O assunto foi o seguinte: "Temos uma idéia de como funcionam as escolinhas dos grandes e médios clubes de futebol na Europa. E como será a formação dos garotos de base em países pobres que além dos poucos recursos financeiros, não possuem a mesma infraestrutura e nem professores especializados? A conversa saiu depois que fizemos um levantamento superficial dos vários estrangeiros de países pobres e em desenvolvimento que participaram do último campeonato italiano, espanhol, inglês e alemão. Metade vieram de países do terceiro mundo.

Com todo aparato financeiro, tecnológico e de infraestrutra, os grandes só conseguem fornecer, em média, apenas 20 a 30% do seu plantel. O restante veio da base agremiações pequenas do mesmo país ou foram contratados fora.

Aí surgiu a pergunta..."Quais serão as razões para formarem tão poucos jogadores para o time principal nos países ricos?"

Comentários

Por Roberto Affonso Pimentel
em 26 de Julho de 2012 às 15:39.

Edison,

E agora, para desdizer as teorias e especulações, eis que os japoneses produzem a primeira zebra nas olimpíadas. Será que a Espanha, em crise financeira, não é mais país rico? 

Por Roberto Affonso Pimentel
em 5 de Junho de 2012 às 08:38.

Provavelmente, pelos mesmos motivos que os romanos ricos não eram gladiadores. Historicamente, a classe dominante de qualquer sociedade preserva seus filhos para funções mais categorizadas. Seria o elitismo, em que lhes cabe a nobre tarefa de conduzir os demais, que, pobres coitados, não tiveram a oportunidade de se instruir. A única válvula de escape, então, é tentar a sorte através de esforço próprio, seguindo as regras da selva em que se encontrem. É assim nas diversas manifestações do desporto nos EUA, especialmente quanto aos negros. É também assim no Brasil do voleibol, especialmente no de praia, em que os gastos são menores e menos concorrência. Vai ser difícil ver neste esporte quem estudou no Mallet Soares, Sto. Inácio ou outro qualquer estabelecimento de ensino para ricos. Especialmente no feminino, duvido que as mocinhas bem alimentadas e perfumadas da beira de praia carioca se destinem um futuro de lutas e sacrifícios a troco de algum ganho monetário.  

No que tange à estrutura para o desenvolvimento do futebol em países ricos - talvez fosse melhor dizermos aqueles que têm essa pretensão - sabemos que fica a critério de um ou outro dirigente (rico), um mecenas (russo, turco, italiano) que se predispõe a encetar a tarefa. É raro, pois é mais econômico buscar entre os "pobres". É o celeiro brasileiro, que exporta jovens para a Europa em proporção alentada, que justificou uma lei específica para conter e preservar direitos à criança.

Quanto à mão de obra  - professores e a respectiva qualificação - não creio que haja estudiosos em Metodologia e Psicologia Pedagógica com fartura em qualquer mercado, mesmo nos países ricos. Um bom exemplo nos chega do Barcelona, devido à ONG desenvolvida pelo Cruiff. No Brasil, temos uma equivalente criada pelo Raí e Leonardo, mas que não creio tenha a intenção de prospectar talentos, mas sim educar pelo esporte, certamente o que mais precisamos oferecer aos jovens mais necessitados. Por acaso, conheço um moço radicado em uma pequena cidade suíça que é o treinador de crianças em um clube da cidade há muitos anos. Nunca jogou futebol, não é professo, mas como se trata de um brasileiro julgaram-no competente para a tarefa e, ainda hoje, é o seu ganha pão.

Por fim, no caso brasileiro, alastrou-se uma classe de indivíduos - os agentes (?) - verdadeiros intermediários em negociações que se assemelham aos vendedores de escravos. Desde cedo, jovens ignorantes e inocentes são "acorrentados" aos seus interesses, e negociados mais tarde com ganhos incomensuráveis. Isto gera no meio das divisões de base verdadeiro submundo em que a regra é "levar vantagem em tudo" (somente eles), não importando em quem se possa pisar. É realmente lamentável.

Ia-me esquecendo: é possível até que haja alguma exceção nesse planeta animal.       

Por Rafael Moreno Castellani
em 5 de Junho de 2012 às 13:07.

Oi Edson!!

As pesquisas tem mostrado que o percentual de atletas formados nas categorias de base tem aumentado. Assim como vemos isso nos grandes clubes brasileiros, os clubes de elite do futebol internacional (Barcelona, por exemplo) tb possuem na equipe principal vários atletas que vem da base.

