O Laércio costuma comentar as mortes ocorridas com os ‘da educação física’ perguntando porque só morre gente do nosso lado, seja, porque ‘os bons’ são os primeiros a irem ‘para o andar de cima’?

Esse o sentimento ao saber, ontem pela manhã, da morte do Djalma… o conheci em 1976, quando vim a primeira vez a São Luis. Alí, no Ginásio Costa Rodrigues. O Carlos Alberto Pinheiro e o Laércio me apresentaram ao Djalma. Depois soube que era marido de uma pessoa que se tornou uma dileta amiga, a Maria José… amiga de todos, assim como Djalma.

Nessa época, ele era o ‘marido da Maria José. Depois, fiquei sabendo que era político. Fora Vereador e Deputado Estadual… só depois, atleta - e dos bons. Daqueles do tempo romantico do futebol, quando se jogava por paixão e amor ao clube. Sua biografia, publicada em todos os jornais de hoje, o demonstram.

Pena que Djalma não conseguiu vencer a atual crise de nossos times profissionais. Tentou. Lemos que após o último jogo, considerou missão cumprida. Premonição da morte? Quem sabe dos mistérios que se nos reservam…

Leio, ainda, que Djalma estará sempre, na memória daqueles que adoram o futebol-arte. Não aquele dos ‘cabeças-de-bagre’ e ‘pernas-de-pau’ que estamos acostumados a acompanhar no ‘esporte-bretão’ de hoje… Será, para sempre, titular de qualquer seleção maranhense que se forme… e olhe que é difícil formar essa seleção, especialmente se a estendermos seus ‘escolhidos’ de década de 40 para cá. Mesmo assim, Djalma estará lá… como titular…

Ontem, pela manhã, o Zeca Soares mandou-me mensagem perguntado o que tinha sobre Djalma… Nada! apenas citações e citações dos nossos craques, das reportagens dos Biguás - Onde anda voce? - citando-o como exemplo de homem, de companheiro leal e exemplo a ser seguido, dentro e fora do campo. Um craque…

Esse, era o Djalma. Mazé, sinto muito.   

Leopoldo,
Tem também outra frase que eu costumo aplicar no desalendo desses momentos: “A morte é uma coisa com a qual eu não concordo”. Com essa notícia constato que o Djalma, além de um amigo presente, era discreto. Sei pouco dele. Lembro do sorriso cordado e das brincadeiras contidas, sempre a favor dos amigos e do bom astral. Sempre que parte um amigo fica o vazio de não termos dado a atenção devida, nem termos conversado o suficiente. Vou de frase, outra vez. Do Millôr Fernandes: “O chato é que a vida passa enquanto estamos fazendo outras coisas”. Laércio (de Maceió)

Sobre Djalma...

Uma morte prematura que deixa muitas saudades no meio esportivo. Djalma Campos já não está entre nós, só as lembranças daquele que foi um dos grandes jogadores de futebol de salão e futebol de campo do Maranhão. Ele sofreu um ataque cardíaco fulminante na manhã desta quinta-feira, 06 de agosto.

Nas décadas de 1960/70 foi o dono da camisa 8. Em campo levantava a torcida tricolor, quando dava dribles desconcertantes nos adversários ou armava jogadas infernais, que muitas vezes culminavam em gols. Era considerado por muitos como o maior craque maranhense de futebol. Djalma Campos era de uma timidez peculiar.  

Quando atleta só não passou despercebido porque simplesmente era o ‘fino da bola’ como meia direita. Em campo levava a torcida do Sampaio Corrêa ao delírio quando dava dribles desconcertantes nos adversários ou armava jogadas infernais, que muitas vezes culminavam em gols. Um ídolo, que até hoje é lembrado pela geração que o viu jogar.Ele pertencia a uma família boliviana (torcedor do Sampaio) de carteirinha.

Nasceu em Viana e veio de lá ainda pequeno, pois a família Campos se mudara para o Desterro. Com cerca de 12 anos, demonstrando muita habilidade com a bola, seu pai, Djalma Gomes Campos, só pensava no filho jogando no Sampaio. Mas no começo da carreira profissional quis o destino outra trajetória ao garoto.

