Cevnautas, segue nota do Administrador da Comunidade Estudos Olímpicos Luis Henrique http://cev.org.br/qq/lhrolim .

Laercio

Mais Uma Vez! Alemães Dizem Não Aos Jogos Olímpicos

Em referendo finalizado neste domingo (29), os alemães disseram NÃO aos Jogos Olímpicos, forçando as autoridades a retirarem a candidatura de Hamburgo para ser sede do evento em 2024. É a segunda vez que os alemães negam as Olimpíadas, reforçando a tese de que: mega-eventos esportivos, sem mega-suporte popular, serão raridade no mundo daqui para frente.  

NEIN!  

Essa é palavra que os alemães estão se acostumando a dizer a cada tentativa das autoridades em sediar os Jogos Olímpicos no país. Seja inverno ou verão, em qualquer referendo sobre Olimpíadas, os compatriotas do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), dizem um sonoro NÃO.  

E convenhamos, eles estão cobertos de razão. Como explicar o gasto de 11.2 bilhões de euros (aproximadamente R$ 45.4 bilhões) em entretenimento – Jogos Olímpicos – enquanto o país enfrenta a maior crise migratória do século 21? E ainda: como pensar em deixar de investir em segurança e diminuir o sentimento de medo que ronda a Europa em virtude do terrorismo?  

Eu mesmo já aprendi: NEIN!  

É como dizer para as autoridades brasileiras pegarem 40 bilhões de reais… deixarem de investir em segurança no Rio de Janeiro e também não usarem esse dinheiro para amenizar os estragos da “lama” deixada pela Samarco…  e gastar tudo isso na realização de um evento esportivo…

Ah, ops, espera um pouco, isso é uma verdade no Brasil.  

“Coisa de alemão” disse certa vez Bach, ao responder sobre a oposição dos donos de terras em Garmisch-Partenkirchen que se negavam a ter seus terrenos incluídos na candidatura de Munique para os Jogos de Inverno de 2018. Naquela época, Bach era presidente do Comitê Olímpico Alemão e sonhava em trazer os Jogos para “recarregar as baterias” na Europa.   Como um carro que fica “sem baterias”, os Jogos de Inverno estavam “sem pegar” na Europa. As “novas baterias” se encontravam em continentes onde os processos democráticos são, podemos dizer, questionáveis. Aquela “manobra” de prometer um legado para cidade sem comprometer o dinheiro de quem paga impostos, já havia caído por terra.  

O primeiro NEIN oficial dos alemães aconteceu para os Jogos de Inverno em 2022. Naquela época, um referendo aconteceu na região dos Alpes e quase 60% das pessoas dispensaram as Olimpíadas. “Vocês irão ser arrepender um dia“, disse o lendário Franz Beckenbauer, representando a autoridade máxima que havia conduzido com sucesso a candidatura alemã para a Copa de 2006.  

Mas olha só, hoje os comandados de Beckenbauer e a Federação Alemã de Futebol são acusados de ter comprado os direitos de sediar a Copa de 2006. E a revelão do modus operandi da corrupção na Fifa também levou para o ralo os aclamados alemães e a reputação construída em torno do evento.  

Esse baque na moral alemã “ajudou” o segundo NEIN às Olimpíadas ganhar força; que desta vez derrubou o maior evento esportivo do planeta, os Jogos Olímpicos de Verão. É bem verdade que o resultado do referendo do último domingo (29) foi apertado. Foram 52% dos votantes que disseram não à candidatura de Hamburgo para 2024.  

Mesmo com a decepção da derrota, as autoridades alemãs acataram a decisão das urnas e retiraram a candidatura. Agora restam quatro cidades no páreo para sediar os Jogos em 2024: Budapeste, Paris, Roma e Los Angeles. E a pressão por um referendo nestas cidades, agora pode aumentar.  

Por ironia, foi o próprio Bach (que depois de ser eleito presidente do COI) encabeçou a “Agenda 2020“. O documento que promete reformular Movimento Olímpico e mudar, principalmente, o sistema de escolha das sedes Olímpicas – onde o apelo popular é relevante para uma cidade candidatar-se ao “sonho Olímpico”.  

E sabe onde isso tudo começou? Pasmem, no Brasil. Como bem falou o jornalista Jamil Chade, foram as manifestações ocorridas em 2013 que implodiu a lógica “quanto maior o evento, maior a visibilidade do país, maior a visibilidade do político local“.   

Assim, depois do segundo NEIN alemão, fica claro que um mega-evento esportivo, com um mega-orçamento e cheio de mega-promessas, deve ter, pelo menos, um mega-suporte da população.  

___   Texto originalmente publicado no site Torcedores.com: http://torcedores.com/noticias/2015/11/opiniao-mais-uma-vez-alemaes-dizem-nao-aos-jogos-olimpicos

FONTE: http://cev.org.br/comunidade/estudos-olimpicos/debate/mais-uma-vez-alemaes-dizem-nao-aos-jogos-olimpicos

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 1 de Dezembro de 2015 às 06:51.

Antigo provérbio alemão diz: Você se torna mais inteligente com os seus erros.


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