudada quando os narradores separam uma ocasião discursiva para falarem específica e propositalmente sobre os valores olímpicos e esportivos. Além disso, os termos identificados na narração são mais ligados ao caráter espetacular dos Jogos, especialmente quando as falas advém dos profissionais da comunicação.

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