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Adeus ao lazer

Passado o carnaval, muita gente já se apressou em conferir no calendário quando será o próximo feriado, todo ano é assim.

Em 2012, o empresariado reclamou bastante do excesso de tempo livre. Alegaram que, só no setor da indústria, o prejuízo causado pelos feriados foi de R$ 44,9 bilhões, uma perda 21% maior do que a registrada em 2011. O problema, dizem, é que a paralisação do trabalho é maior do que deveria porque muitos feriados ocorrem às terças e quintas, gerando enforcamento ou emenda, os chamados feriadões.

A má notícia para nós é que neste ano não vão ter do que reclamar, pois quase não vai ter feriadão.

O sociólogo francês Joffre Dumazedier, um estudioso do lazer, fala em diferentes tipos de tempo livre: o tempo livre do fim do dia, o tempo livre do fim de semana, o tempo livre do fim do ano e o tempo livre do fim da vida. Estamos falando, em verdade, é da jornada de trabalho regulamentada, do descanso semanal, do direito a férias remuneradas e do direito a aposentadoria.

Vale alertar que todos estes direitos são frequentemente questionados no Congresso. Empresários e sindicatos patronais sempre reclamam dos prejuízos que o tempo livre traz aos cofres públicos e à economia do país.

A regulamentação e limitação da jornada envolve uma peleja histórica e vem sendo o pivô de uma das mais importantes lutas travadas no mundo do trabalho. Está em pauta desde os primeiros movimentos socialistas do século XVIII. Foi reivindicada por Marx e Engels no Manifesto Comunista de 1848 e figurou como a principal bandeira da Associação Internacional de Trabalhadores, a Primeira Internacional Socialista fundada em 1864.

Isto sem falar do clássico Direito à Preguiça, de Paul Lafargue, um panfleto visceral publicado em 1880 que os socialistas franceses fizeram circular contra a disciplina produtiva e o dogma do trabalho difundidos pela moral burguesa.

O próprio Dia do Trabalho relembra a manifestação de 1º de maio de 1886 pela jornada de trabalho de oito horas em Chicago, quando centenas de trabalhadores foram executados nas ruas da cidade.

No Brasil, o tema da redução da jornada faz parte da luta sindical desde o início da industrialização do país, na vidada do século XIX para o século XX. Mas a jornada máxima de 8 horas diárias, efetivamente, só veio em 1943, com a instituição da CLT, a Consolidação das Leis de Trabalho . De lá para cá, ganhamos mais 4 horas de tempo livre no sábado a tarde, quando a Constituiçaõ de 1988 abaixou o limite da jornada semanal de 48 para 44 horas.

Agora a campanha é outra, reduz pra 40 que o Brasil aumenta!

O que desejo colocar em destaque é que não há lazer se não existir tempo livre. E também a prática do esporte será sempre limitada a um espaço ou equipamento, cada vez mais privatizados, e a um tempo. Isto quer dizer que para aqueles que não são atletas profissionais, o tempo livre constitui pressuposto básico para se vivenciar o esporte.   

Nesse sentido, é preciso reivindicar mais tempo livre, e sob a perspectiva de uma nova economia do tempo, buscar sua ampliação não só em termos de crescimento e desenvolvimento econômico, mas é preciso pensar também naquilo que nele se poderá vivenciar no sentido do pleno desenvolvimento humano - a educação, a arte, o esporte, o lazer, o ócio etc.

Vejamos um exemplo desta controvérsia...

Desde o início deste mês de fevereiro, o Banco do Brasil está reduzindo a jornada de trabalho dos seus funcionários. Isto significa que os bancários do BB vão ter mais tempo livre. O problema é que tal medida está subordinada ao interesse do banco em melhorar seu desempenho contábil e a redução da jornada, que passará de oito horas diárias para seis, acarretará um perda de 16% na remuneração mensal dos trabalhadores.

FONTE: http://blogdomasca.blogspot.com/2013/02/adeus-ao-lazer.html

“Com a evolução tecnológica é preciso menos o back office (departamentos que atendem o público interno), e o BB é inflado disso. Eles estão adequando quadro funcional para esse novo ambiente de tecnologia”, diz um consultor do banco.

Marx, a partir de sua teoria do valor, consignada no famoso O Capital, diria que isto é uma recombinação entre mais valia absoluta e mais valia relativa, ou seja, entre o tempo total de trabalho e sua intensidade. O resultado é que, além de aumentar a lucratividade do banco, o trabalhador vai produzir mais em menos tempo. Sim, os bancários terão mais tempo livre, mas o que conseguirão fazer com ele já são outros quinhentos.

Ocorre que o menor tempo de trabalho deveria vir acompanhado de melhoria dos rendimentos, além de uma política pela conformação de uma nova cultura do tempo livre, uma política alternativa ao lazer consumista tão comum nos dias atuais.