No entanto, gostaria de compartilhar um caso particular que é contraditório em relação a esses dados (ao menos em relação aos clubes estrangeiros). Ainda quando atleta de futebol (+- em 1999) estava no alojamento do Guarani passando por um período de testes (categorias juniores). O guarani, apesar de todas as suas limitações, tinha acomodação para muitos atletas, campos para treinamento, refeição, etc. Antes mesmo de completar meu período de testes fui me "aventurar" em Portugal. O que vi lá é que as categorias de base, salvo excecoes, são bemm menos estruturadas do que o Guarani (por exemplo). Passei por clubes medianos em Portugal e na Espanha e não cheguei treinar uma unica vez ao menos num campo de grama. Alojamento... não tem! Salário... não paga. Um dos clubes que quiz que eu ficasse disse que poderiam me oferecer somente as refeições (em dias de treinos) e a faculdade. Enfim... isso me intrigou! Quando questionei dirigentes e pessoas envolvidas com o futebol de lá, eles me disseram: " pra nós não compensa investir na formação de atletas. Quando vemos que um atleta se destaca, compramos ele!" Ou seja, volte para o Brasil, fique famoso e depois vc volta já profissional pra cá! " 

Ajudei a responder sua questão Edson?

Abraços

Por Edison Yamazaki
em 6 de Junho de 2012 às 03:02.

Rafael,

Entendo o que diz, mas ainda continuo sem saber as razões do pouco resultado nas categorias de base de clubes com toda infraestrutura, campos de treinamentos, seleções, testes, alojamentos, etc. São os casos específicos do Internazionale, Milan, Juventus, Chelsea, City, Bayer, Dortmund, Real Madrid, etc.

Apesar de todos falarem, o Barcelona também não "produz" tantos jogadores assim. Acredito mais que tenha havia uma grande coincidência no aparecimentos de Xavi e Iniesta, do que propriamente um trabalho espetacular. No Brasil foi o caso do Santos e São Paulo em épocas anteriores, que formaram Juari, João Paulo, NIlton Batata, Pita, Dema, Ailton Lira, Robinho, Sidney, Muller, Silas, Vitor, Cafú, Elivelton, Lucas, Casemiro, Oscar, etc.

Sei que comprar um jogador talentoso é mais fácil, mas será mais barato? Se for, por que tanto alarde e investimento na formação?

Algumas coisas nãos e encaixam nas palavras dos dirigentes dos grandes clubes.

Abraço,

 

Por Edison Yamazaki
em 6 de Junho de 2012 às 03:11.

Roberto,

Concordo quando diz que as tranferências no futebol brasileiro  viraram casos de polícia. Uma pena.

Ouço falar que jovens talentosos entre 12 e 13 anos já estão "presos" por contrato a agentes/empresários. Acompanho o blog "brasileiros na base" e muitas vezes fico triste ao ler que fulano está no juvenil de algum clube europeu e já pensa em naturalização.

Será que somente os menos afortunados é que encontram um lugar ao sol no planeta futebol? Será que o futebol é, ainda hoje, um esporte para aqueles com menos recursos financeiros? Uma das únicas válvulas de escape para a ascensão social?  Um esporte para pobres?

Abraços,

Por Roberto Affonso Pimentel
em 6 de Junho de 2012 às 06:51.

Edison,

Você mesmo respondeu ao comentar o texto "7 segredos olímpicos para vencer na vida". Acrescente-se que no Brasil os ex-atletas ficam desempregados muito cedo, pois já deram o que tinham que dar. E em seguida, o que fazer da vida? Alguns recebem o apoio do COB e ganham uma mesa para fingir que estão trabalhando pelo esporte, justificado pelo exemplo de dedicação que deram. Isto é bom para o indivíduo? E para as novas gerações?

No entanto, continuamos a "endeusar" as conquistas olímpicas como algo soberbo e fenomenal. Inclusive cabeças coroadas de universidades, como pode ser visto nesse CEV e espalhadas pelo País. Por que não sermos campeões em Educação? Certamente seria muito mais rentável para todos, exceto para os agentes esportivos.       

Por Roberto Affonso Pimentel
em 6 de Junho de 2012 às 07:11.

Edison,

Perdôe-me, um comentário ainda em tempo sobre suas dúvidas em relação aos investimentos e o pouco retorno na formação no futebol. Aliás, pretendo ampliar este universo para "qualquer desporto", independentemente das quantias que se investem.

