“Papelitos en la cancha” durante o Mundial de 1978 – resistência ou união ?

13/10/2015

Durante o mundial realizado na Argentina em 1978 a questão dos torcedores jogarem papéis no gramado se tornou uma espécie de símbolo popular polêmico durante todo o torneio, pois o conservador narrador da Rádio Rivadávia José Maria Muñoz com o aval da própria Junta militar, teria recomendado que os torcedores argentinos não adotassem essa tradicional comemoração em função da construção de uma imagem positiva e limpa do país no exterior.

Todavia, o humorista Caloi que participa tanto das edições da Revista El Gráfico durante o torneio, quanto da equipe do Clarín lança uma campanha para que o público continue apoiando a seleção respeitando assim o que seria uma característica tradicional da cultura futebolística do país, jogar milhares de pedaços de papéis picotados no momento em que a equipe entra em campo, através do popular personagem Clemente conforme destaca a historiadora Florencia Levín (2013)

“El detonante fue la campaña realizada por el famoso relator de fútbol, José Maria Muñoz, instando ao público a no tirar papel picado en las canchas quando saliera la seleccíon nacional en los partidos del Mundial (costumbre muy arraigada en la tradicíon futbolera local) para no dar al mundo la imagen de país sucio”. Y fue ese consejo el que Caloi recogío para realizar una serie de tiras en las que Clemente, contradiciendo las directivas de los militares y de Muñoz, instaba la gente a tirar “papelitos” em las canchas….

Hasta que punto esa campaña fue interpretada como una manifestacíon de oposicíon al gobierno y hasta dónde como un gesto de fervor patriótico oficial és algo difícil de estabelecer. Lo que sí sabe és que la campaña de Caloi tuve uma gran repercusíon en el público concurrente a los partidos y que el nombre de Clemente fue coreado em los cánticos de la hinchada futbolera e incluso su imagen fue proyectada en los tableros eletrónicos de las canchas. Así, com Clemente y su “campaña de papelitos”, el humor gráfico dejó de ser un elemento especular de los imaginários sociales para penetrar en la realidad misma y participar como elemento de aglutinamiento colectivo”.  ( 2013, PG 135-136)

A adesão popular entre os torcedores argentinos à campanha dos papeizinhos do personagem Clemente parece indiscutível quando observamos as fotos das partidas, as imagens dos jogos realizados pela seleção do país, além do próprio espaço destinado tanto nas tiras diárias do Clarín, nas aparições de El Gráfico e até mesmo em publicidades.

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 CLARÍN – 01/06/1978

O humorista Caloi chega a legitimar a campanha com César Luis Menotti em uma reportagem na qual o personagem entrevista o treinador argentino que é apelidado por Clemente de Massoti:

“CLEMENTE: Decí la verdade. A vos te gustan los papelitos?

MASSOTTI: Claro, viejo. Sin los papelitos que són como un símbolo del entusiasmo del público en un partido, no se podría jugar.

CLEMENTE: Vieste. Murióz no la entiende. La salida de la seleccíon el otro día fue espetacular. Y eso que en los accesos al estádio la cana le sacaba los diários y los papelitos  a la gente”. (El Gráfico:3061, PG.31)

Não é possível afirmar se houve efetivamente repressão por parte das autoridades policiais aos torcedores que levavam jornais para os jogos da Argentina, porém pode-se perceber que a questão dos papeizinhos se tornou em um marco simbólico da participação popular durante o evento junto com as celebrações em espaços públicos segundo os historiadores Novaro e Palermo (2013):

Ya desde la ceremonia inaugural del campeonato quedó claro cual sería la actitud dominante de los espectadores, jugar de argentinos. Algunos, los menos, entiendiéron que esto incluía um respaldo explícito al gobierno: según Clarín ( 2 de junio de 1978) , los comandantes en jefe “fueron recibidos por los espectadores, que aplaudiéron cuando el locutor oficial mencionó sus nombres”. La rebeldia se limito a fraccíon de hinchas que arrojaban papelitos en los estádios al calor de um debate entre los locutores oficiales y Clemente, el personaje de una tira cómica de Clarín. Como se sabe, la seleccíon argentina ganó el campeonato. A medida que el equipo fue acercándo-se a la final, las calles se llenaron de gente. (2013, P. 161)

Até que ponto, em um contexto ambíguo de repressão política e catarse nacional,  a  permanência de uma tradicional forma de saudar a seleção pode ter representado uma efetiva rebeldia a ditadura? Ou seria mais um símbolo de união da comunidade imaginada argentina em torno de 11 jogadores?

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CLARÍN – 02/06/1978

REFERÊNCIAS:

LEVÍN, Florência. Humor político en tempos de repressíon: Clarín 1973-1983. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2013.

NOVARO, Marcos e PALEMO, Vicente. Historia argentina 9: la ditadura militar 1976-1983: del golpe de Estado a la restauracíon democrática. Buenos Aires: Paidós, 2013.

 

Fonte: https://historiadoesporte.wordpress.com

 

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