Cevnautas,

    Como homenagem ao Vitor Marinho segue o prefácio que o Lino Castellani Filho para a edição mais recente (2011) do "O que é Educação Física". Laércio

PREFÁCIO

Vitor Marinho ao me convidar para prefaciar este seu livro, além de me honrar com o convite concedeu a mim oportunidade ímpar de refletir sobre uma época que quanto mais dela nos distanciamos no tempo mais elementos passamos a ter para aferir sua importância no devir de uma educação física respaldada em preceitos da teoria crítica.

Estou a me referir ao final da década de 70 e primeira metade da de 80 do século passado, momento em que a sociedade brasileira fazia pulsar seu desejo pela redemocratização de nosso país, exigindo – a partir de sua organização em movimentos políticos de índole social, popular e partidário – que a tomada de decisão sobre o destino de cada um de nós, brasileiros e brasileiras, usurpada desde 1964 pelos militares, nos fosse devolvida.

Éramos então jovens encharcados pela utopia de um mundo melhor e, mesmo sem o sabermos ao certo, já impregnados pela compreensão da necessidade de nele, mundo, intervir, a fim de torná-la possível.

No âmbito da Educação Física, passávamos então a denunciar seu status quo comprometido com valores ético-políticos responsáveis pelo respaldo dado por ela a práticas sociais não condizentes com a vida democrática que almejávamos. Eram de 1979/1980 os primeiros livros que, vindos do exterior, nos chegavam às mãos a alimentar nossa intervenção social.

Dentre nós poucos se aventuravam a sistematizar aquilo que construíamos como alternativas ao caráter conservador que atestávamos presente hegemonicamente no campo da educação física e do esporte brasileiros.

Vitor Marinho foi um dos primeiros a fazê-lo. Seu “O que é Educação Física?”, lançado em 1983 pela Editora Brasiliense, foi – sem medo de errar – paradigmático àqueles empenhados na construção de uma educação e educação física comprometida com o ordenamento social brasileiro fundado em terreno democrático.

Como nos calou fundo aquele livro da Coleção Primeiros Passos! Ele, de certa forma, abriu as portas para outros que vieram em seguida, como o “A Educação Física cuida do corpo e... Mente”, do João Paulo Subirá Medina e “O discurso ideológico do EPT”, da Kátia Brandão Cavalcanti, sem contar a safra da segunda metade daquela década que a eles se seguiu...

Sem dúvida, ao olharmos para eles com os olhos fincados no final da primeira década do século XXI não fica difícil notarmos o quanto avançamos! Mas, é certo, por causa deles e não apesar deles... De forma contraditória, é verdade, amargando - como não poderia deixar de ser – os impactos dos acontecimentos que assolaram o mundo ao final daquela década de 80 e do que deles se derivaram, até este momento presente no qual nos deparamos com a queda de outro muro, aquele de Wall Street...

Vitor Marinho é parte protagônica da história do renovar da Educação Física brasileira. Formou – e continua formando - gerações de professores e acadêmicos de educação física. Acima de tudo, formando pessoas. Da velha-guarda, não se moldou aos tempos atuais, se sentindo deslocado nos novos nichos acadêmicos e desconfortado com o sentido adotado por eles para a lógica de produção acadêmica.. Mas nem por isso deixou de dar aulas, escrever e dar vazão às suas idéias e aos seus pensamentos.

Este livro traduz sua intenção – e até necessidade – de prestar conta de sua trajetória acadêmica. A ele mesmo, no constante movimento de se encontrar e se mostrar coerente com seu projeto societário, como também àqueles – jovens e não tão jovens - que hoje habitam o universo da educação brasileira, que para nela se afirmarem parecem precisar desconsiderar a história.

Para Vitor Marinho e para os acima mencionados, cabe perfeitamente os versos abaixo de Jorge Aragão, Flávio Cardoso e Paulinho Resende, com os quais convido vocês a se reencontrarem com uma pessoa importante na e para a Educação Física brasileira.  

Vitor: Canta pra gente!

Quem foi que falou
Que eu não sou um moleque atrevido
Ganhei minha fama de bamba
No samba de roda
Fico feliz em saber
O que fiz pela música, faça o favor
Respeite quem pode chegar
Onde a gente chegou
Também somos linha de frente
de toda essa história
Nós somos do tempo do samba
Sem grana, sem glória
Não se discute talento
Mas seu argumento, me faça o favor
Respeite quem pode chegar
onde a gente chegou
E a gente chegou muito bem
Sem desmerecer a ninguém
Enfrentando no peito um certo preconceito
e muito desdém
Hoje em dia é fácil dizer
Que essa música é nossa raiz
Tá chovendo de gente
que fala de samba e não sabe o que diz
por isso vê lá onde pisa
Respeite a camisa que a gente suou
Respeite quem pode chegar onde a gente chegou
E quando pisar no terreiro
Procure primeiro saber quem eu sou
Respeite quem pode chegar onde a gente chegou

                     (Moleque Atrevido)      

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