Cevnautas,

Gosto de replicar os artigos do Prof. da FGV Thomaz Wood Jr., colunista da indispensável Carta Capital. Desta vez ele analisa uma pesquisa internacional feita com os dirigentes dos principais cursos de Administração do planeta. Acho que deveria ser leitura obrigatória para todos os viventes dirigentes, ou sofreram cursos no chamado "ensino superior". Laércio

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Acertos e erros. Diretores das melhores escolas de administração do mundo revelam o que os programas de formação de gestores têm de melhor e de pior
por Thomaz Wood Jr. — publicado 16/01/2015

A pesquisa foi norteada por duas questões: o que a educação em gestão tem de pior e melhor

Em 2014, o jornal inglês Financial Times realizou uma pesquisa com 72 diretores das principais escolas de administração do mundo. A opinião do seleto grupo importa, porque suas instituições formam anualmente milhares de futuros líderes, profissionais cujas decisões influenciarão a vida de milhões de empregados, clientes e acionistas, e poderão gerar impactos sobre comunidades e países.

Foram ouvidos 62 homens e 10 mulheres, quase todos na faixa de 50 a 60 anos de idade. Há predominância de instituições norte-americanas, porém com presença significativa de escolas europeias e o despontar de algumas instituições asiáticas. O mapa do Financial Times não registrou escolas africanas ou latino-americanas.

Duas questões nortearam a pesquisa: o que a educação em gestão tem de melhor e o que tem de pior. Todos responderam à primeira pergunta. Alguns escaparam da segunda. Certas respostas são pueris, outras revelam visão crítica. Emergem alguns consensos.

Os diretores consideram seus cursos como motores para a transformação da sociedade e construção de um mundo mais próspero e justo. Os cursos incentivam a criatividade, fomentam comportamentos éticos e estimulam a noção de responsabilidade social. Os diretores também creem que o management é uma caixa valiosa de ferramentas que provê soluções para problemas reais das empresas, das organizações e da sociedade.

O grupo aponta também o efeito positivo dos cursos sobre os estudantes, considerando-os como uma experiência transformadora, capaz de transmutar sapos em príncipes. Os programas proporcionam uma visão complexa do mundo e das empresas, desenvolvem o raciocínio analítico e a capacidade de tomar decisões. Além disso, tornam os estudantes mais conscientes de seu potencial e de suas possibilidades. Com isso, abrem-se novas possibilidades profissionais.

Alguns diretores ainda assinalaram que o melhor dos programas vem da interação de professores e estudantes em torno de uma agenda contemporânea que os desafia a encontrar soluções para questões prementes. Tais questões referem-se a temas relacionados à competição e à geração de valor para as empresas. No entanto, consideram cada vez mais temas de alcance social, ligados ao impacto econômico, ambiental e social dos negócios sobre a sociedade.

A maioria dos respondentes não se furtou a responder a questão sobre o lado escuro dos programas de formação em gestão. Aqui, o discurso politicamente correto deu lugar para a reflexão crítica. Afinal, não foram poucos os casos de ex-estudantes envolvidos com escândalos financeiros. E até George Bush fez MBA!

Alguns diretores de escolas reconhecem que os programas frequentemente oferecem fórmulas simplistas para resolver problemas complexos. Além disso, estimulam os estudantes a ver a busca dos lucros como um fim em si próprio, sem atentar para os impactos de suas ações sobre os funcionários, os clientes e a sociedade. Outro aspecto mencionado foi a promoção de uma visão utilitarista, fundada em leituras apressadas de princípios de racionalidade econômica, que levam os futuros profissionais a buscar ganhos em curto prazo nas empresas, sem considerar as consequências a longo prazo.

Segundo os entrevistados, muitos professores parecem mais interessados em suas carreiras de pesquisadores de temas herméticos do que em ajudar a buscar soluções para problemas reais. Muitas instituições ainda se comportam como torres de marfim, distantes e desdenhosas da vida corporativa. Orientam sua pesquisa para assuntos exóticos, ao gosto dos editores de prestigiosas revistas científicas, porém sem considerar a possibilidade de usar o conhecimento gerado para transformação da realidade.

Os diretores também criticaram o comportamento de alguns professores que se tornam empresários de si mesmos, escrevendo livros de autoajuda para se promoverem como gurus e consultores. Um entrevistado referiu-se explicitamente à grande quantidade de lixo sendo promovida como inovação.

Finalmente, um número significativo de entrevistados registrou que o modelo dominante de formação de gestores – os programas de MBA – constitui uma criação norte-americana, notavelmente bem-sucedida, porém criada para um mundo que não existe mais. Segundo eles, é preciso coragem e criatividade para inventar novos modelos, adequados aos novos tempos.

FONTE com links: http://www.cartacapital.com.br/revista/832/acertos-e-erros-4777.html
 

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