Estão abertas, até 21 de março,  as inscrições para Apresentadores de trabalho em Simpósios Temáticos no XVI Encontro Regional de História da Anpuh-Rio: Saberes e práticas científicas

 

O evento vai acontecer de 28 de julho a 1 de agosto na Universidade Santa Úrsula (Botafogo, bem próximo no centro do Rio). As informações sobre o evento estão disponíveis em: www.encontro2014.rj.anpuh.org

 

Lembramos a todos que estamos organizando um Simpósio dedicado à História do Esporte e das Práticas Corporais (segue abaixo a descrição).

 

 

 

 

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030. História do Esporte e das Práticas Corporais

Coordenadores: RAFAEL FORTES SOARES (Pós-doutor(a) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)), VICTOR ANDRADE DE MELO (Pós-doutor(a) - PPGHC/UFRJ)

Resumo: Nos últimos anos, no Brasil, a História do Esporte vem se consolidando no âmbito do campo acadêmico da História. Se antes raramente o assunto era tratado nos fóruns da disciplina, hoje já é presença comum em periódicos, livros e congressos. Isso certamente tem relação com mudanças no campo geral (a História se abre a novos temas), no campo específico (a consolidação da História do Esporte, inclusive com a melhor qualidade das pesquisas realizadas), na universidade brasileira (menos preconceituosa com assuntos relacionados à cultura popular), mas também com a incrível força do fenômeno esportivo no cenário contemporâneo, algo notável em nosso país, inclusive porque elevou sua inserção no circuito internacional de grandes eventos esportivos, processo que vai culminar com a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e com os Jogos Olímpicos de verão, em 2016. No âmbito dos Encontros Regionais de História da Anpuh/Rio, desde a edição de 2006, de forma seguida, a exemplo do que tem ocorrido no Simpósio Nacional da Anpuh desde 2003, temos organizado um fórum para reunir os envolvidos com a temática. Reconhecendo a importância do assunto e a necessidade de continuar consolidando as investigações históricas sobre o objeto no Estado do Rio de Janeiro, este Simpósio Temático objetiva congregar os pesquisadores interessados no esporte e nas diferentes práticas corporais institucionalizadas: dança, educação física, ginástica, atividades físicas “alternativas” (antiginástica, eutonia, ioga etc.), alguns fenômenos análogos de períodos anteriores à Era Moderna (as práticas de gregos, os gladiadores romanos, os torneios medievais, um grande número de manifestações lúdicas de longa existência), entre outras (como, por exemplo, a capoeira).

Justificativa: Originária do francês antigo disport, a palavra sport foi registrada pela primeira vez na Grã-Bretanha do século XV, mas é somente na transição dos séculos XVIII e XIX que ela assume o sentido atual. Para sermos mais precisos, é nesse momento que se configura o campo esportivo conforme hoje o conhecemos.
Na esteira dos contatos internacionais, materiais e simbólicos que marcaram aquele momento e as décadas seguintes, tendo a Inglaterra como primeira protagonista, a prática se espraia pelo mundo, sempre mantendo muito de seu caráter original, mas também dialogando com as peculiaridades locais. Essa é uma das chaves de sua popularidade, juntamente com o fato de se estruturar ajustando-se bem ao conjunto de comportamentos considerados adequados no processo de consolidação do novo modelo de sociedade, do capitalismo e do imaginário da modernidade.
No desenvolvimento e estruturação do campo esportivo, no decorrer do século XIX, o registro de resultados tornou-se muito valorizado. Inseridos em uma dinâmica social que valorizava progressivamente a vivência de atividades públicas espetaculares, relacionando-se com os novos artefatos tecnológicos, até mesmo em função da criação e do aperfeiçoamento de instrumentos de mensuração (entre os quais os cronômetros), as “proezas esportivas” passaram a ser apresentadas como parâmetro de sucesso.
Não seria equivocado, assim, dizer que no campo esportivo, desde cedo, se valorizou uma certa visão de história. O registro de dados e fatos contribuía para a difusão de algumas ideias de grande utilidade para sua consolidação: o heroísmo, a coragem, a grandiosidade das conquistas humanas. Os “feitos esportivos” deveriam ser preservados e exibidos: testemunhar, documentar, “to record” – o recorde como dimensão central que permite lembrar a constante necessidade de superação.
É também comum, desde então, relacionar o esporte com um suposto passado longínquo, de forma a, estrategicamente, reiterar sua importância. Tal dimensão é perceptível, por exemplo, na criação dos Jogos Olímpicos modernos (1896), a partir de uma idealizada concepção de atividades físicas na Grécia Antiga. Essa mobilização pode ser observável também na institucionalização de outras práticas corporais no decorrer dos séculos XVIII e XIX: na educação física (como justificativa para a implementação dessa disciplina escolar), na ginástica (como inspiração na elaboração dos métodos gímnicos) e mesmo na dança (nos discursos sobre as peculiaridades das propostas de dança moderna).
A despeito dessas ocorrências, só recentemente a História (a disciplina acadêmica) começou a considerar mais seriamente as práticas corporais institucionalizadas como um tema relevante. Parece-nos necessário seguir consolidando grupos de investigadores que se dediquem a melhor compreender a relevância do objeto no tempo e no espaço.
Vale destacar que as práticas corporais institucionalizadas têm sua configuração sempre articulada com as dimensões sociais, culturais, econômicas, políticas de um dado contexto. Elas fazem parte do patrimônio de um povo, da memória afetiva de indivíduos e grupos, sendo também importantes ferramentas na construção da ideia de nação e na formulação de identidades de classe, gênero, étnicas, entre outras. Por isso, são objetos cuja investigação pode contribuir para desvendar, de forma multifacetada, o cenário em que se inserem.
Lembramos ainda a forte relação do Rio de Janeiro com as práticas corporais institucionalizadas, notadamente com o esporte. Isso se dá por ter sido o palco pioneiro da sistematização de muitas dessas manifestações no país e lócus de parte significativa dos grandes acontecimentos do fenômeno esportivo nacional, algo que agora se reforça com o fato de que o Estado e a cidade serão protagonistas na promoção da Copa do Mundo de Futebol (2014) e Jogos Olímpicos (2016).

Bibliografia: BOOTH, Douglas. The field: truth and fiction in sport history. Nova York: Routledge, 2005.
BOOTH, Douglas. Sport historians: what do we do? How do we do it? In: PHILLIPS, Murray (org.). Deconstructing sport history. Nova York: State University of New York Press, 2006. p. 27-54.
BOURDIEU, Pierre. Como é possível ser esportivo? In: BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. p. 136-163.
BOURDIEU, Pierre. Programa para uma sociologia do esporte. In: BOURDIEU, Pierre. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 207-220.
ELIAS, Norbert, DUNNING, Eric. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992.
GIULIANOTTI, Richard (org.). Sport and modern social theorists. New York: Palgrave Macmillan, 2004.
GIULIANOTTI, Richard. Sport: a critical sociology. Cambridge: Polity Press, 2005
MELO, Victor Andrade de, FORTES, Rafael. Sports History in Brazil: an overview and perspectives. Sport History Review, v. 42, n. 2, p. 102-116, nov. 2011.
MELO, Victor Andrade de, DRUMOND, Mauricio, FORTES, Rafael, SANTOS, João Manuel Malaia. Pesquisa Histórica e História do Esporte. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.
PHILLIPS, Murray G. (ed.). Deconstructing Sport History. Albany: State University of New York Press, 2006.
STRUNA, Nancy Social. History and sport. In: COAKLEY, Jay, DUNNING, Eric. Handbook of Sports Studies. London: Sage, 2007. p. 187-203.

 

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