Resumo

Esta dissertação teve como objetivo empreender uma comparação entre o desenvolvimento histórico de duas modalidades de esportes na natureza – a saber, o surfe e o montanhismo – e a evolução urbanística da cidade do Rio de Janeiro. A idéia central é que uma comparação entre diferentes aspectos da constituição de uma cidade, tais como são sua geografia e seus esportes, pode nos conduzir a um ponto privilegiado de observação do fenômeno urbano. A cidade, nesse caso, é compreendida para além do espaço meramente físico sem, contudo, desconsiderá-lo. Sua definição, nesses termos, tende a compreender, além da sua própria materialidade, formas de uso e de apropriação, bem como o processo de produção de estilos de vida. Articulações dessa ordem nos permitem construir alguns nexos explicativos mais gerais. Em outras palavras, o olhar simultâneo para a cidade e suas práticas, traz à tona algumas aproximações simbólicas entre essas duas esferas sociais. Tais aproximações ou afinidades, dizem respeito a alguns aspectos macrosociológicos do período a que se refere este estudo, nomeadamente, as décadas de 1960 e 1970. Nota-se, por exemplo, a predominância de um recorte de classe muito particular. De acordo com as transformações político-econômicas daquela época, cujo resultado foi a concentração de renda e o fortalecimento das classes médias, vê-se a cidade se desenvolver em função dos desejos desse estrato. No esporte, do mesmo modo, aparecem novos simbolismos capazes de de pôr em prática essa nova estrutura de necessidades, marcadas pelo desejo de exibição de um novo-riquismo. Do mesmo modo, vê-se tanto a cidade quanto o esporte expressando uma crescente valorização pelo novo, pelo tecnologicamente mais avançado. Ter-se-a ainda uma certa inclinação a incorporação de padrões de socialidade tipicamente norteamericanos. A exemplo das outras afinidades, trata-se de algo que vai se manifetar tanto na cidade quanto nos esportes. No primeiro, através de planificações urbanas funcionalistas que privilegiam o uso do automóvel, as vias expressas, um certo isolamento e a presença de áreas verdes, bem ao estilo dos subúrbios estadunidense. No segundo, com novos esportes, como o surfe. Quarta aproximação pode-se notar na exaltação de uma nova sensibilidade ecológica, que induz a criação de bairros sob matrizes urbanísticas comprometidas com a preservação, tal como a Barra da Tijuca, ou a prática de esportes que acontecem em ambientes naturais, tais como surfe e montanhismo. Por último, a articulação desses elementos que, juntos, se tornarão sinônimo de modernidade e sofisticação dos costumes. As fontes para essa pesquisa foram jornais e revistas da época e, no caso dos esportes, entrevistas com esportistas envolvidos com tais práticas àquela época e documentos dos clubes de montanhismo. PALAVRAS-CHAVE: esportes na natureza; cid

Acessar Arquivo