Acabo de receber uma postagem, via face, de Mestre Marco Aurélio, e que tenho que compartilhar!!!

A inserção da Capoeira baiana no Maranhão, a partir da década de 60, com Aberrê – e seu discípulo Sapo, que retornou e aqui se fixou – deveria ter ‘matado’ as capoeiras primitivas que existiam, e a nascente capoeiragem carioca, de Mestre Bandeira. Não!!!

Aberrê e seu quarteto passaram a disseminar uma capoeira mista, vamos dizer assim, juntando as duas escolas baianas, pois se apresentava como grupo folclórico, e não uma escola de lutas.

Juntando às hoje chamadas Angola e Regional (ou contemporânea), a capoeira-dança e a capoeira-luta, característica de ambas as duas escolas baianas, pela prioridade que dava e os objetivos propostos, Sapo soube harmonizar o que aprendera com Aberrê, Careca e Brasília, juntando aquilo que se já se fazia no Maranhão, e criou uma escola que podemos denominar de ‘maranhense’!!! essa sim, original, com características próprias, e que seus discípulos souberam preservar e, mais ainda, incluir novos elementos, como o resgate da ‘punga’,  capoeira primitiva praticada no Maranhão e em alguns estados do nordeste, inclusive era a capoeira do Recôncavo, diferente da de Salvador… a capoeira baiana que conhecemos hoje, introduzida após a diáspora dos mestres soteropolitanos pelo Brasil…

Nosso Tambor de Crioula – antes, tambor de crioulo – é originário da punga; esta, também aparece em Minas Gerais, lá pelos idos de 1817, conforme registrado; como disse, aparece no Recôncavo baiano, nas Alagoas, com outro nome, como cangapé; mas aqui no Maranhão, é a ‘punga’, conforme ficou patenteado em evento realizado pelo Mestre Marco Aurélio e Mestre Serginho recentemente.

Deve-se registrar que o que chamamos de punga, uma capoeira primitiva, também aparece no Oceano Índico e em outras regiões de colonização portuguesa, transplantas de seus locais de origem pelas migrações populacionais – forçadas, ou não – no período colonial português – na época, um Império em que o sol não se punha nunca, dada sua extensão e abrangência… o contato com essas diversas populações, com seus costumes e usos, em especial o da defesa pessoal – uso nas guerras – fez com que, em diversas regiões surgissem movimentos semelhantes, mas que, no Brasil, se consubstanciou como a capoeira – e sem contar os contatos com o Chanson/Savate do porto de Marselha, tão presente nos portos brasileiros, em especial São Luis, Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

Daí, podermos afirmar que a capoeira primitiva brasileira – não estamos falando, aqui, da baiana, soteropolitana – nasceu nessas capitais-portos de contato com com o mundo português…

Que a capoeira aqui praticada – aqui, me refiro ao Brasil, hoje produto de exportação, através das várias grifes, inclusive maranhenses – é genuinamente brasileira, embora tenha recebido influencias de outras ‘capoeiras’, vamos dizer assim…

Vamos ao texto de Marco Aurélio:

Marco Aurelio Haikel sentindo-se em paz.

“INSERIR O NOVO NO VELHO, SEM MOLESTAR RAÍZES”!!!

O autor dessa frase, meu mestre, um “griô”, cujos saberes e ofícios são elos de uma corrente a estender-se por gerações chama-se Antonio José da Conceição Ramos, popularmente, Mestre PATINHO!
Pelos idos de 1995, eu e o mestre viajamos para São Paulo e em lá chegando fomos visitar Mestre Brasília, o qual, juntamente com Mestre Sapo – de quem Patinho foi discípulo na década de 1960 – e Careca, sob a liderança do Mestre CANJIQUINHA formavam o “Quarteto Aberrê”, e saiam pelo Brasil afora em espetáculos de Capoeira.
Naquele momento já se faziam 20 anos que Brasília e Patinho não se viam e depois de efusivas “boas vindas”, o anfitrião, que nos recebera em sua residência levou-nos à Academia e nos apresentou à sua gente.
Em seguida deu o comando da aula ao mestre Patinho que, gentilmente, devovera-o dizendo querer a honra de apreciar a aula.
Após cinco minutos me senti como que recebendo aula do meu mestre, pois todos os movimentos propostos eu os fazia milimetricamente, em todas as suas nuances. Exatamente como aprendera, sem que nunca tivesse tido contato com Mestre Brasília, até então.
Foi um misto de honra e certeza de que os ensinamentos por mim recebidos eram autênticos, frutos de uma Escola, plêiade de guerreiros/as, cujos conhecimentos, saberes e ofícios perpassam o tempo e, sobre os quais, embora “pontos venham sendo acrescentados” – sim, pois um velho ditado popular diz que, em se tratando de “Cultura Popular, quem conta um conto acrescenta um ponto” – os contos veem sendo mantidos por gerações, e as raízes, não molestadas.

 

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