Integra

   Justificativa


 A compreensão da situação atual da educação brasileira, sobretudo das classes populares, demonstra que há mais situações-limites pertubando o processo educativo que alegrias na prática pedagógica. Em parte - estas situações são geradas longe das agências, que tradicionalmente têem responsabilidades sociais mais evidentes com processo educativo- e têm sua origem no processo de crescimento econômico brasileiro, desinteressado em integrar milhares de pessoas ao sistema produtivo, desinteressado em comprender porque há tantas desigualdades sociais. No entanto, algumas destas instituições, como a Escola e os trabalhadores da   Educação também colaboram para este projeto das elites econômicas de exclusão. A evasão escolar é um dos sintomas desta situação histórico-social, mas como superá-las? Ou melhor por que tais fenômenos acontecem? Talvez as respostas estejam apenas começando a serem esboçadas por educadores e pesquisadores, num imenso universo desconhecido... Mas uma questão em particular desponta em meio tantas outras : o corpo no espaço cultural. questão esta que vai deste da postura do professor à repressão contudente das expressões corporais populares.


 Há na sociedade capitalista a ideologia que o trabalho manual é inferior ao trabalho intelectual, como que um controle das massas trabalhadores, no sentido de justificar os baixos salários destas, que em sua maioria tem na relação com seu trabalho, um momento criador de humanidade, do fazer-refazer humano. Quase como restaurador das relações opressoras e humilhantes que as classes trabalhadores são submetidas a todo instante. Quase porque é um momento também construtor de relação de opressão, quando da apropriação da mais valia, do lucro do capital. Assim é com a relação pedagógica com o corpo.


 O corpo é portador emérito das necessidades mais primárias, um verdadeiro dimensionador da realidade animal/humana; se contrapondo ao cultural, no sentido equivocado da palavra, o corpo e suas expressões são referências a uma realidade a ser disciplinada e hegienizada pela cultura e seus agentes mais "obidientes". O padrão é o comportamento o mais possível controlado, longe da possibilidade de criar (recriar) problemas. Neste contexto, quem trabalha, ou, supostamente, tem como fim as atividades corporais é também um desacreditado no seu saber-fazer. A Educação Física é uma destas possibilidades de trabalho pedagógico, que de maneira geral, pode ser taxada de pseudo-científica.


 Dentro desta lógica, a compreensão da problemática do corpo, da educação para e pelo movimento lúdico são elementos deficifradores de um enigmático roteiro, onde a "seriedade" das ciências e suas metodologias "infalíveis" são as estações principais. Como Retornar (1996) nos diz quando afirma que a "ludicidade é o riso no e do mundo ‘sério’. " (Pag. 8) O mundo da cientificidade inaugurado com a crítica de Copérnico ao modelo aristotélico-ptolomaica, e com a separação definitiva do sujeito do conhecimento do objeto cognescente, do cogito pensante e da extensão material: do cartesianismo (MOURA, 1997).


 Numa tentativa de dimensionar a problemática educacional relacionando-a à Educação Física e mais, especificamente, a recreação, que apartir de um trabalho desenvolvido na disciplina Recreação e Lazer, nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física e Desportos na Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro que se constituiu um GRUPO DE TRABALHO, tendo como principal objetivo contribuir para a busca de soluções para esta leitura fragmentada do homem e da realidade social. Neste sentido, o caminho principal de desenvolvimento do nosso trabalho é na direção de estabelecer dinâmicas teórico/práticas que desconstrua uma vertente, ainda, dominante em Educação Física: a pedagogia do consenso.


 A pedagogia do consenso tem como principal elemento articulador a subserviência, a disciplina enquanto fonte de harmonia. Em contraposição, nós trabalhamos na perspectiva da pedagogia do conflito. Tal perspectiva não diz respeito ao desarmonioso, culto aos caos, mas no caos e pelo caos construir o harmonioso; na diferença e pela diferença construir a igualdade. Igualdade que se relaciona a companheiros dialogando para a descoberta de novas relações sociais. Relações que privilegiem a solidadariedade, o respeito ao direito à diferença e, sobretudo, a formação do sujeito social comprometido com a luta por transformações sociais radicais, no direção da superação dessa estrutura opressora e desumanizadora da sociedade capitalista.


 O nosso projeto de ludicidade parte de uma visão holística, totalizadora do real, porque para
"compreender o homem como um todo é perceber que o mesmo só tem fundamento quando descobre a importância de seu valor subjetivo (emoções, espírito, etc.) e objetivo (criar, construir, elaborar etc.), no que se refere do grupo, para construir juntos uma tarefa, fragmentar o homem é se distanciar do seu próprio ser". (Costa & Vasconcellos, 1997)


 É um projeto de utopias que procura trabalhar na concretrude refutando as ideologias determinista que, necessariamente, estão presente no jogo e na busca, que neste espaço simbólico se espande, da liberdade, do prazer e do espontâneo, num intenso conflito entre contraditórios. Como se fosse possível uma prática livre em meio a uma realidade social de negação da liberdade, mas sim um
"movimento de inclusão de contrários - que tende numa direção num determinados momentos e em outros volta-se para outra direção - situado ao mesmo tempo na multiplicidade e na unicidade que lhe são inerentes." (Retondar, 1997:7)


