Cevnautas do Handebol,

Além da alegria acho que bateu a nostalgia. Peço licença pra colar aqui a nota que escrevi no Blog do Laercio, pedindo desculpas pra quem já leu lá  http://blog.cev.org.br/laercio/2013/as-meninas-do-handebol-e-a-danca-com-lobos/

As Meninas de Ouro do Handebol e a Dança com Lobos.

Demorô. O Volei chegou primeiro.

Quando criamos a Confederação Brasileira de Handebol, ainda na sede da CBD no Rio de Janeiro, em 1979 (mais tarde, na secretaria da CBHB em Aracaju, descobri que, apesar de estar na criação e ter assinado a ata, o meu nome desapareceu. Tem explicação: eu representava a Federação Maranhense de Handebol, que ainda não era oficial. No dia valia a Federação Maranhense de Desportos e acabou ficando o nome do presidente que não esteve na fundação. Teve um fotógrafo oficial exchpehrhto que coletou a grana e os endereços e nunca mandou as fotos. Vou seguir garimpando.

Na década de 1970, apogeu dos JEBs, a disputa era entre Handebol e Voleibol pra ver qual teria projeção internacional primeiro. O Voleibol, esporte menos praticado do que o concorrente na época, chegou alguns anos depois. O Handebol, como comemoramos agora, chegou só no século seguinte, ou 34 anos depois do que a gente achava que já dava.

Vou escrever mais sobre isto - e sobre os personagens do texto do Nicolau - nas próximas notas com o titulo "O meu presente das meninas do Handebol".

Por enquanto, celebro com o memorável "Dança com Lobos", que o escritor, professor de filosofia da USP e ponta dos nossos times da GM e de São Caetano, Nicolau Sevcenko, escreveu na Folha de São Paulo em 8 de agosto de 2004.

DANÇA COM LOBOS
ATACANTE DE HANDEBOL É UM SER INSPIRADO, OBRIGADO A DESENVOLVER RITMO E IMAGINAÇÃO PARA SOBREPUJAR A MURALHA TÁTICA DA DEFESA ADVERSÁRIA
por Nicolau Sevcenko

Vivi alguns dos momentos mais intensos da minha vida em quadras de handebol. O jogo era uma fissura, uma paixão, uma compulsão. Sempre que podia, passava na quadra o dia inteiro, treinando, jogando e, exausto, voltava para casa e ia dormir sonhando que continuava no jogo. Compartilhei das primeiras gerações que introduziram o handebol em São Paulo, entre os anos 60 e 70. Tudo era muito novo e excitante, não havia padrões de treinamento, de técnica, de formação tática, posicionamento ou de jogadas. Era um mundo novo para ser incorporado, vivido e inventado em plena ação. Era pura liberdade, explosão e imaginação.

Por sorte fiz parte de uma geração incrível. Entre o colégio e, depois, os clubes, em cerca de uma década, deu para encher uma sala de troféus e um baú de medalhas. Jogava no colégio Américo de Moura, heptacampeão dos jogos estudantis. Depois vieram o turbilhonante Juventus, o General Motors, o São Caetano e o Santo André. Eu era um finalizador, mas dependia, para cada movimento, de um grupo de autênticos gênios na armação: Vitché, um cérebro com braços e pernas; Cidão, um instinto com pernas e braços; Artur, a agilidade do vento e a visão da águia; Montanha, olímpico e gelado; Alberto (o atual técnico da seleção brasileira), o raio-X do jogo, de todo e qualquer jogo. Os goleiros eram prodígios: Rossini, Fred, William. E outros, muitos outros para mencionar aqui.

Há quem pense, porque o handebol é um esporte de contato intenso, que ele depende de físico, confronto e atrito. Ledo engano. Os segredos do jogo são sutileza, ritmo, presença de espírito e força de imaginação. Ao contrário do basquete, que implica uma marcação em estrela e uma área penetrável por todas as direções, no handebol a defesa se fecha numa coluna cerrada, e a área é zona proibida para os jogadores. Isso cria uma situação travada, com ataque e defesa se enfrentando num espaço superlimitado, entre a marca da área e a linha pontilhada dos nove metros. Com base só na força, sobretudo diante de uma defesa de molejo flexível, que avança e recua em bloco ao mesmo tempo, não passa nem a cavalaria americana.

