Resumo

: bombeiros militares estão expostos a riscos ocupacionais durante combate a incêndio ou em simulações dessa atividade, denominado de Exercício de Fogo Real (EFR). Tais riscos podem levar a um aumento da temperatura corporal, desidratação e redução do seu desempenho. Postula-se que um aumento na temperatura corporal e/ou desidratação pode favorecer um estado de hiperamonemia e desencadear fadiga central e danos cognitivos-motores. O uso da pasta de gelo parece ser uma forma de intervenção para atenuar o aumento da temperatura corporal e, consequentemente, a hiperamonemia, além de melhorar o desempenho cognitivo-motor em exercícios físicos no calor. No entanto, não há nenhuma informação na literatura sobre esse assunto. Objetivo: verificar o impacto do uso da pasta de gelo sobre a amonemia e desempenho cognitivo-motor de bombeiros militares submetidos a EFR. Materiais e métodos: participaram do estudo vinte e quatro bombeiros, do sexo masculino, treinados em EFR. Os participantes foram divididos em dois grupos de doze bombeiros cada: com pasta (CP) e sem pasta (SP). O CP ingeriu 7,5 g.kg-1 de pasta de gelo de água, enquanto o SP ingeriu 7,5 mL.kg-1 de água natural, imediatamente antes do EFR. Antes (Pré) e após (Pós) o EFR, os bombeiros foram submetidos a coletas sanguíneas para avaliações metabólicas (Amônia, ureia, urato e glicose), de hidratação (Osmolaridade plasmática), e de temperatura superficial corporal (TSC), por termografia. Testes para avaliação do desempenho cognitivo-motor (memória imediata e tempo de reação simples), também foram realizados. ANOVA 2 x 2 com medidas repetidas foi usada para comparação entre os grupos. Diferenças significativas (P < 0,05) foram confirmadas através do teste post hoc de Bonferroni, usando SigmaStat versão 14.0. Resultados: a TSC foi maior no grupo SP (Pré, 35,3 ± 0,8 °C vs Pós, 36,8 ± 0,9 °C; P = 0,005) do que no CP (Pré, 36,0 ± 0,7 °C vs Pós, 37,2 ± 0,6 °C). O mesmo ocorreu para a osmolaridade plasmática (SP Pré, 289,2 ± 5,3 mOsm/L vs SP Pós, 295,3 ± 4,3 mOsm/L, P = 0,047; CP Pré, 294,4 ± 2,8 mOsm/L vs CP Pós, 289,5 ± 4,4 mOsm/L). Houve aumento da amonemia no grupo SP (Pré, 30,40 ± 13,98 µmol/L vs Pós, 53,71 ± 15,27 µmol/L, P = 0,007), mas não no CP (Pré, 36,57 ± 21,70 µmol/L vs Pós, 49,42 ± 15,46 µmol/L). A uremia foi menor no grupo CP, mas não no SP. Não houve mudança na glicemia e uricemia. Também não foram observadas alterações nos testes cognitivos-motores entre os grupos. Conclusão: os dados sugerem que o uso da pasta de gelo com água, é capaz de reduzir amonemia, retardar o aumento da uremia, mas não melhora o desempenho cognitivo-motor em bombeiros após EFR.