As primeiras peladas foram no campo de piçarra em frente à igreja do Desterro, ao lado de outros craques como Santana, João Bala, Jovenilo e às vezes Fifi. Jogou depois no São Cristóvão, no Santos e Botafogo do Anil (do “seu” Chuva) e lógico, no 2º quadro do Esporte Clube Desterro, que o pai dele dirigia.Sempre junto, o quinteto do bairro jogava por música. Era como se um entendesse o pensamento do outro, de tanto que davam certo em campo. O goleiro Campos, querendo vê-los no Maranhão Atlético Clube - MAC, apresentou-os ao técnico Calazans, que nem se dignou a assisti-los jogando. Foram para o Graça Aranha e lá atuaram por um bom tempo.Por volta de 1965, quando Antônio Bento Farias (já falecido) vendeu quase todo o time profissional do Sampaio, Djalma foi convidado a sentar no banco. Entrou no 2º tempo e deu um show com a incrível habilidade que tinha, herança dos jogos de futsal, que aconteciam na quadra do Quartel da PM, onde hoje é o Convento das Mercês.  

PRIMEIRO NO MOTO

Simples, habilidoso, inteligente e líder natural, já chamava a atenção dos dirigentes. Só que em 1968 o paraense Guido Bettega foi mais esperto: comprou o passe dele e deu de presente ao Moto. A família inteira de Djalma virou-lhe as costas. Querendo acima de tudo se firmar na profissão, o craque jogou muito bem a temporada e levou o Moto a ser tri-campeão estadual e campeão do Norte. O time era formado com Vila Nova; Paulo, Alzimar, Alvindaguia e Corrêa; Ronaldo e Santana; Djalma e Amauri; Pelezinho e Ribamar.Em 1969 o Moto perdeu o título para o Maranhão Atlético Clube.

O Sampaio, que não ia bem na disputa do Nordestão, pediu emprestado Djalma.  Finalmente vestindo a camisa tricolor, o meia direita, já com 23 anos, encantou a torcida e os dirigentes. Quando Guido Bettega deu-lhe passe livre, ele foi imediatamente chamado para integrar o Sampaio. Era a época dos dirigentes José Carlos Macieira, Humberto Trovão, Ari e Zé Barbosa .O presidente Rupert Macieira, que substituía Walter Zaidan, resolveu montar o “Sampaio Setentão”. Contratou o técnico paraibano Edésio Leitão. Djalma finalmente resolveu encarar o profissionalismo com mais determinação. Passava a andar em casa de chuteiras para se adaptar. Após os treinos ficava sozinho cobrando faltas e aperfeiçoando seus chutes. O resultado não podia ser outro. Em campo levava a torcida à loucura, principalmente com suas jogadas de futsal, sua maior “escola”.  Mesmo com tanta aplicação, o título foi novamente para o Maranhão Atlético Clube, bi-campeão Estadual.

Com o nome já consagrado concorreu às eleições para vereador e assumiu a Câmara Municipal com mais de 2,5 mil votos. Em 1971 passou a dividir suas atenções entre a vida parlamentar e a de jogador. Logicamente pesavam mais as atividades do campo de futebol. Mesmo com um timaço, que tinha Roberto, Edimilson  Leite, Gojoba e Pelezinho, o Ferroviário foi o campeão maranhense.

Em 1972 Djalma era o maior ídolo tricolor. A diretoria boliviana se preparou para jogar o Brasileirinho. Tendo a união como principal característica, o time foi campeão jogando com Jurandir; Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Valdecy Lima; Gojoba e Edmilson Leite; Lima, Djalma, Pelezinho e Jaldenir. Técnico: Marçal Tolentino Serra.

A pedido da diretoria e da torcida, entrou numa briga para ver quem tinha mais votos para vereador: Djalma (Sampaio) ou Faísca (Moto). Foi reeleito com cerca de 4,5 mil votos contra 3,1 mil de Faísca.

