La habitación caiu...

Ninguém entende Maradona. Nem seus jogadores, nem os amigos e, talvez, nem ele mesmo



sábado, 12 de setembro de 2009 - Suplemento  ALIÁS

Christian Carvalho Cruz, de O Estado de S. Paulo


http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup433795,0.htm
SÃO PAULO - Prezado amigo Maradona:

 

Oxalá estas mal traçadas linhas te alcancem em um estado de ânimo melhorzito. Nosotros em Brasil estamos muy preocupados. Vemos usted de cara feia, roendo las unhas e de cabeza baixa à beira do campo onde joga - e agora siempre perde - a seleción argentina e nos compadecemos de ti. Querem de usted la perfeição da Copa de 86, mas não entendem nada. A perfeição é uma mééé...ta, e normalmente defendida pelo goleiro, já dizia o nosso cantante Gilberto Gil. Não compreendemos por que usted foi fazer isso, Diego. Arriscar assim tu prestígio, a idolatria que el pueblo sente por ti. Por que, Pibe, por quê?!

 

Um jornalista do diário Olé, que te conhece bien e pede para não ser identificado, diz que "Maradona vive uma situação especial: deixou a cocaína e o álcool, mas se aferrou ao posto de técnico da seleção como se fosse uma terapia". Por Diós, Diego! Não é la camisa azul e branca que deve curar usted, mas usted que deve curar la camisa azul e branca - una verdadeira droga neste momiento, concordamos. Pero nos perturba particularmente seu apetite por unhas. É uma novidad para todos, nunca te viram roê-las antes. Sentimos que corre peligro. Usted não conhece meio termo, quier siempre tudo por inteiro. Entonces, o que serão de las manos de Diós se usted comer pedaços delas a cada juego perdido?

 

Cuidado com la depressión, Maradona. Outro jornalista, Elias Perugino, da revista El Gráfico, conta que usted ficou três dias sem sair de casa depois daquela sova de 6 x 1 contra a Bolívia, em abril. Não foi nem à festa de aniversário de Dalma, sua primogênita, no dia seguinte. E después de la derrota em casa para o Brasil por 3 x 1, só botou el nariz para fuera porque tinha que viajar a Assunción, para um novo revés: Paraguai 1 x 0 Argentina, resultado que derrubou seu equipo para a quinta colocación nas Eliminatórias da Copa. Agora, só resta vencer Peru e Uruguai e torcer contra o Equador. Do contrário, Dom Armando, usted entrará para la história como el técnico que não classificou a Argentina. E para seus compatriotas, "no ir al Mundial es como no tener para comer", como se ouve pelas calles de Buenos Aires.

 

Sabe, Diego, há montes de gente querendo isso. E se dando bien com isso. Acá em Brasil o publicitário Rodrigo Ferreira, criador do blog Os Geraldinos, lançou uma campanha que usted precisa conhecer. Chama-se Sí, se puede - Argentina fora da Copa 2010, e lista diez raziones para vocês mirarem o Mundial pela televisión. Hablemos das duas mais duras: "dar verdadeiro sentido às dores do tango" e "mostrar que a Argentina é, definitivamente, o país do hóquei na grama feminino". Graças a maldades desse tipo as visitas ao website se multiplicaram por diez. À su custa, Diego! Paraguaios, colombianos, chilenos, equatorianos, a Sudamérica inteira deixa comentários jocosos sobre usted. "Tomara que no Mundial nosso continente seja representado pelos melhores e não vá nenhuma equipe medíocre para fazer papelão", escreveu um tal José, do desclassificado Peru. Argentinos también deixam mensagens, mas elas são mucho pesadas. Ferreira as filtra pelas palavras "mierda" e "macaquitos" e não as publica.