O jornalista americano Daniel Coyle circulou por várias partes do mundo pesquisando sobre esse assunto, especificamente onde se encaixa sua indagação: "Por que há tantos jogadores talentosos ou geniais no Brasil, na Argentina?" Pesquisas científicas têm concluído que ninguém precisa nascer com um dom para atingir bons resultados em qualquer atividade. Segundo estudos de ponta, qualquer talento depende unicamente de uma prática diferenciada, não de uma predisposição genética. Encarar toda virtude como inata seria uma postura conformista e iria contra os recentes trabalhos científicos, que vão da medicina à filosofia. Isto contraria uma teoria russa sobre a datiloscopia. Inclusive, os próprios russos aplicam o treinamento profundo no treinamento de suas atletas de tênis.

Aliás, é um assunto (científico) discutido com pouca profundidade nesse CEV. Além disso, como postou no final dos "7 segredos...." a proposta do autor de "O código do talento" é que os indivíduos tenham a consciência de que podem desenvolver um programa de hablidades especiais aplicáveis à vida pessoal e aos negócios, o que lhes indicaria caminhos a seguir na aposentadoria esportiva. Poderá ver comentários no Procrie.  

 

Por Rafael Moreno Castellani
em 12 de Junho de 2012 às 14:50.

Oi Edson, Roberto!

Vários pontos que foram trazidos para discussão são importantes para refletirmos sobre o processo de formação de atletas. No entanto, ainda estamos meio distantes de uma resposta mais concreta. Enfim, serão necessários mais estudos/pesquisas sobre o assunto.

Meu tema de doutorado refere-se ao processo de formação e adaptação de de jogadores profissionais de futebol. Espero encontrar com esse estudo mais argumentos/subsídios para discutirmos sobre essas questões levantadas aqui.

Abraços!

 

  

 

Por Rafael Moreno Castellani
em 12 de Junho de 2012 às 14:53.

Desculpe... do jeito que escrevi pode ter ficado confusa a compreensão de como meu estudo acrescentará para esse debate.

De fato, estudarei formação e adaptação de grupo. E um dos meus objetivos é estudar como se dá a adapatação de jogadores formados nas categorias de base ao grupo profissional.

Abraços!

 

Por Edison Yamazaki
em 12 de Junho de 2012 às 20:39.

Rafael,

Bastante interessante a sua pesquisa. Espero podermos entender um pouco mais dos bastidores do futebol quando seu estudo for concluído.

Mas a dúvida por aqui ainda continua.

O Japão venceu recentemente, pelas eliminatórias da Copa, Omã e Jordânia, que não possuem praticamente nada em relação ao futebol profissional. Com toda a estrutura que o país possui, não poderia ser diferente. Ou poderia? É essa á questão. Será que num país rico, sem grandes problemas econômicos e sociais, não deveriam sair mais atletas para servir a seleção?

No vôlei, o Japão foi eliminado de Londres, perdendo para Porto Rico e terá que esperar mais quatro anos até o Rio de Janeiro. Aqui não falta material e local de treinamento. Todas as escolas possuem quadras cobertas e campeonatos infantis existem aos montes, mesmo assim a formação da base é pouca.

Isso tem explicação?

Por Rafael Moreno Castellani
em 25 de Junho de 2012 às 11:09.

Olá Edson!!

Vários fatores podem explicar.

Em relação ao futebol, no Brasil, nitidamente trata-se de uma questão cultural. Nossos jogadores cresceram jagando bola, seja na rua, nas praças, nos campinhos... O significado que nós, brasileiros, atribuimos a esta prática é, muito provavelmente, diferente do atribuido pelos cidadaos de Oma, Jordania, etc.

A exposição de determinada modalidade na midia tb exerce grande influencia. Até para construção de políticas publicas. Lembra o bummm que foi quando o Guga se tornou top1 do mundo? Ou a crescente participação no volei com o sucesso de nossas seleçoes masculinas e femininas? O com a ginástica com a Hipolito e Daiane?

Enfim... ,sao mais alguns pontos para reflexão.

Abraços!

Por Edison Yamazaki
em 25 de Junho de 2012 às 19:03.