Aproveitando o time campeão do Brasileirinho, o Sampaio partia para a disputa do título estadual. Na decisão contra o Moto um contratempo. O goleiro Jurandir pediu dispensa e Campos estava doente. O atacante Zezé entrou improvisado no gol. Na linha estavam Ferreira, Neguinho, Nivaldo e Eraldo (Valdecy); Gojoba e Edmilson Leite; Lima, Djalma, Pelezinho e Jaldeny (Vamberto). O empate em 1 x 1 deu o título ao tricolor de São Pantaleão. 

Em 1973 o Sampaio parou. No ano seguinte concorreu a um mandato de deputado estadual e foi o terceiro mais votado com quase 14 mil votos.

Nesse mesmo ano o tricolor ia ao Campeonato Nacional com um excelente time, que tinha Orlando (Portuguesa); Marinho (Paraná), Moraes (bi-campeão pelo Cruzeiro), Raimundo e Santos (Portuguesa), Lourival (sudeste), Sérgio Lopes (Curitiba), Buião (Atlético MG), Dionísio (Flamengo), Ailton (S.Paulo) e Djalma. Técnico: Alfredo Gonzalez. Preparador Físico: Gualter Aguirre.

Vencendo em São Luís do Vasco (2 x 0), do Botafogo (2 x 0), do Fluminense (3 x 1) e do América (1 x 0) , não se classificou porque perdeu todos os jogos disputados fora. O craque só voltou aos campos no final de 1975, quando já estava na presidência do Sampaio. Isso porque praticamente às vésperas da decisão o meia Joel adoeceu e como o técnico Rinaldi Maya não tinha substituto, Djalma não pensou duas vezes. Entregou o posto a Chafi Braid e voltou a jogar, levando o time a conquistar o campeonato estadual. Na decisão contra o Moto o Sampaio venceu de 1 x 0 (gol de Acy), quebrando um tabu de dois anos e 11 meses sem vitória sobre o time rubro-negro.Em 1976 Djalma não jogava mais.  Reassumiu o posto de presidente. O Sampaio foi bi-campeão maranhense.

Participando do Campeonato Brasileiro, o clube tinha como técnico Djalma Santos. Quando foi jogar no Rio de Janeiro, o técnico falou mal do trabalho desenvolvido pelo clube. Foi demitido lá mesmo. Com a má campanha do time (derrotas de 5 x 0 para o Volta Redonda e 7 x 1 para o Flamengo), Djalma Campos assumiu os ônus e apresentou sua renúncia.

Em 1978 voltou a concorrer a reeleição de deputado estadual, mas não venceu.  

FUTSAL, GRANDE ESCOLA 

Djalma era um atleta completo. Além de se dedicar inteiramente à prática desportiva, não fumava e não ingeria nenhuma bebida alcoólica. A habilidade que mostrava nos campos de futebol foi adquirida nas quadras de futebol de salão. Desde garoto, com cerca de 16 anos,  já se sobressaia no Atenas. Quando o Sampaio montou sua equipe juvenil, ele foi convidado a fazer parte dela. Era a época de times como Vitex, Elmo, Flamengo (Monte Castelo), Real Madri e ainda o Drible.

Em 68, já como profissional, convidado a jogar pelo Drible, disputou a Copa Brasil com o nome do irmão Delmar. O time não teve tempo de se preparar e perdeu todas. Djalma fez a parte dele. Tanto que foi considerado o melhor jogador da competição.Ele foi incomparável com a bola pesada no pé. Um verdadeiro craque, daqueles que jamais dava um chutaço. Em compensação desmoralizava os goleiros com colocadas geniais. Apesar de ter marcado inúmeros gols, sua maior preocupação era armar as jogadas para outros artilheiros.

Muitos técnicos e ex-jogadores comentam que mesmo sendo hoje, com o vigor físico sendo uma característica dos atuais atletas, Djalma jogaria em qualquer grande equipe do país, porque teve como maior qualidade a inteligência. 

COMO VIVEU 

Nada de álcool ou cigarro. Djalma Campos, nascido em 1946, era um senhor recatado. Continuava sem fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Nem cerveja, “só se colocassem açúcar, porque é amarga”, como ele mesmo dizia. Tinha três filhos adultos do primeiro casamento: Djalma Neto, Soraya e Solange. Do segundo casamento com a vereadora vianense Maria José, teve Fábio. 

