Cevnautas,

É hora de aproveitar o holofote dos Jogos Olímpicos e gritar no megafone. Um argumento que consta da reportagem, e que tem sido pouco utilizado, é que a sala de aula de Educação Física, também coberta, é reivindicação dos professores e estudantes das feiras de ciências, teatro... Precisamos patrulhar esse legado. Laércio

Seis em dez escolas públicas do Brasil não têm quadras para atividade física   Por Renata Mariz 07/08/2016 4:30  

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Palco atual do torneio mais grandioso do mundo, o Brasil está longe de uma performance olímpica quando o assunto é a prática de esportes nas escolas. Seis em cada dez unidades públicas de educação básica do país não contam com quadras esportivas, segundo dados inéditos do Censo Escolar 2015. O problema atinge, em termos percentuais, 65,5% dos colégios. A proporção é levemente menor que a verificada em 2013, de 68,1%, mas ainda é considerada um sério entrave no aprendizado associado à educação física, componente curricular obrigatório do ensino básico.  

Para Priscila Cruz, do movimento Todos pela Educação, há uma tendência equivocada de se desprezar a educação física enquanto são favorecidas as áreas tradicionais de ensino, como linguagens, matemática e ciências. Por esse motivo, segundo ela, os investimentos são escassos na infraestrutura exigida para o desenvolvimento da disciplina, por vezes encarada como mera recreação.  

— Precisa ficar claro que a atividade esportiva é fundamental para o desenvolvimento integral e bem-estar do aluno, inclusive com evidências muito fortes que as habilidades não cognitivas, como persistência, comunicação e trabalho em equipe têm grande impacto no aprendizado de português e matemática — diz Priscila.  

Na avaliação da ex-jogadora de vôlei Ana Moser, que preside o Instituto Esporte Educação e o Atletas pelo Brasil, entidades ligadas ao tema, o viés inclusivo da educação física é algo que precisa ser resgatado nas escolas. A falta de espaços e equipamentos adequados restringe a atividade a uma minoria de alunos que já se identifica com a vida de atleta, segundo ela.  

— A ausência grave de infraestrutura leva o esporte nas escolas a incorporar essa visão de trabalhar só com os melhores, de criar atletas. Quando na verdade a educação física é algo muito mais amplo. Tem a parte física, mas também influencia outras dimensões — diz a ex-jogadora.  

Pelos dados do Censo Escolar 2015, Maranhão e Acre têm a pior situação, com mais de 90% das escolas da educação básica sem quadra. Mato Grosso do Sul e Distrito Federal apresentam os melhores índices, e ainda assim têm cerca de 30% dos colégios sem o espaço. No Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos, esse índice é de 48,5%. E São Paulo, que abriga a maior rede pública de ensino do país, têm 37,4% de unidades carentes de quadras.  

Para resolver o problema de falta de espaço, a Escola Técnica Prof. Camargo Aranha, na Zona Leste de São Paulo, utiliza quadras no Parque da Mooca, a 500 metros da unidade. No local, onde funciona a subprefeitura da região, o GLOBO presenciou espaços sem redes de vôlei e tabelas de basquete sem aro, e passou por um grupo usando drogas, às 10h da manhã. Os alunos relatam roubos de equipamentos e objetos pessoais durante as aulas. Há ainda uma sala onde são guardados os materiais utilizados nas atividades, que está trancada há mais de dois meses, segundo estudantes. A saída, relatam eles, é levar material de casa ou carregá-lo da escola para a praça.  

O Centro Paula Souza, que administra as Escolas Técnicas do Estado de São Paulo, informa em nota que os alunos da Escola Técnica Prof. Camargo Aranha são acompanhados pelos professores quando saem para as aulas por motivo de segurança, e que essa sala onde fica o material é aberta durante as atividades. A instituição diz ainda que alguns alunos levam bolas de casa para jogar em momentos de lazer, não para usar nas aulas. Já a secretaria municipal de Esportes, Lazer, e Recreação disse que o problema de usuários de drogas e de manutenção do local é responsabilidade da segurança pública, uma vez que materiais são roubados ali. A pasta confirma que a sala utilizada pelos alunos para guardar material está fechada e justifica que isso se deve às constantes invasões no local.  

Falta de cobertura

Mesmo em escolas que têm quadras, falta estrutura: em 42,6% dessas, não há cobertura e, em dia de calor, o exercício é debaixo de sol. Se chover, não tem aula. Para o aluno do Distrito Federal Lucas da Silva Rodrigues, de 14 anos, a “pior parte” de estudar no período vespertino é ter que ficar sem educação física quando o sol está forte. Com uma quadra descoberta, o Centro de Ensino Myriam Ervilha, no Recanto das Emas, cidade a cerca de 25 km de Brasília, costuma suspender as aulas no período de seca, que está próximo de começar, por determinação da Defesa Civil.  

— Aí a gente tem que ficar na sala, jogando dominó ou fazendo alguma tarefa. É muito ruim — reclama o aluno do 7º ano.  

Para outros improvisos das aulas de educação física Lucas dá de ombros. Não se chateia em ter que passar o rodo na quadra após as chuvas ou usar a rede de vôlei para jogar badminton, seu esporte favorito. Ao passar pelo buraco de uma tela instalada para aparar objetos, em busca da bola que escapou por ali, Lucas dá um salto pendurado em uma das barras da estrutura.  

Mauro Banck, diretor da unidade escolar que atende 2,2 mil alunos do 6º ano ao 3º do ensino médio no DF, além de Educação de Jovens e Adultos, diz que a reivindicação da cobertura na quadra é antiga. E defende que a falta da estrutura prejudica uma série de eventos do colégio ao longo do ano.  