Rafael,

Acredito que a cultura e a mídia exercem grande influência em alguns esportes. O tema que discutíamos era que sabemos como são as escolinhas de esportes dos países "ricos"  (Alemanha, França, Inglaterra, Holanda, Itália, Espanha, etc), que formam um contingente razoável de atletas para as suas seleções, cada um dentro da sua cultura.  Agora, como pode uma país como Porto Rico vencer o Japão no vôlei? Como podem ter tantos jogadores africanos nos principais campeonatos de futebol do mundo? Como pode uma seleção iraniana de futebol vencer uma japonesas, se as condições de treinos, aulas, professores, centros esportivos são tão diferentes?

A questão que discutimos é: "a infra-estrutura, qualidade dos profissionais e centros de treinamentos fazem tanta diferença no processo de desenvolver jovens talentos?"

Por Rafael Moreno Castellani
em 12 de Julho de 2012 às 19:39.

Oi Edson!!

 

Me desculpe por fugir da questão inicial de discussão! rsrrsrsrsrs

Voltando à questão, acho que isoladamente não dão conta.

Pensemos nas questões:

Onde treinam os atletas de Porto Rico? Sob quais condições treinam? Com quem treinam? Há quanto tempo treinam e competem?

Analisar e compreender essas (e outras) questões é fundamental para instrumentalizarmos e sustentarmos nossas opiniões. Carecemos de mais estudos, não é?

Abraços!

Por Edison Yamazaki
em 12 de Julho de 2012 às 21:06.

Rafael,

É verdade de que nos faltam estudos e informações sobre as condições de treinos em países menos privilegiados economicamente, mas é dificil de entender como países como Iraque, Irá ou Azerbaijão, que não devem possuir sequer uma liga profissional, complicam a vida de australianos e japoneses nas eliminatórias para uma Copa do Mundo? No vôlei a situação é ainda mais incompreensível pelas diferenças econômicas e estruturais dos países envolvidos.

Mesmos sem estudos mais profundos sobre o "problema" dá para perceber que existe alguma coisa "diferente" na  questão.

E a Jamaica de Power e Bolt? Os nigerianos?

Abraços,

Por Roberto Affonso Pimentel
em 13 de Julho de 2012 às 08:21.

Professores,

Lendo e relendo os comentários, podemos resumir (mas não concluir) alguns fatores que influenciam na produção de talentos. A sequência não está hierarquizada segundo os valores. Foram eles:

1) Condições de treinamento na Formação; 2) Condições econômicas dos indivíduos; 3) Formação dos profissionais pedagogos; 4) Motivações culturais e ocasionais (marqueteiras); 5) Fisiologia e biotipo dos indivíduos.

O Rafael ainda pouco indagava sob quais condições treinam os atletas? Com quem treinam? Há quanto tempo treinam e competem? E conclui que há necessidade de pesquisas a respeito. Pois foi o que disse constar no livro "O código do talento", resultado de pesquisas por várias partes do mundo. Se encontrarem outra, ótimo, Mas enquanto não, por que não estudá-la e examiná-la empiricamente? É uma teoria consistente que deve ser analisada e não se ficar à espera que algo mais caia do céu. Afinal, Coyle não estava brincando quando se dedicou a pesquisar por anos, viajando o mundo.

Segundo compreendi, Coyle afirma que não é fundamental o dinheiro que se investe, mas o conhecimento do que seja "como ensinar alguma coisa a alguém". E é por isto que se diz que "Ensinar é uma arte". Não basta ao mestre ter conhecimento do assunto a ser ministrado, ele precisa de muito mais do que isto, inclusive AMOR. Além disso, o verdadeiro mestre não está focado na produção de talentos, mas tão somente na realização do indivíduo sob a sua tutela momentânea. Mas sabe que pode influir eternamente em sua vida. Poderão perceber isto lembrando-se de seus professores no ensino médio, na matemática, física, química, história e na própria Ed. Física. Que influência tiveram em suas vidas?

De onde se conclui que, a exemplo das questões vestibulares, existe uma sexta opção entre as arroladas inicialmente, qual seja: "Nenhuma delas".  

Isto significa que estamos todos contaminados pelos interesses econômicos e pessoais das classes dirigentes que manipulam o que o povo deve ou não deve fazer. É muito difícil escapar desse domínio, especialmente quando ainda se é novo e disputamos uma vaga no mercado.

E, assim, esquecemo-nos de focar o assunto no ponto mais importante: o MESTRE e COMO ele ensina. Sugiro a leitura do livro de David Wood, "Como as crianças pensam e aprendem". Entendo que para ensinar o indivíduo deve se identificar com o instruendo e perceber suas dificuldades e potencialidades e, dessa forma, contribuir para o seu pleno desenvolvimento. O que assistimos é a verborreia de instruções que não são assimiladas pelo aluno.

