Cevnautas, esta é do serviço de divulgação Ciência Hoje, de Portugal. Tem uma entrada no final para quem quiser acompanhar a reportagem completa e as fotos. Laércio

“Fomos feitos para cantar e dançar”
«Música de Colo» desenvolve linguagem comum entre adultos e crianças
2011-10-10 Por Susana Lage (texto e fotos)

A música é uma arte que pode ser abordada de forma científica para avançar no conhecimento. Sobre o quê? Sobre a construção da comunicação, por exemplo.

Este é um dos objectivos da «Música de Colo», uma actividade do Laboratório de Música e Comunicação para a Infância (LAMCI), em Lisboa.

Vários estudos têm demonstrado que é na primeira infância que se aprende mais e melhor. Desenvolver a aprendizagem musical numa criança ajuda-a, segundo alguns investigadores, a expressar-se consigo própria e com os que a rodeiam. Para perceber mais sobre este assunto, o Ciência Hoje passou a manhã de sábado numa sala com bebés, pais, dois professores de música e uma especialista em psicologia e pedagogia musical.

Na «Música de Colo», o objectivo é "proporcionar à criança momentos ricos da cultura musical envolvente”, afirma Helena Rodrigues, directora do LAMCI. No entanto, para a psicóloga, “as questões que se colocam neste ambiente são importantes para o plano de investigação”.

Cientificamente, esta é uma actividade que pode criar esclarecimento em relação a muitos fenómenos psicológicos registados em crianças. “Para nós sabermos como é que podemos melhorar o trabalho que fazemos é importante termos alguns mecanismos de compreensão do que é que está a acontecer”, esclarece a responsável.

Mais acrescenta: “Ainda estamos na pré-história de sabermos, por exemplo, porque é que existem crianças com perturbação da relação e da comunicação no grupo, mas talvez até podemos detectar isto precocemente pois sabemos que a música pode ajudar, de forma geral, as crianças com esses problemas”.

Para além de levantar questões que possam vir a ser objecto de estudo, a «Música de Colo» “é uma grande ajuda em termos de formação pois os alunos que estudam pedagogia podem vir assistir ou até participar nas sessões”, sublinha.

A forma como uma criança reage quando é exposta à música é uma das questões que Helena Rodrigues procura responder. Mas também lhe interessa “perceber melhor os mecanismos, em termos científicos, da construção da comunicação, da relação com a linguagem”.

Segundo a investigadora, a psicologia tem muita informação sobre a aquisição da linguagem e das competências sociais mas “a competência musical é praticamente ignorada nos manuais de psicologia”. Há estudos sobre o desenvolvimento musical mas estes “não constam dos tratados de pediatria”. Talvez não seja por acaso que as crianças pré-verbais reagem de maneira participativa nas actividades musicais. “Se calhar esta competência musical é estruturante em relação a outras”, propõe.

Compensação social

Na sociedade de hoje “faltam oportunidades das pessoas estarem juntas com os seus bebés e de partilharem mais a parentalidade”, refere Helena Rodrigues. Enquanto os adultos passam maior parte do dia no trabalho, as crianças são deixadas nas creches. Ao fim do dia pouco tempo resta para mais do que cuidar da higiene dos filhos, alimentá-los e pô-los a dormir.

Estas sessões da «Música de Colo» são um pouco “uma compensação social” pois é uma “oportunidade que as pessoas têm para estarem relaxadas com os filhos e com outros pais”, afirma a psicóloga.

Aqui, de facto, a oportunidade é aproveitada. Durante a sessão de 45 minutos, os pais cantaram e dançaram activamente. “Fomos feitos para cantar e dançar e, por isso, acho que os pais retiram muito prazer destas sessões”, afirma Helena Rodrigues.

Dora (mãe) e Ema (filha) Batalim frequentam estas sessões desde o final do ano passado. Segundo a mãe, professora Literatura Infantil, a iniciativa representa o acesso a “uma linguagem muito próxima da linguagem essencial” da filha. “Antes do texto escrito e verbal, privilegiei sempre a musicalidade. Acredito que o desenvolvimento enquanto pessoa começa a partir da musicalidade dos sons”, afirma.

Com as sessões, Dora Batalim nota que a filha de um ano “começou a dançar muito ritmicamente” apesar de ainda não andar. Uma vez que inclui os pais, a experiência está a “criar uma linguagem comum” entre a mãe, a filha e o pai, que normalmente também participa. “Mesmo antes de ela saber falar, nós já sabemos falar com ela e falamos todos a mesma linguagem que é esta rítmica, sonora e cheia de afecto”, explica Dora Batalim.

Uma das coisas que mais agrada a esta mãe é “a participação generosa dos pais” que “cria um sentido de comunidade”.

Fonte: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=51324&op=all

Comentários

Por Thiago Luiz de Araujo
em 10 de Novembro de 2011 às 23:10.

O primeiro contato da criança com o mundo, quando ainda no útero da mãe, é através do corpo da mãe e dos sons externos. Uma criança na fase pré-verbal se comunica através dos movimentos corporais e dos sons que escuta e que emite como balbucios e o choro. 

A música nessa fase pode ser um elemento colaborador importante no desenvolvimento verbal e motor da criança. De acordo com pesquisas científicas e experiências de pais e educadores, que relatam suas observações de como um bebê reage aos estímulos musicais, comprovam que a música e a dança ajudam a desenvolver a expressividade e a coordenação das crianças.

Quando a atividade é realizada com a participação dos pais, como na experiência do texto, a afetividade, o reconhecimento familiar, a aquisição de um lugar de pertencimento e socialização são aspectos também desenvolvidos e, fundamentais para o ser humano.

Sendo assim, o uso de música e dança em atividades na primeira infância pode enriquecer e contribuir com resultados positivos e enriquecedores na introdução da prática de atividades físicas pelas crianças, e o incentivo e envolvimento de seus pais.


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