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O cuidado com os olhos na prática de esportes

As lesões oculares decorrentes da prática de esporte são mais comuns do que se imagina. Uma partida amistosa de futebol e a prática de squash, por exemplo, podem trazer danos irreversíveis aos olhos – tanto para atletas profissionais quanto para amadores. A Universo Visual conversou com o dr. Castro para saber como os óculos esportivos podem proteger os olhos. Especialista no assunto, o médico tem gosto especial pelos esportes – é ex-atleta federado – e pela área de prevenção e tratamento de traumatismos oculares.

Por que o uso de óculos esportivos é tão importante?

Dr. Castro - O globo ocular tem mecanismos próprios de proteção, que são bastante eficientes. No entanto, atividades da vida cotidiana e a prática esportiva fazem com que os acidentes oculares sejam comuns. Nos Estados Unidos ocorrem, em média, 100 mil casos de acidentes por ano, o que representa 14% de todos os atendimentos de perfurações oculares. A responsabilidade de segurança na prática esportiva cabe ao atleta, ao treinador, ao fabricante de material esportivo e de proteção, ao oftalmologista – nos casos de trauma ocular –
e ao médico do esporte.

Qual o maior vilão para os olhos dos esportistas?

Dr. Castro - Atletas como alpinistas, esquiadores, pescadores e velejadores são expostos a altas doses de raios UV, que atingem os olhos após a reflexão numa superfície qualquer. Por exemplo: o gelo fresco reflete cerca de 80% desses raios; a areia limpa, em torno de 30%; e a água, 5%. A luz ultravioleta pode causar sensação de corpo estranho nos olhos, dor e irritação ocular. O desconforto costuma aparecer de seis a dez horas depois da exposição aos raios solares. A longo prazo, os raios podem provocar lesões oculares, catarata e degenerações na retina. O uso de boné protege os olhos de aproximadamente metade dos raios ultravioleta, mas os óculos escuros conseguem protegê-los em até 100%.

Que fatores podem favorecer a ocorrência de lesão em um atleta?


Dr. Castro - Algumas situações fazem com que os olhos estejam mais predispostos a lesões oculares. Condições como alto grau de miopia, trauma ocular prévio, infecção e antecedente de cirurgia ocular aumentam o risco de dano causado por trauma. Cirurgias do tipo transplante penetrante de córnea, filtrante para glaucoma, catarata e ceratotomia radial “enfraquecem” os olhos e podem até levar à ruptura do globo ocular após um trauma. Além disso, procedimentos que diminuem a espessura da córnea, como o PRK e o LASIK (cirurgia para miopia, astigmatismo e hipermetropia), podem deixar o globo ocular mais suscetível a lesões traumáticas. Todo atleta que apresente qualquer dessas condições deve ser esclarecido a respeito dos riscos da prática de esportes e das proteções especiais a serem adotadas.

Atletas que jogam basquete deveriam usar óculos especiais?


Dr. Castro - O basquete, apesar de proporcionar muito contato físico e ser o esporte com maior número de traumas oculares nos Estados Unidos, não exige legalmente o uso de equipamento de proteção. Em um estudo realizado em Massachusetts, 28,7% de todos os traumas oculares relacionados ao esporte ocorrem na prática de basquete. As lesões acontecem especialmente pelo contato não intencional dos dedos das mãos e dos cotovelos. Embora os óculos de proteção não previnam todo tipo de contusão nos olhos, diminuem sua freqüência. Estima-se que em torno de 10% dos jogadores universitários de basquete dos EUA sofram pelo menos um trauma ocular por temporada. Em um estudo com jogadores da NBA, observou-se que 51,4% dos traumas analisados afetaram os olhos. As lesões mais comuns foram abrasões (escoriações) e lacerações (dilacerações) palpebrais, contusões da pálpebra, abrasões corneanas, uveíte traumática e fraturas orbitárias.

Algum jogador de basquete que use óculos de proteção?