Por Rafael Moreno Castellani
em 18 de Julho de 2012 às 11:10.

Olá Roberto...

De fato, a leitura e conhecimento de tais obras parecem ser fundamentais para uma maior compreensão acerca deste debate. Irei procura-las e, na medida do possível, farei a leitura e análise de ambas.

Depois volto aqui para continuarmos nossa conversa.

Obrigado!

Abraços,

 

Por Roberto Affonso Pimentel
em 19 de Julho de 2012 às 10:27.

Rafael,

Admiro seu grande interesse sobre a matéria. Acabo de postar em outra comunidade que criou sobre suas pesquisas na área da psicologia (em Espanha). Vá fundo que terá a sua recompensa, pois naquela biblioteca terá obras de autores do mundo inteiro.

Todavia, lembre-se que a Psicologia Pedagógica é universal e vem sendo pesquisada por centenas de bons autores que publicam suas teorias. E elas se aplicam a todo e qualquer tipo de ensino humano. Como a Educação está sempre em movimento, é bom se apressar e a colocar em prática tudo que lê, sempre desconfiando e não aceitando simplesmente, pois, nas suas práticas, você se tornará um eterno pesquisador, sempre tentando realizar o melhor.

É um estudo que não tem fim. E, lembre-se, você certamente poderá influenciar seus discípulos por toda a eternidade. Esta, a sua grande responsabilidade! 

Por Edison Yamazaki
em 20 de Julho de 2012 às 02:27.

Tratar sobre pesquisas e conhecimentos pedagógicos me encanta pois nos permite entender uma série de coisas. E parece que neste aspecto vocês (Roberto e Rafael) não ficam atrás.

Quando coloquei em pauta esta discussão, foi porque notamos que os times mais badalados da atualidade (Real Madrid, Barcelona, Internazionale, Milan, Roma, Bayer, Chelsea, Manchester, Arsenal, etc) possuiam em seus elencos poucos jogadores formados nas bases dos seus respectivos países. Fizemos uma contagem rápida e percebemos que apenas 30%(em média) dos jogadores eram das suas respectivas nações. Nas posições "chaves" (goleiro, zagueiro central, meio campistas e alguns atacantes) esse índice era ainda menor. Existem equipes que não possuiam nenhum jogador da base no seu meio campo.

Pelos comentários postados aqui parece que os métodos de treinamentos, as qualidades dos centros esportivos e a quantidade dinheiro investido interfere de maneira positiva, mas o que conta mesmo é a maneira diferenciada de como ensina o professor. Essa maneira de ensinar é que é o diferencial, por isso, os países com menos recursos também criam talentos em abundância.

Aí vem a pergunta: "será que os países ricos não sabem disso ou preferem continuar com seu métodos arcaicos de ensinar?

O Japão faz parte dos países mais ricos do mundo. Por aqui não faltam materiais, instalações, torneios, treinos e escolas. Não existe analfabetos, as aulas são em período integral, a tecnologia é de primeira, enfim, a infraestrutura do país é moderna e eficiente. Será que se transmitirmos os conceitos sobre métodos de ensinos, novas pedagogias e outras derivadas relacionadas à pedagogia do ensino esportivo, sairão mais talentos da base? É a dúvida que martela a cabeça dos investidores japoneses.

Deixar as crianças o mais livres possíveis, dando-lhes apenas as coordenadas básicas e expandindo os conceitos básicos do futebol serão suficientes para surgirem mais jogadores de qualidades?

 

Por Roberto Affonso Pimentel
em 20 de Julho de 2012 às 15:57.

