Pessoal, o administrador da comunidade Esportes de Aventura do CEV, e diretor da USP deu uma entrevista imperdível ao jornal Tribuna do Planalto. Quem não ler pergiga morrer com a boca pedagogicamente atrasada cheia de formiga. Laercio

  
19 de Fevereiro de 2010
Ricardo Ricci Uvinha
Alessandro Copetti

Professor livre-docente do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP), Ricardo Ricci Uvinha é um dos defensores do sistema de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP).  Método de ensino originariamente surgido no Canadá e que vem tomando força e sendo aplicado em várias instituições de ensino do mundo. Entre elas, a USP e demais instituições de ensino federais, conforme ele.

De acordo com o professor, em função do método consistir na proposição de situações problemas a serem resolvidos, a prática age diretamente no fortalecimento do conhecimento interdisciplinar e no senso crítico dos alunos. “Ao levar os alunos a lidarem com problemas e procurar solucioná-los, eles são levados a compreender de que forma aprendem determinado conceito e utilizam determinada competência, conduzindo-os a uma reflexão sobre o seu papel no mundo e potencializando sua atuação no mercado profissional temático”, pontua.

Nesta entrevista, o professor aborda os principais pontos da PBL (em inglês), como o seu diferencial em relação aos métodos convencionais de ensino. Também fala que o sistema não representa um modismo para a Educação brasileira, mas sim uma outra eficiente ferramenta de ensino.

Em linhas gerais, o que é a ABP/PBL?
O método Problem-based Learning, como conhecido em seus parâmetros atuais, remete ao Canadá na década de 1950, especificamente no ensino na área da Saúde na McMaster University, que até os dias atuais tem em seus quadros curriculares a presença marcante do mesmo. Apesar da sua relação original com a Medicina, desde então reconhece-se sua ligação com diversas áreas de conhecimento, não necessariamente relacionadas à Saúde, tais como Administração, Arquitetura, Ciências Ambientais, Ciências da Computação, Ciências Sociais, Economia, Educação Física, Engenharias, Matemática/Estatística, Turismo, entre outras. Além do Canadá,  o PBL vem sendo aplicado em diversos países no mundo como a África do Sul, Estados Unidos, Finlândia, Peru, Suécia, Suíça, entre outros.

E quanto ao cenário brasileiro?
No Brasil, vemos um quadro crescente de implantação em diversas universidades, sobretudo federais. No caso da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, o PBL foi parcialmente incluído no currículo dos dez cursos de graduação da unidade como método-base das disciplinas intituladas Resolução de Problemas 1 e 2, o que em si já resultou no desenvolvimento de uma série de trabalhos produzidos pelos alunos desde sua implantação em 2005. Ao longo dos anos, o processo de reestruturação curricular dos cursos da EACH/USP vem permitindo a inclusão do PBL em outras disciplinas, em distintos semestres e atrelados às mais variadas temáticas profissionais. A operacionalização do PBL consiste geralmente na resolução de um problema, em sua maioria factual, que serve como relevante estímulo na busca de instrumental para encontrar conhecimento apropriado no sentido de entender como o problema foi gerado e de que forma pode ser solucionado. Daí também o porquê desse método ter encontrado ressonância direta na área da Medicina, já que a análise de intrigantes casos apresentados por pacientes auxiliou o alunado a criar uma conjuntura de entendimento e resolução de um problema real ou hipoteticamente apresentado.

O que esse método oferece de diferencial para a formação de estudantes, se comparado às formas tradicionais de ensino?

É proposto no PBL uma alternativa ao ensino convencional em Lecture-based Learning (LBL), em que comumente se tem salas com um grande grupo de alunos e em que a aula é fundada no aprendizado de conteúdos previamente estabelecidos pela instituição de ensino e/ou professor da turma. Em outras palavras, enquanto nos métodos mais convencionais se tem como propósito a transmissão do conhecimento centrada no professor em seus aspectos disciplinares, no PBL o conhecimento é  construído a partir do protagonismo do aluno sob a lógica de uma formação interdisciplinar. Os dados em geral permitem considerar o PBL como um notório método de ensino, já que se consolida como poderosa ferramenta em prol da mobilização do grupo de alunos, seja na relação crítica com o mercado de trabalho temático, seja no estímulo para a reflexão sobre cidadania e conectividade com a comunidade local e com a complexidade da sociedade mais ampla.

Para trabalhar com essa organização os professores precisam de uma formação  diferenciada?

Para o professor, o PBL geralmente se coloca como um grande desafio, pois a maior parte dos docentes que é levada à experiência-lo em sala de aula não teve uma formação em tal método. É pertinente salientar que o professor atua como um “facilitador” das discussões, utilizando sua formação acadêmica para auxiliar o andamento das atividades com os alunos e constantemente avaliando elementos no interior do grupo, como a cooperação, o envolvimento e a motivação. No entanto, o papel do professor nesse contexto está longe de ser passivo, visto que sua atuação se mostra fundamental no sentido de mediar as discussões e auxiliar o grupo a manter uma estrutura de foco no problema e determinação em sua resolução. Assim, espera-se do docente um estímulo para o grupo de alunos no sentido de se aproximar com o contexto do problema e promover o aprendizado pelas seguidas tentativas de resolvê-lo. Importante ressaltar que o “processo” de entendimento e discussão de um problema geralmente se mostra mais relevante até mesmo que o “produto” por ele a ser gerado. Ou seja, a resolução do mesmo é algo de fato esperado, porém, entendido como possível consequência de todo o debate realizado no grupo de alunos. Quanto às instituições de ensino, é fundamental que haja específica formação sobre as principais características do método para todo o staff, incluindo aí também o corpo administrativo.

E a estrutura física das escolas?
Nesse sentido, deve-se prover mobiliário e equipamentos próprios que permitam trabalhos, discussões em grupos informais, além da possível mobilização de espaços fora da sala de aula, como pesquisa na biblioteca, em livrarias e museus, na comunidade e em conjunto com o setor público. Assim, o aluno deve se sentir motivado a encontrar material de apoio seja no interior da instituição (laboratórios, biblioteca, sala de consulta virtual), seja no ambiente externo à mesma como a possível visita in loco a grupos diversos nas comunidades.

Se esse método for aplicado no ensino básico do País, alguns professores  poderão argumentar que isso é mais um daqueles modismos importados para o nosso sistema educacional. Como o senhor avalia isso?

O método PBL vem sendo entendido como uma ferramenta de inovação no Ensino Superior. No entanto, defendo que não se trata simplesmente de aplicar “modelos importados” de realidades sócio-econômicas no contexto educacional brasileiro, até porque uma série de adaptações são fundamentais para que o PBL se torne exequível. Vejo que a identificação, e possível resolução, dos mais distintos problemas encontrados na diversidade cultural da vida cotidiana do Brasil requerem um árduo e colaborativo trabalho que podem motivar ainda mais a atuação conjunta de alunos e professores envoltos em tal método. Acredito, dessa forma, que a possibilidade das escolas trabalharem nessa nova lógica de organização tende a crescer, mesmo com as intempéries financeiras, logísticas, de formação continuada do staff, entre outras, que podem se apresentar. Ao levar os alunos a lidar com problemas e procurar solucioná-los, defendo que estes são levados a compreender de que forma aprendem determinado conceito e/ou utilizam determinada competência, conduzindo-os a uma reflexão sobre o seu papel no mundo e potencializando sua atuação no mercado profissional temático. Com a vivência em tal método, se espera do aluno o debate crítico em torno da resolução de um problema, auxiliando na criação de um ambiente de respeito ao professor e aos seus colegas no grupo.

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