Cevnautas do Handebol,

A morte continua sendo uma coisa com a qual eu não concordo.

O Nicolau, ex-atleta da GM e São Caetano que vse tornou um grande escritor e historiador, foi mais cedo. Para os dedicados ao Handebol, e esportistas em geral, deixou, como artigo na Folha de São Paulo, a sua alegria em ter jogado Handebol, no artigo "Dança com Lobos":

http://cev.org.br/biblioteca/danca-com-lobos/

A fila teima em andar.  Orações e reverências para o Nicolau. Laércio

Historiador Nicolau Sevcenko morre em São Paulo aos 61 anos

15/08/2014  

Agência FAPESP – Morreu na quarta-feira (13/08), em São Paulo, aos 61 anos, o historiador Nicolau Sevcenko, professor livre-docente do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).  

Graduado em História pela USP, Sevcenko tinha doutorado em História Social também pela USP e pós-doutorado pela University of London, no Reino Unido. Além do interesse pela história cultural, moderna e contemporânea, o intelectual preocupava-se em divulgar o conhecimento para o público mais amplo.  

Sevcenko, que estava aposentado pela USP, também era professor de Literatura e Linguagens do Romance na Harvard University, nos Estados Unidos.  

Entre seus livros estão Orfeu Extático da Metrópole (Companhia das Letras/1992), Literatura como missão (Companhia das Letras/2003) e A Revolta da Vacina (reeditado em 2010 pela Cosac Naify).  

Em 1999, foi um dos ganhadores do prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas pelo livro História da Vida Privada no Brasil (volumes 3 e 4) (Companhia das Letras).  

Comentários

Por Afonso Nina
em 15 de Agosto de 2014 às 11:38.

Ao contrário dos fascistas espanhóis que davam vivas à morte pudéssemos bradar "morra a morte!",não perderíamos pessoas da qualidade de Sevcenko,que contribuiu e continuará contribuindo com a obra que fica, para o enriquecimento intelectual de quem gosta de ler coisas bem escritas,bem pensadas e apresentadas com esmero.

Uma lástima!

 

Por Laercio Elias Pereira
em 15 de Agosto de 2014 às 18:40.

Achei essa homenagem da historiadora Juliana Serzedello Crespim Lopes, professora da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, que pode ser conferido abaixo, na íntegra.

Nicolau Sevcenko e a bolinha de sabão

Via Facebook

“Eu queria poder ser ainda a graduanda maluquete que fui na virada do século. Não posso mais. Amanhã é dia útil e tenho que simplesmente ir dormir como se tudo estivesse normal. Não está. Entre tantas bizarrices, como a queda brusca da temperatura e do avião com um candidato a presidente dentro, tivemos no final da noite a notícia da morte de Nicolau Sevcenko. Se eu ainda pudesse ser quem já fui, passaria essa noite bebendo à memória dele, talvez tocando meu tambor até o dia raiar. Não me parece justo ir simplesmente dormir. Memórias bagunçam minha mente e vou tentar reuni-las aqui para tentar dizer o quanto Nicolau foi importante para mim.

Em 1997 eu era uma vestibulanda como todos os outros: cheia de dúvidas. Meus professores da escola sugeriram que eu prestasse história, mas eu nem imaginava que história era profissão. Um dia uma professora de redação, generosíssima, me levou até o departamento de história da USP para assistir uma aula. Ela sabia muito bem o que estava fazendo: era uma aula do Nicolau Sevcenko.

Foi a minha primeira experiência com o transe coletivo que eram as aulas dele. Eu tinha 17 anos e parecia ter entrado em um universo paralelo. Era uma aula sobre um homem que tinha vendido sua sombra. Era literatura mas era uma aula de história. Nicolau tinha um visual enigmático e um sotaque que misturava de tudo. Tudo nele era muito louco. Eu nunca tinha visto, em São Caetano, alguém daquele jeito. Quando saí daquela aula, eu finalmente sabia o que queria ser quando crescer: professora de história. Mais do que isso: eu queria ser uma professora de história que conseguisse criar dentro da sala de aula a experiência de supressão da realidade, ou de super imersão nela, que a aula do Nicolau tinha provocado em mim. Era isso. “Simples assim”, como dizia o professor sempre que dizia alguma coisa incrível que nunca ninguém tinha pensado.

E então eu fui parar ali. Nem sabia que existia esse negócio de pesquisa, de mestrado, de artigo, de congresso. Eu queria dar aula. Eu queria a chave daquele mistério. Eu queria viver experiências malucas na faculdade e eu podia ser aluna de Nicolau Sevcenko.

Um dia eu estava hipongando pelo departamento com a minha saia indiana fazendo bolinha de sabão com um galho de mamona que peguei no mato. A aula do Nicolau ia começar e eu me lembrei que era dia dos professores. Subi pra sala e ele já estava se preparando para falar. Cheguei no tablado e disse: hoje é dia dos professores, posso te dar um presente? Ele levantou: oba! Adoro presente! E então eu soprei uma bolinha de sabão em cima dele.

Ele brincou com a bolinha durante os segundos que ela existiu, sorrindo. Quando ela acabou, ele estava com os olhos cheios de lágrimas. Me abracou e disse: esse foi o presente mais lindo que eu já ganhei. Não sei se foi mesmo, mas a emoção dele era sincera. A aula começou.

São muitas as lembranças. Nicolau fazendo Pic com Nic para conhecer melhor os alunos. Seminário do Nicolau sobre raves com DJ e gelo seco. Nicolau sentando por engano na xícara de chá. Nicolau rebolando imitando Elvis Presley. As camisas floridas e o sapato plataforma do Nicolau. O ninho de mafagafo no cabelo do Nicolau. Claro que tem os textos, mas poxa, é em sala de aula que a genialidade do cara se apresentava.

Os anos se passaram e eu nunca mais o vi, até que hoje surge a notícia de sua morte. Eu sou professora de história há 11 anos e até hoje estou procurando a chave do transe coletivo que pude experimentar ali. Espero apenas que Nicolau tenha ido para um lugar muito louco, cheio de bolinhas de sabão pra ele brincar, e que nós, alunos dele que nos tornamos professores, possamos chegar perto do trabalho dele em nossas aulas, acendendo luzes e também fechando algumas portas do pensamento.

Saravá nosso mestre, muito obrigada!”


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