Um Problema e Duas épocas Confronto de Idéias e de Situações. Prefácio

Parte de Da Educação Física . páginas 9

Resumo

Quando apareceu este livro, em 1920, era ainda muito jovem e já contava com cinco anos de estudos sôbre educação física e de lutas pela sua organização e difusão no país. Essa campanha eu a iniciara com todo o calor dos meus vinte-e-um anos, em 1915, propondo e obtendo a criação de uma cadeira de educação física no Ginásio do Estado da capital de Minas e disputando-a em concurso corno prova pública da importância que atribuía a esta parte, tão menosprezada da educação geral. Referindo-se a esse ruidoso concurso, escreveu Lindolfo Azevedo em "O País", do Rio de Janeiro, um belo artigo que, depois de haver apreciado a tese que eu defendera, terminava ele com estas palavras: "A cadeira não lhe foi dada, mas o livro ficou". A presente obra, — uma reedição, refundida e ampliada, desse trabalho, mas já sob título mais amplo e mais adequado ao próprio conteúdo, fôra precedida de entrevistas e conferências com que inaugurara movimento de larga repercussão, e uma das quais "O Segredo de Maratona" (Estudo de atlética e eugenia) pronunciei em 1919, a convite da Associação Cristã de Moços, de São Paulo. Nessa época já distantes — e tão afastada de nós que a mim mesmo me parece, ao evocá-la, transportar-me a um mundo diferente, — a situação relativa à educação física e aos esportes assemelhava-se, sob vários aspectos, à da França na segunda metade do século passado. Pois, como lembra Marcel Boulenger, "em suas famosas notas sôbre a boa sociedade, "Vie et opinions de Frédéric Thomas Graindorge", publicadas pela "Vie Parisienne", por volta de 1864, Taine não diz palavra sôbre qualquer esporte: êle nos mostra seus jovens elegantes a fazer as unhas e a inventar castões de bengala, o que lhes bastava para ter algum apetite. Em 1867, o Conde de Gobineau descreve com espanto o trajo adotado pelos ingleses para jogar críquete: sente-se que ele os julga um pouco doidos.

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