 Retomando para si não a tarefa de compensar as mazelas da vida cotidiana, neste sentido não concordamos com as interpretações funcionalistas das atividades recreativas, pelo contrário, enquanto busca orgânica de superação de toda em qualquer situação e/ou relação de opressão. Portanto, nosso trabalho se identifica com as forças progressista da nova ciência da educação e também com a postura da Educação Física Popular (Ghiraldelli, 1994) que vem se constituindo numa força solidária as revindicações mais legítimas de melhoria da qualidade de vida das classes trabalhadoras. Estabelecendo uma dinâmica de trabalhar com o diferente, com direito à diferença. na afirmação do particular contextualizado no geral, não enquanto concepção ingênua de que o jogo ou as atidades lúdicas possam mudar o mundo (Retondar, 1997), mas pela sensibilização que jogar traz enquanto atividade intestinal e eminentemente humanizadora (posto que é contraditória), que "na medida quem joga também é jogado pelo próprio movimento do jogo". (idem)


  Metodologia


 A partir de uma sistemática desenvolvida, em anos anteriores pelo professores da disciplina Recreação e Lazer, onde o construção de jogos e atividades recreativas de maneira geral têm seu ponto inicial da leitura e interpretação de texto básicos do temário proposto aos alunos dessa disciplina. Sendo que duas referências principais norteiam e , até mesmo, sintetizam todos as demais discussões estabelecidas durante aplicação do conteúdo programático: os livros Ponto de mutação e Sentir, pensar e agir. (citados na bibliografia)


 No segundo momento, estas atividades - em sua maioria filmada e registrada formalmente num trabalho apresentado em seminários - são reelaboradas e acrescida de novas críticas, novas interpretações, agora com leituras mais metódicas dos textos que lhe deram origem, assim como, por leituras novas, como por exemplo Movimento Lúdico do Prof., Jeferson Retondar. Na atual etapa do trabalho, o grupo vem delimitando alguns aspectos que serão privilegiados, e em interação com o trabalho elaborado juntos às práticas desenvolvidas nas aulas, estabelecer um processo de elaboraçãio mais exigente e específico.

Quando afirmando a especificidade do trabalho não queremos sufocá-lo, mas pelo contrário estabelecer metodologia e atuação articulada no sentido de produzir conhecimento de modo mais adequado área de educação, da educação física e da recreação. Dentre os focos escolhidos para melhor embasar no estudo a relação com a diversidade e particular a diversidade cultural, numa busca de convivência democrática. Democracia que não se sustenta sem a diálogo com visões-de-nundo diferenciadas, que perpassa pela questão das diversas etnias que constiuem a chamada cultura brasileira. Nossos pressupostos estão sintonizados com as discussões estabelecidas nos movimentos sociais revidicatórios das ditas "minorias" e se solidarioza integralmente na luta pelo convívio dos contrários. Neste particular, o papel da cultura popular e de atividades, que tradicionalmente são vista como subproduto cultural, como as brincadeiras de roda, representa o universo possível de ser trabalhada com um elemento de diferenciador das habituais. Não se trata de negar a cultura de massa, mas de estimular com que se tenha uma outra leitura diferente de um mesmo problema ou aspecto da vida cotidiana.


 A partir de uma leitura multicultural (visão totalizante das diferenças culturais), o grupo estabeleceu como prioridade a compreensão do processo de auto-estima. Usando como paradigma primeiro a relação do jogo com o estimulação pessoal na construção da identidade social (Sá, 1997). A valorização da autoexpressão, da capacidade de participação individual na construção da história do grupo está relacionada ao papel do lúdico e do movimento neste mesmo grupo de pessoas e sua relação os demais que as circundam. Como exemplo concreto, apresentamos um dos casos está em estudo no GRUPO DE TRABALHO.


 A aluna Inglyd da Silva Sá, que está no quarto período, se encontra ministrando aulas de natação na função de monitora, como contribuição para sua vida acadêmica. Sua turma corresponde as pessoas que se encontram no estágio de complexidade motora, para o aprendizagem dos estilos de nado, que exigem maiores cuidados por parte do professor. Por causa deste fato, há um sentimento de inferioridade em relação aos demais grupos que fazem aulas no mesmo local e hora. A partir dessa situação, o GRUPO DE TRABALHO está formulando uma série de atividades que correspondesse a expectativa tanto de Inglyd e sua turma.

Referências Bibliográficas

Cosra, Fabiana F. da e VASCONCELLOS, Cláudia de. Seminário apresentado na disciplina Recreação e Lazer no Bacharelado em Educação Física e desportos, EEFD-UFRJ, julho de 1997.
Capra, Frijot . O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.
Ghiraldelli  Paulo. Educação Física Progressista: a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos e a Educação Física Brasileira. São Paulo: Ed. Loyola, 1994.
Gonçalves, Maria Augusta S. Sentir, pensar e agir: corporeidade e educação. Campinas: Papirus, 1994.
Moura, Helio Eduardo S. de. A incoporação da Capoeira no currículo das Escolas de Educação Física no Estado Rio de Janeiro. (Monografia de Especialização "Raça, etnias e Educação no Brasil" Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1996.
Retondar , Jeferson J. M. Movimento lúdico. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Santa Catarina, 18 ( 1 ): 6-9, Set. 1996.
SÁ, Inglyd da Silva. Relatório de atividade recreativa da monitoria de natação, EEFD-UFRJ, 1997.