Dr. Castro - Sim, o jogador Kareem Abdul-Jabbar, que começou a usá-los após a sexta abrasão corneana sofrida durante jogos. Na sua autobiografia, relatou que, eventualmente, sentia o “clique” das unhas dos adversários
nas suas lentes.

O futebol é um esporte perigoso para os olhos?


Dr. Castro - A bola de futebol pode causar lesões na órbita, nas pálpebras ou no globo ocular. O contato físico entre os jogadores também causa lesões. No Brasil, temos exemplos de jogadores que apresentaram contusões oculares sérias como Tostão, que teve descolamento de retina, e Viola, com fratura de órbita. O jogador Davids, da seleção da Holanda, joga com óculos de proteção pois realizou cirurgia para glaucoma. No futebol de salão, o diâmetro menor da bola a torna mais perigosa para o globo ocular.

E o tênis?

Dr. Castro - De novo, dados dos Estados Unidos. De 8% a 14% de todos os traumas oculares relacionados aos esportes nos acontecem em atividades com raquetes. O risco de um jogador de squash, sem óculos de proteção, sofrer um trauma ocular após jogar 12 anos, três vezes por semana, é de 12%. Traumas nesses esportes são usualmente graves. A bola de tênis é responsável por uma grande parte das lesões oculares. Por apresentar tamanho maior que a órbita ocular, causa normalmente fraturas. Já a bola de squash, pelo seu menor tamanho, pode levar a conseqüências mais graves, pois pode penetrar na órbita com velocidade superior a 170 quilômetros por hora.

Como devem ser os óculos esportivos apropriados para essas atividades que mencionamos?

Dr. Castro - Os óculos esportivos são aqueles apropriados para a prática de esportes, mas muitas vezes as pessoas fazem confusão com óculos de sol ou óculos de modelo esportivo. As lentes e armações para os óculos esportivos basicamente devem apresentar alta resistência ao impacto e proteção contra raios ultravioleta A, o UVA, e ultravioleta B, o UVB. As principais lentes com alta resistência são feitas de policarbonato e trivex. Essas lentes precisam ter espessura mínima e central de 3 milímetros e 1 milímetro, respectivamente, para fornecer proteção adequada. A qualidade óptica também é importante, em especial nos esportes que exigem precisão, como o basquete e o tiro.

Nos óculos esportivos, as lentes devem ser escuras?

Dr. Castro - Não exatamente. É importante ressaltar que a cor escura das lentes não fornece necessariamente proteção contra raios ultravioleta e os óculos de sol comuns nem sempre fornecem as exigências mínimas para a prática esportiva. As lentes polarizantes, presentes em todos os óculos esportivos, fornecem proteção contra o brilho. Os óculos solares comuns reduzem o brilho direto da luz visível, mas pouco fazem para reduzir o brilho refletido. Deve-se mencionar que essa redução do brilho diminui a fadiga dos olhos e permite um maior conforto na prática de esportes em locais com alta reflexividade da luz, como na água e na neve.

Existe alguma especificidade para as armações?

Dr. Castro - De preferência, ser de cor clara para não interferir no campo de visão. Precisam fornecer alta resistência ao impacto, mas não podem ser pesadas. Vale ressaltar que as armações devem ser adequadas ao rosto do atleta, não apresentar pontos de fragilidade que se rompam após um impacto, e ter boa aerodinâmica. Um bom oftalmologista pode ajudar o atleta na escolha da armação ideal. Além disso, as armações podem ser confeccionadas em bloco único e apresentar material antiderrapante nas hastes e na ponte. Na confecção desses materiais, devem ser seguidas normas adequadas de fabricação de acordo com o esporte praticado.

Como ficam os atletas que precisam de óculos de grau?


Dr. Castro - Os óculos esportivos podem ter, sem nenhum problema, a adaptação de grau esférico ou cilíndrico, o que permite ao atleta maior conforto e desempenho na prática esportiva.

Emerson Castro  - Fonte: Revista Universo Visual

http://www.cmdv.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=504

O que podemos traduzir daqui para o CEV?

Sports Eye Safety
http://www.preventblindness.org/safety/sportspage1.html

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