Edison,

O último parágrafo nos transporta às propostas piagetianas do estruturalismo. Enquanto isto, seu contemporâneo russo Vygotsky nos aconselha a propor também que se leve o aluno a pensar por sim mesmo antes de realizar qualquer tarefa, todavia com uma diferença: o mestre deve estar por perto para perceber suas dificuldades e, de maneira sutil, ajudá-lo no mínimo possível. É o que ele, Vygotsky, denominou de "zona de desenvolvimento proximal". Só que tal procedimento é bastante difícil e poucos professores conseguem fazê-lo. Trata-se de quanta assistência, quanto de instrução deve ser passada ao aluno em determinado instante ou tarefa. Muitas vezes falar de mais dificulta o bom entendimento, em outras, um simples gesto ou olhar é suficiente; enfim, depende muito da relação do mestre com seus alunos. E eis aqui um desafio meu: quem você conhece que percebe isto com profundidade? Certamente, o que se vê através dos tempos, passando de geração em geração, é o professor construir uma série de exercícios - praticamente em qualquer ensino, letras e ciências - e mandar que seus alunos os executem. Tornou famoso como “o professor ensina e o aluno aprende”. Enquanto isto, provavelmente estará conversando com um colega ou lendo um jornal. Vejo isto na natação, no futsal, no voleibol a todo instante. Causa: não se aprende absolutamente nada em matéria de Metodologia e Psicologia Pedagógica em qualquer momento universitário.

Os clubes no Brasil tradicionalmente não acreditam que um professor de Ed. Física que nunca tenha praticado o futebol tenha condições para ser um bom treinador. Então, os disponíveis são os ex-jogadores. Há internamente uma especialidade que tais treinadores quase sempre não dominam e, contratam-se especialistas: os treinadores de goleiros e os preparadores físicos, estes sim, profissionais da área. Assim, vão-se enganando e, no troca-troca de técnicos, brincam de gastar e ganhar dinheiro. Contudo, repassam uma imagem para a sociedade de ceticismo, da crença de que o estudo, a pesquisa e o bom entendimento são meras formalidades e, o cursinho de treinador de 1-2 meses é satisfatório. É certo que a grade curricular das escolas de educação física não pretende tornar técnicos da noite para o dia, mas prover os estudantes de conceitos psicopedagógicos é fundamental.

No Japão, p.ex., o voleibol era muito pouco praticado. Mas, após um administrador de empresas – Matsudaira – ter engendrado um planejamento de oito anos, o país tornou-se uma potência mundial: venceram as olimpíadas de 1964 (feminino, Tóquio) e de 72 (masculino, Munique). O que teria ele feito para tal desenvolvimento? Creio que você poderá recorrer à Federação japonesa de voleibol e pesquisar os relatórios desde 1960. Ele se notabilizou por pensar e produzir condições de realização. Certamente foi criativo e teve todo o apoio. A partir dele, os outros só copiam, nada se cria. E aqui quem tem razão é o francês Lavoisier. Nota: tenho um filme (20min) que ele produziu e realizou palestras pelo mundo contando como fez.

Para sentir como pensam a maioria das pessoas, ele esteve no Brasil em 1975 e realizou um curso no Rio de cinco dias (noite). Suas palestras concentraram-se em movimentos na quadra - exercícios e explicação de aquisição de fundamentos - mas com a dificuldade da língua (intérprete) e do tempo, ficou gravado na mente das dezenas de treinadores assistentes, apenas os exercícios formulados... O pensamento, a estrutura psíquica que foi transmitida aos jogadores pouca atenção foi dada. O que se viu a seguir, foi a repetição dos exercícios do novo modelo japonês. E isto virou uma tremenda bagunça durante algum tempo. Em 1973-74, a seleção brasileira já tinha um outro paradigma - os búlgaros - que em uma excursão ao Brasil, posaram de modelos na quadra para serem filmados e, posteriormente exibidos aos tupiniquins.

Afinal, paramos e pensamos... ou continuamos a repetir? To be or not to be? (dirão os ingleses agora nas arquibancadas).

Volto a aconselhar que leiam e dissequem a obra de Daniel Coyle, O código do talento. É imperdível.

Por Edison Yamazaki
em 25 de Julho de 2012 às 20:38.

Roberto,

No Brasil os clubes esportivos e sociais possuem em seus quadros vários professores de Ed.Fisica. Nas academias também. Talvez a única exceção seja em algumas áreas da musculação, onde ex-atletas muitas vezes ocupam a vez dos formados.

No Japão não existem clubes aos moldes brasileiros. Praticamente tudo por aqui é feito nas escolas de ensino fundamental e ou nas escolinhas dos times profissionais. Nas escolas de ensino fundamental, a aulas de Ed.Física são ministradas pelos professores de várias cadeiras (matemática, ciências, etc). Nas escolinhas das equipes profissionais, os treinos estão sob o comando de ex-jogadores ou de contratados temporários, que são alunos de faculdades em busca de um salário durante as suas férias. Aí, aqueles que acham que entendem um pouco de futebol, procuram as escolinhas dos times e se oferecem para trabalhar em troca de alguns ienes por hora.