— Nossa feira de ciências acaba sendo dentro das salas, que são quentes e não favorecem a circulação. Para fazer a festa junina este ano, tivemos que providenciar lonas — conta Banck. — Se eu tivesse uma cobertura na quadra, poderia abrir a escola para a comunidade fazer atividades, como aulas de ginástica aos sábados, por exemplo.  

Pelas normas educacionais a educação física deve ser ministrada obrigatoriamente por professores com licenciatura, nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio, mas a realidade é bem diferente nas escolas. Segundo dados do Ministério da Educação, apenas 34% dos docentes da disciplina tinham a formação adequada no ensino médio regular do país.  

— Há professor de ciências ministrando educação física para completar a carga horária. É ruim para o profissional e para o aluno — diz Heleno Araújo, diretor de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.  

Em nota, o Ministério da Educação afirmou que a atual gestão, iniciada em maio, vai honrar “dívidas já existentes” por considerar que “as quadras são essenciais para as atividades esportivas nas escolas de educação básica de todo o Brasil”. O passivo, segundo a pasta, é de 3.178 quadras com obras iniciadas ou programadas, tendo sido repassado R$ 1 bilhão para tais projetos, que demandarão mais R$ 962 milhões até sua conclusão.   Colaborou Luiza Souto  

FONTE com fotos e gráficos:  http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/seis-em-dez-escolas-publicas-do-brasil-nao-tem-quadras-para-atividade-fisica-19871349

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 7 de Agosto de 2016 às 10:36.

Professores,

O artigo fez-me lembrar o ano de 1966, quando retornei ao Clube de Regatas Icaraí, em Nitérói, para uma vez mais reerguê-lo de sua história no voleibol fluminense. O clube fizera história nas décadas de 40 e 50, quando competia de igual para igual contra equipes cariocas, sampaulinas e mineiras. Inclusive, com estrelas de seleção brasileira.

Em 1962, logo após os jogos estudantis, foram convidadas divrsas atletas a compor a equipe do Regatas (como era conhecido) com a finalidade de retornar ao campeonato carioca. E assim foi feito a partir do ano seguinte. As meninas, todas ainda juvenis, foram campeãs na categoria. A seguir, em 1964, tornaram-se bicvampeãs, sendo que três delas foram convocadas para a seleção principal do Brasil. Neste ano, as juvenis já se igualavam às melhores equipes do Rio e, caso permanecessem disputando o campeonado seguinte, teriam chances de ocupar as primeiras posições. Um detalhe político fez com que o clube fosse afastado das competições.

Desfeita a equipe, fui solicitado em 1966 a tornar ao clube e recompor tudo o que fora construído. Nesse período, arregimentamos TODOS os indivíduos que brincavam na praia de Icaraí para fazer testes no clube. Foram dezenas deles. E, mesmo sem uma quadra para os ensaios (estava em obras), frealizamos os treinos no salão social, cecado de portas e janelas envidraçadas. Não houve qualquer deslize em relação à quebra de vidros ou outros acidentes.

Em depoimento, o Murilo nos dizia que jogava vôlei com seu irmão Gustavo no quintal de sua casa, tendo como rede um lençol pendurado no varal para secar.

Em outra ocasião, estando no Rio Centro, na Barra da Tijuca (Rio), realizei uma apresentação do mini vôlei como recreação paa crianças que lá perambulavam com seus pais. Em seguida, uma õutra, com rapazes de uma equipe de fustsal do subúrbio carioca. Lamentavelmente, esqueceram-se de levar a bola de jogo. Pouco antes que desistissem, ofereci uma solução: confeccionei uma bola, como fazia em criança (bolas de meia). Colhemos resíduos de papel nas cestas de lixo que, amassados e formatados esfericamente, foram colados com uma fita adesiva especial que usara para marcação do solo. Pronta, a alegria foi geral e deram início ao jogo.

Poderia dizer mais sobre "improvisos pontuais", mas sem delongas, acrescento que quando se tem amor ao que se propõe a fazer, o indivíduo, professor ou não, não mede esforços, imaginação e criatividade para solucionar problemas. Se de todo não conseguir, peça "ajuda aos jovens" que certamente saberão como improvisar suas atividades.   

Claro que não é o ideal, mas as soluções surgem a partir de nossa disposição em solucionar problemas. De que adianta lamentar e transferir problemas para os jovens? Creio firmemente que se deva aproveitar as situações e estimular a criatividades das crianças e dos jovens. 

Por oportuno, já que falamos sobre CRIATIVIDADE, percebam o que nos disse Ken Robinson, inclusive citando Picasso, e a respeito de coisas ditas sérias:

Pedagogia do erro

Por Ken Robinson em palestra no TED sobre Educação Empresarial

As crianças têm em comum o risco. Se não sabem, tentam. Não receiam estar erradas. Concluímos que se não estivermos preparados para errar nunca conseguiremos nada de original. Quando adultas, a maior parte das crianças perde essa capacidade, ficam com receio de errar.

--  Por que é assim?

Picasso disse uma vez: “todas as crianças nascem artistas. O problema é mantermo-nos artistas enquanto crescemos”.  Não crescemos para a criatividade, afastamo-nos dela. Ou antes, somos educados para perdê-la.

--  E agora, como gerir nossos empreendimentos?

Estigmatizamos os enganos e desenvolvemos sistemas de educação nacionais onde os erros constituem-se na pior coisa que podemos fazer. E o resultado é que educamos pessoas sem as suas capacidades criativas. 

E VOCÊ, o que FAZ?


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