 

Na TV e no rádio tampouco te perdónam. Dizem que tu cara gorda faz lembrar a mal-humorada Mafalda, dos quadrinhos de Quino. Que desolación, Diego... Tem mucho mais cosas, usted deve saber: durante la transmissión da partida contra o Paraguai, el miércoles, el comentarista Fabio Sormani, de la Jovem Pan AM, afirmou que "se esse time do Maradona jogasse o Brasileirão brigaria para não ser rebaixado". Assim é demais de la cuenta! Isso é comparar Messi com Vandinho (do Sport), Tevez com Jean Coral (do Botafogo), Verón com Fumagalli (também do Sport). É mucho pior, é comparar usted, Diez, com Cuca, el treinador do Fluminense.

 

Mas los puntapiés não vêm apenas de los brasileños e del resto de Sudamérica. Vêm también de sua Buenos Aires querida. Na quarta-feira à noite o correspondente do Estado na ciudad, Ariel Palacios, ouviu do taxista que o conduzia pela Recoleta: "Maradona está se enterrando cada vez mais. Sozinho, sem ajuda de coveiro". E o juego nem havia começado. Quando la pelota rolou, outro chofer, no carro ao lado, abaixou o vidro e gritou: "O início do fim. Maldito gordo Diego!" Na sequência, contou Palacios, o homem "disparou a peculiar contração portenha de uma expressão clássica: ‘hijodelasmilpúl’". Los taxistas, bien lo sabe, Dom Armando, são las vozes do povón. Sentimos mucho em dizer, mas usted está perdiendo la aura de mito entre los tus admiradores.

 

Sabes o que Palacios descobriu, Diego? Que ninguém quer mais ver-te de pierto. Quase não se fazem mais tatuagens com tu rosto. "Desde que Maradona se tornou técnico da seleção, os pedidos despencaram", lamentou Jorge Ranieri, um dos mais famosos tatuadores de Buenos Aires, em sua loja Tatoo Planet, no bairro de Belgrano. Já no shopping Alto Palermo, a atendente Lola garantiu que, meses atrás, um homem pediu para cobrir o Maradona que ele tinha no cuerpo. Pero Lola não soube dizer se o cabrón mandou desenhar o Dunga no lugar. Los críticos pragmáticos - los "idiotas de la objetividad" de Nelson Rodrigues -, que preferem el fútbol de resultado, argumentam que es todo reflexo de seu retrospecto como arremedo de treinador, Diego. Somando las vezes que usted comandou o Mandiyú, o Racing e agora la seleción, são 29 partidas, 12 empates, 12 derrotas e só 5 victorias. Nosotros amantes de sua genialidad preguntamos: "E daí?" Usted certamiente não merece essas pancadas.

 

VINGADOR NAPOLITANO

 

Careca e Alemão, tus compañeros no Napoli, mandam um saludo. Estão tristes por usted. Foram buenos aqueles tempos na Itália, recuerdas? Os napolitanos tinham usted como um herói defensor do sul humilhado contra o norte esnobe. Na arquibancada eles cantavam: "Maradona, agora que está aqui, apague a vergonha desta cidade. Maradona, estamos em suas mãos, não podemos esperar mais, finalmente podemos nos vingar". Ah, eles te amavam. Bueno, Careca recomenda calma e pede para lembrar que "a esperança é a última que morre". Ele conta que esteve contigo dias antes do juego com o Brasil. "O Diego estava muito confiante, tinha certeza que ia vencer e toda a pressão desapareceria. Mas com aquela defesa não dá. Eu, com 49 anos, faria gol na Argentina. Diego está convocando mal". E convocando demais, Pibe. Usted já testou 62 jugadores em diez meses no comando de la seleción... Alemão piensa que el problema não é esse. "O Diego está mal porque jogar bem é simples na cabeça dele. Basta mandar os jogadores fazerem exatamente o que ele fazia quando estava em campo. Quer que os outros sejam geniais como ele era. Mas isso é impossível." Escuchió, Diez? O Messi que está na sua frente é de carne e osso, não é o boneco do PlayStation. São sus amigos hablando.

