A Arte de Ensinar

Reporto-me à postagem sob o título “O uso de um tabuleiro no ensino e aprendizado de jogadas ensaiadas e crianças praticantes de futsal”. (por Henrique Bayer Gonçalves)

Endereço: http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000183583 -  Ver Arquivo (PDF) Tags: Futsal, Psicologia

Não conheço o autor - Henrique B. Gonçalves -, mas considero-o uma vítima do sistema acadêmico. Gostaria de compartilhar com ele e demais professores esse meu 'ensaio" e a partir daí, fazermos juntos e melhor nossas apreciações, todas em favor de um ensino profundo, de qualidade.

Xadrez e Voleibol, Futsal, Futebol, Basquete......

Consultei um treinador de voleibol especializado em Iniciação sobre seus pequenos atletas. Enquanto jogavam, enumerava um a um, especificando a principal característica deles. Em determinado menino, fez uma pausa e arrematou: “aquele é burro, mas a gente dá a ele um pouco de inteligência”, Este diálogo me levou a buscar uma definição para o que seria inteligência? Vejam o que encontrei em Piaget e o que justifica empregarmos metodologia adequada ao ensino. E, principalmente, ensinar o indivíduo a pensar, um caminho promissor a que deseja ser autoconsciente autorregulável.  

Quando Piaget ministrava seu curso sobre inteligência, ele começava perguntando: “O que é inteligência”? Ele então respondia: “Inteligência é o que nos possibilita adaptarmo-nos a novas situações”. E continuava salientando que existem dois aspectos em qualquer ato de adaptação – nossa compreensão da situação e a invenção de uma solução baseada nesse entendimento. A inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular, que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Uma vez que o conhecimento é organizado em uma estrutura coerente, nenhum conceito pode existir isoladamente. Assim, cada ideia é apoiada e colorida por uma rede de outras ideias.

Mostro a minha visão, e de psicólogos renomados, sob a mesma ótica apresentada pelo Henrique. Gostaria que alguém compartilhasse na análise de como 'aprender a ensinar' efetivamente.

O que representa o tabuleiro para uma criança? E mesmo para um adulto? No futebol, que jogador tem a melhor visão de jogo?

Xadrez e Voleibol

Postado no Procrie em 29/1/2010 - Metodologia e Pedagogia, por Roberto A. Pimentel.

-- Por que não começar a ensinar o jogo de xadrez antes de qualquer desporto?

O xadrez que impõe tudo aquilo que é essencial ao desenvolvimento do músculo do intelecto – “O rigor das definições, a precisão das leis e as abstrações disciplinadas” –, além do lúdico, que no caso é essencial. Não é à toa que em muitos países o xadrez é obrigatório nas escolas.

Sabe-se que as crianças têm uma “quantidade de canais“ menor que a dos adultos. Consequentemente, a sua capacidade de prestar atenção aos acontecimentos, memorizá-los e reagir a eles é menor que a do indivíduo maduro. Talvez por isso que crianças pequenas deixam de resolver muitos problemas por não dispor da capacidade de processamento de informação necessária para fazê-lo. O grande mestre de xadrez, fora do seu campo específico de perícia, sofre as mesmas limitações de processamento de informação que todos nós. Suas proezas de percepção e memória são específicas ao tabuleiro e às peças de xadrez. Ao olhar o tabuleiro, o que o perito – mas não o iniciante – “vê” são configurações de peças, ou, “nacos”, que representam padrões conhecidos e não peças isoladas. Isso também significa que ele é mais capaz de planejar e pensar com antecipação, porque sua representação ou modelo do tabuleiro é forte, precisa e perdurável. Por isso, também é capaz de pensar com maior clareza e profundidade.

Minhas experiências, certamente enriquecidas pela prática do jogo de xadrez na infância, levaram-me a aprender a interpretar o jogo, muitas delas transformadas em conselhos que transmitia aos companheiros para que “memorizassem” a posição dos adversários na quadra a cada conclusão de jogadas. Assim, a rapidez com que somos capazes de codificar o que vemos, a organização do que vemos e a quantidade de informações que conseguimos memorizar estão todas relacionadas com a estrutura de nosso conhecimento, e são sintomáticas dessa estrutura. Em inúmeros lances de uma partida de voleibol ou de qualquer desporto, há momentos em que é imprescindível esta caracterização com o auxílio da memória, só possível por um perito. Por exemplo, em jogos de peteca dos quais participo, “vejo” com muita clareza a distribuição dos adversários na quadra com o auxilio da visão periférica e, em outros momentos, quando é impossível, pela memória, o que contribui para um discernimento tático eficaz.

Um dado informal, mas importante: a incapacidade de o jogador de xadrez identificar, descrever ou expressar de forma ordenada e sistemática o modo como eles “vêem” o tabuleiro. Certamente, boa parte de nossa perícia é desse tipo. O conhecimento é ”tácito”, integrado no modo pelo qual agimos e trabalhamos, e não é fácil sistematizar ou descrever para os outros. Se não reconhecerem que os novatos não percebem as situações da mesma maneira que eles, os peritos podem considerar seus problemas com perplexidade e até com fúria. Não deve ser motivo de surpresa, p.ex., que, mesmo quando o perito indica aquilo que deve ser observado, o novato possa não ser capaz de “absorver” o que lhe é mostrado, por não ter o conhecimento anterior necessário que o habilitaria a perceber e memorizar configurações. Neste caso, também não é de admirar que a capacidade que o perito tem de agir e pensar seja mais certa, fluente e precisa que a do novato. No caso do voleibol, ter sido um atleta pode ajudar na tarefa de ensinar, mas ter sido um atleta de alto nível, nem sempre. Pelo que foi exposto, o ex-atleta não consegue entender porque seu aluno não consegue realizar determinada tarefa. O que para ele era tão fácil torna-se difícil de explicar. A visão das crianças como processadores limitados de informação, que ainda têm de aprender ou adquirir perícia, representa uma terceira imagem da criança enquanto ser que aprende e pensa. A capacidade da criança num determinado campo, seja o xadrez, a aritmética, a leitura ou o que for, pode não refletir sua capacidade em outros campos, caso sua perícia nas diferentes disciplinas e atividades seja diferente. Esta é uma concepção que admite que a percepção, a memória, o conhecimento e a compreensão estão profundamente relacionados e se modificam com a aprendizagem e o desenvolvimento.

Conclusão

Recomendo que nas aulas de qualquer esporte o professor empregue uma grande variedade de estímulos que possam vir a incrementar o desempenho das crianças na fase adulta. Ao criar condições e relações entre a especialização e a qualidade final do desempenho, estaremos proporcionando vivências variadas para a formação de uma memória motora ampla que, certamente, se manifestará mais tarde.

 

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