A bola – o fascínio de qualquer criança  http://www.jornalpequeno.com.br/blog/oliveiraramos/?p=870&cpage=1#comment-495

Como a senhora explicaria a um menino o que é felicidade?
Não explicaria. Daria uma bola para que ele jogasse… – Dorothee Sölle
Um gomo, dois gomos, três gomos, quatro gomos. Um novelo de linha zero, cêra de abelha, e uma sovela. Estava começando a ser feita uma bola. Estava nascendo uma nova “vida” – uma bola.

Uma meia. Duas meias. Panos velhos, sisal. Uma agulha, linha e habilidade. Uma coça pelo “roubo” das meias. Castigo. Mas, o que poderia significar esse castigo, se estava nascendo uma nova “vida” – uma bola?

Um peru. Uma vara e uma varada. Duas pernas quebradas. Uma morte para “salvar” a carne preferida no Natal. Um papo. Muitos sopros, castigos, surras!
Mas nada doía, pois estava nascendo uma nova “vida” – uma bola!

Uma bola permeia e divide a vida de uma criança. Ante de ganhar uma bola, uma criança é um ser comum, igual a muitos outros. Depois de ganhar uma bola, a criança é outro ser. É inigualável! Seus olhos brilham e deixam escapar as lágrimas da felicidade. Ahhh! Essa bola! O que é que uma bola não faz?

Na hora que você pega na bola, se você não sabe o que fazer com ela, tente outro esporte -  Julius Boros

Pois, quando éramos crianças, não ganhávamos bolas. Ganhávamos livros. Éramos craque, por isso tínhamos lugar cativo nas peladas para jogar com as bolas dos outros. Pela manhã, a escola pública – escola particular, como? Ora, meu pai não podia comprar uma bola!!! – e o transporte coletivo era o famoso “pé dois”. Íamos e voltávamos contando postes. Alguns já conhecíamos, e tínhamos intimidade, pois, esses, às vezes serviam de mictório.

Em casa de volta para o almoço. Pouca comida, mas honesta e digna. Certamente que isso nos ajudava a nos sentir de barrigas cheias.  A soneca, os deveres da escola, o café com pão francês com uma só passada de manteiga real e, finalmente o caminho para o campo. A bola e a felicidade – não sabíamos – eram redondas.

Para muitas pessoas a felicidade é semelhante a uma bola: querem-na de todo jeito e, quando a possuem, dão-lhe um chute. – Mário Glaab

Regras Gerais:

(1) Nenhum campinho do Brasil deve ter rede nas goleiras;
(2) A única regra sobre faltas é que não há faltas, simplesmente segue o jogo;
(3) Sempre haverá jogo, independentemente do número de jogadores;
3.1 – À partir de 5 jogadores, já tem correria, já rola jogo;
3.2 – Com 4 jogadores se joga a famosa “duplinha”;
3.3 – Com 3 jogadores temos o clássico e divertido “3 dentro 3 fora”;
3.4 – Só você e seu amigo? Com 2 jogadores faça um “gol a gol”;
3.5 – Só você e a bola? Ficarás chutando a bola na trave até cansar, após irá pra casa jogar WE;
(4) Não importa qual o placar da partida, se alguém grita ” QUEM FIZÉ GANHA “, imediatamente a bola vai ao centro do campinho e se começa uma final de copa do mundo;
(5) O jogo termina quando:
5.1 – Anoitecer, pois raros campinhos tem iluminação;
5.2 – O dono da bola for embora, geralmente irritado pois estava perdendo;
5.3 – Sua mãe chamar você;
5.4 – A bola furar;
5.5 – A bola cair no pátio do vizinho, que tem 13 pitbulls;
(6) Não existem faltas diretas, sempre (eu disse SEMPRE ) é dois toques;
(7) Gols e lances duvidosos, serão decididos pelo método da gritaria, ou lei do mais forte;
(8) Se você for ruim, você vai pro gol.
(9) Se não tiver linhas no campo, então não há área, e se não tem área, então não há penalti, mesmo que a falta seja do lado da trave, não é penalti, é falta e é dois toques;
(10) Se você é o mais forte, mais velho, dono da bola e o campinho é na frente de sua casa, você inventa as regras.
Algumas frases sempre ditas em uma pelada:
É minha!
Deixaaaaa!
É nossa!  – Como nossa? Se eu chutei em ti?
Quem rouba perde.
Sou o último a ir no gol.
Não saiu, tu é cego?
Não vale bomba.
Gol? Passou por fora da trave.

Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca; quem não tem defende. -Neném Prancha

Domingo. Esse, desde os idos de 30, 40 e 50, sempre foi o “dia da bola”. Pela manhã, nos muitos campos da várzea, e, de tarde, nos incontáveis estádios mundo à fora. Anos depois surgiram os gestores, que criaram jogos noturnos, campeonatos, disputas “oficiais”, copa disso, copa daquilo. Tudo tendo como ponto central, ela, a bola.

Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola. – Armando Nogueira
Durante anos o Brasil teve o privilégio de abrigar o nascimento de verdadeiros gênios, artistas da bola. Artur Friedenreich, Leônidas da Silva, Zizinho, Rivelino, Didi, Nilton Santos, Bauer, Preguinho, Fausto, Canhoteiro, Domingos e Ademir da Guia, Tostão, Gerson, Carlos Alberto Torres, Maradona, Messi, Beckenbauer, Maradona e um certo senhor Edson Arantes do Nascimento, que um dia nasceu Dico, mas também foi Pelé, “Ele”, “Negão”, o “Rei”, mas sempre tendo como “rainha” verdadeira, a bola.

Quem não gosta de bola, sempre adorou a Barbie.- José de Oliveira Ramos.
Algum dia, todos que gostamos da bola, começamos a dar os primeiros passos no futebol da várzea, nas peladas onde os traves eram as camisas amarradas em nó ou varas que acabavam criando na imaginação um retângulo de madeira, por onde entrava a Sua Majestade, a bola.

Regras principais do futebol de várzea.

Campo – Qualquer espaço maior que o seu quarto já é o suficiente. Iluminação e conforto são itens que podem ser dispensados. O relevo varia; vai desde um campo de futebol propriamente dito até um terreno baldio não necessariamente plano, geralmente cheio de barro, ou em plena rua; seja esta asfaltada, proto-asfaltada, totalmente esburacada, coberta por paralelepípedo, de areia, etc. Ou seja, dá para praticar este nobre esporte até na casa do caramba. Já o tamanho dos gols é decidido na base da negociação entre os times, quando não houver traves no “campo”.

Número de Jogadores – Indefinido. Depende muito do espaço disponível, das condições climáticas e da disponibilidade de tempo, pois nem todo mundo é tão disponível como você. Preferencialmente, necessita-se de um número par de jogadores, mas como sempre um dos times tem um jogador diferenciado, o outro fica com um jogador a mais, geralmente aquele que tem o menor potencial futebolístico.

Formação das Equipes – Às vezes, se dá por afinidade, porém geralmente é feito um sorteio segundo os mais diferentes critérios, geralmente apelando para metodologias infantis, como par ou ímpar, 2 ou 1, entre outros. Logicamente, você será o último a ser escolhido e, impreterivelmente, será mandado para o gol, pois dessa forma a parte ofensiva do time pode compensar os frangos que você levar.

Tempo de Jogo – Totalmente indefinido, mas geralmente acaba quando um dos “times” fizer o terceiro gol pra todo mundo poder jogar. Se você for um gordo, durará aproximadamente cinco minutos em campo. Outro fator relevante é a influência climática. A chuva, muitas vezes, impede o segmento de uma partida. Ou, em alguns casos, provoca a economia de água nas casas dos jogadores ou até torna a partida mais divertida. Se você for menor de idade, o tempo de jogo depende, certamente, do humor da tua mãe. Caso teu pai ande fazendo o papel dele de forma insatisfatória, você nem jogará, ou o fará por poucos minutos. Caso o varzeano já for casado, dificilmente jogará, e, se jogar, a sua mulher lhe dará uma suspensão por vários jogos até que você aprenda a não deixá-la de lado.

Arbitragem – A marcação de faltas e demais irregularidades se dá através da milenar técnica do grito. Não há nenhuma punição formal como cartões, mas há, geralmente, uma punição extra-campo para o transgressor que agir como o Joselito que der aquela bicuda malvada na canela do amiguinho.

Plateia – Varia, de acordo com os dois primeiros quesitos. Se você for uma criança, sua mãe e uma cinta serão prováveis espectadoras. Caso você seja cabra ômi, sua partida poderá ser acompanhada por bêbados, por moças que gostam de futebol, pelo seu filho, ou provavelmente você vai estar assistindo o jogo de uma posição totalmente privilegiada: o banco de reservas, só esperando o jogo acabar pra você entrar na próxima partida, já que chegou e gritou “PRÓXIMO”.

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