 

Sus inimigos reclamam que usted não se comunica com o time. Que nos intervalos das partidas só diz "vamos a empatar, vamos a empatar" e as ordens táticas precisam ser passadas pelos mais experientes, como Verón, Zanetti e Heinze. Hablam ainda que usted tenta motivar o equipo com filmes sobre os miseráveis da Argentina, que não ensaia jogadas e tampouco faz treinamientos pela manhana, porque não consegue acordar cedo... E después ainda se queixa de falta de tiempo para entrosar o time. Por supuesto, los jugadores ficam perdidos. "Eles creem em Maradona, mas alguns sentem que o mito, a lenda, o ídolo de suas infâncias é humano e comete erros. E isso os decepciona", pede para te abrir los ojos o editor de esportes do La Nación, Cristian Grosso. Usted pode hacer melhor. Usted é bom de frases, entonces las use, Diego. Que outro treinador de fútbol seria capaz daquele "cada gol da Bolívia era uma punhalada em mi corazón"? Ou o "não tenho medo de ninguém e de nada; vou deixar até a última gota de sangue para conseguir a classificação"? También poderia usar buenas palavras para pedir aos muchachos que tomem cuidado com los fotógrafos. Em la fase atual, não pega bien ser flagrado de joelhos ou com o buzanfón para arriba, como ocorrió com Messi, Heinze e Palermo.

 

Mira, Pibe, um amigo querido te deseja suerte: Rivelino, tu ídolo de infância. Diz que usted necessita manter la cabeza no lugar agora que se meteu nessa roubada de ser técnico. "Veja o Pelé", ele diz. "O Crioulo foi o maior do mundo, mas tenho certeza de que como treinador não conseguiria passar tudo que sabe para os outros." É la misma opinión do escritor Luis Fernando Verissimo, seu admirador: "Acho que o fracasso do Maradona só prova uma velha máxima do futebol, a de que atacantes não dão bons técnicos", ele analisa. "Telê, Zagalo, Evaristo, Ênio Andrade, Didi e outras aparentes exceções à máxima na verdade eram armadores ou falsos atacantes. Como ele foi, notoriamente, o atacante mais bem-sucedido da sua época, é natural que o fracasso do Maradona como técnico também seja notório." Bueno, Rivelino teme pelo desgaste de sua imagem, Diego. E se ressente de seu sofrimiento. Diz que se pudesse dar um conselho diria para usted vestir la camisa 10 e ir para o campo. Ele parece gostar de usted, mas deu para perceber um sorrisinho sarcástico por trás de su bigodón.

 

Lo Sergio Xavier, diretor de la revista Placar, é outro que te quier bien. Descuente o fato de ele ser gaúcho, portanto 75% argentino, e escucha o que diz: "Não faltaram jogadores nas Copas de 1998, 2002 e 2006. Faltava confiança. Olhavam para o lado e não encontravam o líder. Era você, Diego, que todos procuravam. Você não era apenas o malabarista da bola, nem o artilheiro. Você tinha o grito certo na hora certa. O líder perfeito. Por isso você foi chamado para tirar a seleção do aperto. No meio do caminho, porém, você achou que era técnico de verdade. Não, Diego. Você não é técnico. Você é Deus. Você é o líder que todos respeitam e admiram. Tem jeito ainda. Telefone para José Pekerman ou Carlos Bianchi. Peça ajuda. Convide um deles para arrumar o time ao seu lado. Na hora da preleção final é você quem dará a última palavra. Só você pode salvar a Argentina."

 

Bueno, Dom Armando, se después de tudo isso, ustedes ficarem fora da Copa, restará ainda una última consolación. Pegue aquele disco de Gardel e ponha para tocar Adiós Muchachos. É muy bonito: "Adeus, rapazes, companheiros de minha vida, turma querida. Cabe a mim hoje empreender a retirada, devo afastar-me de minha boa rapaziada. Adeus, raparazes, já me vou e me resigno. Contra o destino ninguém argumenta. Meu corpo enfermo não resiste mais. E, ao dar-lhes o último adeus, lhes dou com toda a minha alma, minha bênção. Adiós muchachos, compañeros de mi vida".

 

Atenciosamiente,

 

Pueblo brasileño, el pentacampeón.


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