Mas o Japão é fraco no futebol e praticamente inexistente no cenário mundial. O que nos deixa "encafifados" são os times europeus que possuem tradição e pagam os melhores salários do mundo.

Por Roberto Affonso Pimentel
em 26 de Julho de 2012 às 09:18.

Edison,

Deixe seu lado japonês falar mais alto e, sem modéstia, exclamar bem alto: Somos campeões mundiais... no feminino"! Além das grandes chances de medalha olímpica.

Estaremos torcendo pelo sucesso delas, lembrando um pouco da história. Em 1960, no Brasil, as moças japonesas foram vice-campeãs e, logo em seguida, em 1964, campeãs olímpicas em sua capital. Quase me atrevo a dizer que para se afirmar na sociedade machista, elas trilham caminhos que as igualarão aos homens. Segundo o noticiário, a equipe masculina de futebol viajou em 1ª classe no avião para Londres, enquanto as meninas, campeãs mundiais, em classe econômica, o que gerou protestos e ser]ao atendidas no futuro. Pelos menos, esperam que sejam. 

Pelo lado masculino, infelizmente elegeram um ex-jogador como guru - o Zico - que, como jogador foi excelente, mas nunca foi ou será um formador de atletas de futebol. Criou uma escola particular no Rio, empregou muitos de seus amigos (ex-atletas) e fingem que ensinam futebol como a maioria.

Ainda sobre o tema - "Países ricos...." - creio que alguém mais categorizado do que eu (são muitos) poderia nos ilustrar sobre os aspectos sociais que envolvem a procura da prática do futebol pelas crianças (por incentivo dos pais) especialmente nos níveis de classes sociais menos assistidas. Creio que onde há riqueza não há por quê deixar de estudar para ascender social ou econicamente, mas frequentando boas escolas e universidades. No máximo, a prática prazerosa satisfaz, aqui denominado o "futebol soçaite". De resto, o esporte passivo, praticado das arquibancadas ou da poltrona sorvendo uma deliciosa cerveja. 

Por Edison Yamazaki
em 30 de Julho de 2012 às 02:25.

Roberto,

Apostei e ganhei dizendo que o Japão venceria a Espanha. Não sei bem o motivo, mas não acompanho o pensamento de grande parte dos que elogiam o time olímpico espanhol. A seleção principal venceu a última Copa e é fato que o Barcelona, e o Real Madrid também mostram ao mundo um futebol envolvente. O problema é que metade dessas equipes são formados por estrangeiros, e isso, remete à pergunta dessa discussão: "Países ricos formam poucos na base".

Por pior que esteja a economia espanhola, ela ainda é infinitamente superior a hondurenha, que também venceu a Espanha.

Em relação ao futebol feminino, as meninas japonesas são as campeães mundiais, mas acredito que isso se deve mais à alguns fatores que conjuntamente levaram ao título. Cito como alguns desses fatores: pouca pressão por vitórias, desconhecimento das dificuldades para chegarem ao título, grupo unido e sem estrelas, treinos simples que se encaixam no perfil das atletas, esquema tático baseado no conjunto, sem individualismo exagerado.

O investimento no futebol masculino também segue o mesmo padrão da maioria dos países envolvidos. Muito dinheiro pra um e pouco para elas. No Japão, o futebol feminino está numa posição melhor que o masculino porque ainda não existem muitas influências dos "treinadores geniais", aqueles que seguem a pedagogia dos cones e fazem os atletas darem tiros de 400m. O feminino ainda não sofre a influência dos "grandes estrategistas" e seu futebol é está mais para uma grande e feliz brincadeira do que para ganhar títulos. E é exatamente essa "irresponsabilidade" que traz leveza à equipe.

Em relação a primeira classe dos homens e a classe econômica das mulheres, acho que resposta está no parágrafo acima. Num país essencialmente masculino como é o Japão, onde até pouco tempo as mulheres andavam a um passo atrás dos homens em sinal de respeito, não é de se estranhar essa atitude.

Mas o que faz uma Honduras, tão pobre, jogar de igual para igual com Espanha e Japão? Será que a falta de estrutura e de dinheiro deixam os atletas mais criativos?

 

 

Por Roberto Affonso Pimentel
em 30 de Julho de 2012 às 16:01.

