Resumo

Este estudo, de natureza qualitativa, tem por objetivo analisar, à luz da teoria galtuniana, os discursos de membros de torcidas organizadas acerca das violências no futebol brasileiro. O estudo alia a pesquisa bibliográfica à pesquisa exploratória, utilizando entrevistas semi-estruturadas como instrumento para a produção de dados. O corpus do estudo é composto por 22 torcedores organizados, sendo 9 membros da Torcida Independente, 9 da Torcida Dragões da Real e 4 membros da Torcida Falange Tricolor. A discrepância no número de participantes se justifica devido ao encerramento das atividades da torcida organizada Falange Tricolor, no início do ano de 2014. Os dados provenientes das entrevistas foram analisados segundo a Análise do Discurso de linha francesa. A análise discursiva, inicialmente, investigou as cadeias parafrásticas e apontou que, nas entrevistas realizadas com os 22 participantes, foram produzidos 156 sentidos de violência. A partir da aglutinação destes 156 sentidos, foram identificados 4 principais discursos acerca da violência no futebol brasileiro – D(1), D(2), D(3) e D(4). O primeiro discurso sobre a violência - D(1)- contempla a agressão, subdividindo-se em física e simbólica. O D(2) contempla a falta de infraestrutura física e serviços dentro dos estádios. O terceiro discurso - D(3) - abarca a má gestão e organização do futebol e o D(4), a ineficiência de serviços públicos. No cotejamento dos 4 discursos produzidos com o conceito galtuniano de violência, em linhas gerais, tem-se que: o D(1) seria equivalente à violência direta, já os D(2), D(3) e D(4), seriam equivalentes à violência estrutural. As torcidas organizadas se aproximam dos referenciais de violência e paz, por meio de distintas práticas e representações, no que se refere à violência aponta-se: o protagonismo em episódios de violência direta, a autoafirmação e legitimação por meio desta, a intolerância (distanciamento de grupos rivais), a inexistência de uma entidade representativa. Já no referente à paz aponta-se: o protagonismo na oposição à violência estrutural, a promoção e participação em campanhas de prevenção e a realização de ações sociais. Por fim, estimula-se a realização de novas investigações que utilizem o referencial galtuniano no cenário do futebol. 

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