Em 1988 concorreu às eleições para prefeito de sua terra natal, Viana e venceu. Ao longo de sua vida pública foi ainda Diretor Executivo e Vice-presidente do Instituto de Previdência do Estado do Maranhão - Ipem.

Em 2005, como assessor da presidência da Assembléia Legislativa, por gratidão ao deputado Manoel Ribeiro, resolveu assumir ao lado de Humberto Trovão, o departamento de futebol do Sampaio.  Como um humilde colaborador, cuidou dos detalhes que cercavam os treinamentos, as concentrações e as viagens.

Quem estava em campo viu que ele quase não era lembrado na entrega de medalhas aos campeões do Brasileiro da Série C. As glórias do título estadual também ninguém computou uma pequena parcela que fosse a esse colaborador.

Quem o viu craque, defendendo o Sampaio por longos anos, sabe que ele, como tricolor de coração, além de ter contribuído nos bastidores, torceu mais do que ninguém para que os títulos viessem.

Atualmente, Djalma Campos era diretor de futebol do Iape, time que lidera a Taça Cidade de São Luís 2009, invicto, com 10 pontos ganhos e que venceu o Sampaio, de virada, ontem à noite, por 2 a 1.

Esta foi a última emoção de Djalma Campos.Por isso nunca é tarde para dizer: Obrigado, Djalma! Você deixa saudades! 

DEPOIMENTOS DE QUEM CONVIVEU COM DJALMA

“Tive o desprazer de barrar Djalma no início de sua carreira como jogador, mas pude conviver anos depois com ele no Sampaio. Foi um grande jogador, grande amigo, excelente caráter, determinado técnica e taticamente. Uma pessoa, ímpar, que nasceu numa época errada. Se fosse num grande centro teria sido o 7 da seleção brasileira. A humildade era sua característica principal. Nunca humilhava ninguém, dentro e fora de campo“Eudes Calazans de Jesus75. Funcionário público. Ex-atleta do Moto e Mac e ex-técnico do MAC 

“Ele foi um Gênio com a bola nos pés. O melhor dentre os maranhenses que vi jogar. Grande amigo, humilde, extremamente profissional e que tinha o respeito de todos: imprensa, atletas, dirigentes, políticos e amigos. Foi um político dedicado. Defendeu o esporte e os atletas na Câmara Municipal e Assembléia Legislativa. Foi um Presidente do Clube que administrou sozinho. O Sampaio não tinha recursos quando foi Presidente. Caso tivesse as condições que o atual Presidente tem hoje, teria feito uma grande administração. Eu era fã incondicional dele.Chafi Braide. Funcionário público aposentado. Ex-Presidente do Sampaio Corrêa

“Djalma foi extraordinário. Um estilista de toque refinado, primoroso. Um dos melhores da época dele. Insuperável no futebol de salão, foi incomparável no meio de campo do futebol como armador. Era inteligente, disciplinado, educado, como poucos que passaram por aqui. Além de tudo recebia indistintamente todo mundo, principalmente a imprensa. Nunca foi capaz de dar uma declaração que menosprezasse uma equipe ou um colega adversário. Foi ímpar”Herberth Fontenelle Filho. Radialista, jornalista, comentarista da Rádio Mirante. Ex- Presidente da Fundação Municipal de Esportes e Ex-Secretário Adjunto da Sedel 

“Djalma foi um jogadores fora de série do futebol e futsal maranhense, daqueles que se tornava atração. A torcida ia a campo para vê-lo. Fintava e driblava como ninguém. Numa aposta, o zagueiro Marins, ex- Flamengo do Piauí, que ia estrear no Moto, disse que Djalma não o driblaria. Djalma foi para a linha de fundo e deu três fintas seguidas no Marins. A torcida  do Sampaio foi a loucura. Era tão “gente fina” que até os adversários o respeitavam.”Silvio Carlos Goncalves, Engenheiro, torcedor do Sampaio 

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