O único jeito de fazer ruir essa muralha, é desestabilizando a sua unidade estrutural. Só há um modo de conseguir isso: dançando. Eis a revelação, o handebol é uma forma simultaneamente rigorosa e improvisada de dança. Diante de um adversário solidamente plantado, em coesão flutuante, é preciso criar redemoinhos, vários deles, em direções contrárias. O que ganha o jogo é graça, inovação, surpresa e coordenação coreográfica. Dançar, hipnotizar, desestruturar a concentração do oponente e correr para comemorar.

Claro que para conseguir esse resultado há fundamentos essenciais: técnica, controle de bola, jogo de equipe e um amplo repertório tático-estratégico. Preparo físico, como sempre, é crucial. Mas um jogador de handebol tem que ser acima de tudo um inspirado. Esse jogo abriu minha imaginação em dimensões que eu ainda estou explorando até hoje.

Que as seleções brasileiras brilhem em Atenas e inspirem esta nação nesses tempos tão turvos.

Nicolau Sevcenko é professor de história na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e autor de "Orfeu Extático na Metrópole" (Cia. das Letras), entre outros.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0808200404.htm

Comentários

Por Marcos Celestino de Souza
em 27 de Janeiro de 2014 às 21:35.

Ola Laercio,boa noite tudo bem?

Então,eu sou um admirador desse magnífico esporte também,e gostaria de saber se voce conseguiria me falar sobre um assunto,como você citou no inicio,que o vôlei conseguiu trilhar seu espaço primeiro,você saberia me responder atualmente o valor que a CBHb recebe atualmente de incentivo financeiro do governo brasileiro,e também de patrocinadores,porque eu creio que deve ser baixo em relação ao patrocinio do voleibol e do futebol nem se fale,e outros incentivos também se houver outros.Pois as garotas do Brasil com toda a garra faturaram esse ouro que me deixou muito orgulhoso,e creio que vários brasileiros também ficaram,os homens também estão num caminho muito bom na minha opinião,obrigado,abraço!

Por Laercio Elias Pereira
em 27 de Janeiro de 2014 às 22:20.

Marcos,

   Este é um ótimo assunto. O trabalho do Diagnóstico Nacional do Esporte, DIESPORTE, está trabalhando nisso, e quem ganhou a concorrência para realizar essa vertente do financiamento e está em campo é a FGV, chefiada pelo Prof Istvan Kasznar, que é o autor mais importante da área.

  Vamos começar pelo artigo da RBCE (que cita o trabalho do Prof Kasznar):

O Marketing Esportivo na Gestão do Voleibol Brasileiro: Fragmentos Teóricos Referentes Ao Processo de Espetacularização da Modalidade

http://cev.org.br/biblioteca/o-marketing-esportivo-gestao-voleibol-brasileiro-fragmentos-teoricos-referentes-ao-processo-espetacularizacao-modalidade

Laercio

Por Rafaela Silva Rezende
em 28 de Janeiro de 2014 às 02:32.

Tenho muita admiração pelo handebol, fui atleta da modalidade por 7 anos e me vem a tristeza em relação a sua desvalorização no brasil, pouco se pratica, há pouco incentivo. Quando é os olhares estarão à essa modalidade como vemos no futebol e até no volei? Qual é o real motivo? A falta de vitórias? A pouca vizibilidade? Está mais que na hora de esportes como o handebol terem seu espaço na mídia, o povo brasileiro precisa conhecer mais sobre essa modalidade, não apenas nas olimpíadas ou quando ganha-se um campeonamento importante como ocorrido atualmente e já logo esquecido.

Por Marcos Celestino de Souza
em 28 de Janeiro de 2014 às 14:05.

Laercio,boa tarde:

Entao muito interessante esse fragmento,vamos torcer que o prof. Istvan Kasznar obtenha sucesso nessa empreitada,

o Handebol merece esse reconhecimento,obrigado!abraço!


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