Edison,

Certamente que sim! Como disse, duvido que uma moça moradora na praia de Ipanema no Rio de Janeiro vai se candidatar a uma vaga na seleção olímpica brasileira de futebol ou mesmo de voleibol. Ou que alguma aluna da PUC esteja em qualquer seleção brasileira. As opções de melhorar na vida estão diariamente nas TVs anunciando os salários milionários de alguns que, o pobre, acredita que um dia será contemplado. É a sua chance de sair da miséria, da pobreza e contribuir para que ele e sua família possam ingressar em outro mundo. Sempre foi assim e ainda mais hoje quando o espírito olímpico já foi há muito tempo para o espaço, dando lugar ao dinheiro.

Veja o comentário da Ana Moser neste CEV sobre a família e o destino dos ex-medalhistas de solo. Para não falarmos daqueles que também se sacrificaram e não conseguiram chegar ao topo. A legião de ex-jogadores de futebol no Brasil é outra constatação. E não creio que o COB consiga alojar tantos ex-atletas (só os campeões) em seu celeiro, muito embora a casa esteja repleta, haja vista o chefe da delegação olímpica em Londres. Enquanto isto, muitos se dedicam ao estudo com bastante tenacidade, sofrem humilhações, são preteridos por indivíduos sem a mínima capacidade e todos acham que é normal, pois o que sabem eles a respeito do esporte se nunca o praticaram? Assim, os cartolas mantêm o poder, tanto no esporte quanto na política. A valorização do desempenho esportivo está acima da Educação. Muitas vezes sinto até vergonha! Vejam que a greve nas universidades brasileiras ultrapassou os 70 dias e o ministro deve estar vendo o vôlei de praia no quintal da rainha, em Londres. E também os biquinis.     

Por Edison Yamazaki
em 1 de Agosto de 2012 às 03:03.

Roberto,

Pelo jeito praticar esportes e chegar ao alto nível são para os menos favorecidos economicamente. Eles tiram forças para ultrapassarem as barreiras quando visualizam a possibilidade de mudarem de status. A casa própria, o conforto para os familiares é que são os verdadeiros "doping" desses atletas. Se der sorte de pegar um bom professor/treinador, as chances aumentam consideravelmente.

As condições de infraestrutura tem o seu peso mas a vontade de sair da miséria é mais forte do que ônibus lotados, tênis de tamanho menor, calções rasgados, camisetas surradas, pistas esburacadas e outras tantas humilhações.

Se os países ricos formam tão pouco nas bases do futebol com suas próprias crianças, isso significa que um dos fatores para a ascensão é a necessidade de vencer na vida sem ter tido a chance de frequentar boas escolas. É trocar a falta de estudos por treinos e mais treinos. Se assim for, os métodos utilizados devem ter pouca influência, pois jovens promissores de países pobres aparecem todos os dias em diferentes clubes ricos. Será que se os métodos de treinamentos forem melhores apareceriam mais atletas de alto nível?

Roberto... em relação ao Brasil percebo que as coisas não mudaram muito nos últimos 30 anos. As greves continuam existindo, o pouco caso com os estudos e a falta de cidadania ainda imperam. Sei que tudo isso está relacionado à educação de uma maneira geral, mas há tempos percebi também que o brasileiro como indivíduo tem uma parcela enorme de culpa porque numa dificuldade, a primeira coisa que eles deixam são os estudos. E aí, como disse uma amiga italiana: "somente a burrice não tem solução". Os políticos dominam o país e sempre utilizaram o esporte como trampolim para suas aspirações. É apenas uma "chute", mas acho que em todos os clubes brasileiros existe um político em sua diretoria, atento aos acontecimentos para sair atrás de votos.

Marin na presidência da CBF é uma brincadeira de mal gosto. Ele ter roubado a medalha na Copinha foi lamentável.

 

Por Roberto Affonso Pimentel
em 2 de Agosto de 2012 às 12:15.

Edison,

Treinos e mais treinos (...) não justificam ou formam um virtuoso. Creio que ainda não leu a tese defendida por D. Coyle (O código do talento). Seria interessante, segundo ele, que esses treinos fossem convenientemente aplicados de forma correta. Além disso, alguns outros fatores, é lógico, vão favorecer o aparecimento dos "diferenciados".

Positivamente, no Brasil, quem assiste às crianças e jovens - no caso do futebol - são ex-jogadores e professores universitários. Pelo nível intelectual da maioria dos envolvidos, seus estudos em psicologia pedagógica, isenção (salarial) profissional, você acha que as crianças estão bem entregues? A sorte é que "Deus é brasileiro"!  


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