Voltando ao caso do BB, vale lembrar que, nos últimos anos, o banco vem investindo pesado no marketing esportivo, tudo para renovar sua imagem. A estratégia deu certo, pois o banco já é detentor de uma das marcas mais valiosas do país. Os valores dos seus contratos de patrocínio são sigilosos, mas a estimativa é de de que o Banco do Brasil vai investir R$ 60 milhões anuais no volei e no futsal. Pois é... dá com uma mão e tira com outra.

O Plano de Conquista do Público Jovem deixou claro que o esporte era a saída mais fácil para o banco chegar aos jovens. Mas o BB que explora a imagem do esporte, da saúde e da juventude é o mesmo banco que tem provocado o adoecimento psíquico dos bancários, é o que afirmam estudiosos e sindicalistas.

Uma bancária conta sobre o dia a dia dentro do banco:

“Só para desabafar: uma vez bancário, bancário para a vida toda. Fico observando o quanto são pessoas repreendidas e reprimidas, do quanto se abstêm da sua qualidade de vida. Verdadeiras máquinas ambulantes. Horas e horas, dias e dias, anos e anos de tensão intensa tentando satisfazer o insaciável. Luta sem fim, busca do irrealizável, do impossível. Penso que seja por isso ser tão difícil nos libertarmos, pois continuamos sempre na busca do que só existe em um sonho: um bancário realizado”.
 
Pela redução na jornada de trabalho, sem redução de salários e direitos!

FONTE: http://blogdomasca.blogspot.com/2013/02/adeus-ao-lazer.html

Comentários

Por Edison Yamazaki
em 21 de Fevereiro de 2013 às 02:22.

No mundo capitalista selvagem o que conta é o lucro e não como lucrar. Acho que tudo o que acontece no Banco do Brasil é chancelado pelos funcionários, pois se assim não fosse, uma greve já estaria a caminho. Não vejo uma saída fácil para conciliar tempo para lazer e lucro. Como envolvidos diretamente na área de lazer e esportes, gostaríamos que todos tivessem a chance de praticá-lo, mas a realidade é sempre muito diferente do sonho.

Interessante seria saber como agem os outros bancos e as grandes indústrias pelo Brasil afora, no que se refere ao tempo de trabalho e de lazer para os funcionários. O que tenho certeza é que nenhum empresário abrirá mão dos lucros em troca de bem estar aos trabalhadores. É uma pena, mas não existem empresários "bonzinhos".

Por Roberto Affonso Pimentel
em 21 de Fevereiro de 2013 às 10:22.

Edison,

Trabalhei no Banco do Brasil e lá me aposentei. É certo que em outra época, pois após o governo do Collor muita coisa mudou. As facilidades que os funcionários obtinham não eram fruto de greves bancárias, mas lobies muito bem elaborados inclusive por políticos. A partir do início da década de 90, teve início ao que chamávamos "bradescalização", um processo que não tem fim em que talvez tenha como modelos empregados em grandes empresas americanas e japonesas. Não foram os empresários brasileiros que criaram tais aberrações, mas é empregada no mundo, especialmente pelos mais desenvolvidos. Nós copiamos!

Houve época, década de 80, em que dediquei-me a fomentar a prática recreativa para funcionários do BB na Associação Atlética, duas vezes na semana, à noite. Em dado instante, tínhamos pouco mais de 50 adeptos, incluídos funcionárias, médicos, e tantos outros que se extasiavam nas brincadeiras e no convívio social. Infelizmente, não havia entre dirigentes quem compreendesse a importância daquelas propostas. Em seguida, o Banco passou a apoiar o voleibol (seleções) e o vôlei de praia, inoculando milhões de reais, com a finalidade de obter um retorno financeiro que se mantém avolumado até hoje. Muitos dos eventos com o vôlei utilizam também funcionários ou os induzem a particicipar ("convidados"). Em suma, quem pode manda; quem não pode, obedece. Pouquíssimos funcionários - inclusive minha filha - poderiam fazer como o Papa acaba de fazer, tendo em vista que reconhece sua fraqueza diante de tantos interesses e forças ocultas. Creio que também o Jânio Quadros pensou dessa forma.

Sobre greves, os últimos líderes sindicais de plantão na área certamente jamais estiveram interessados na classe. Todos se filiavam a partidos de esquerda e gritavam palavras de ordem sempre seguidas de hurros, assobios etc. Nada do que diziam era para valer. Quando no poder - caso do ex-diretor de marketing do BB - diante das injunções para apurar fraudes cometidas em novo do governo na sua área, aposentou-se. Felizmente, a medida não prevaleceu para que a Justiça o alcançasse e punisse. Lembrando que várias vezes enviei sem sucesso - mas não desisti - projetos para o Departamento de Marketing do BB e sempre com a mesma resposta negativa. Mas tinham dinheiro para o partido governamental e seus apadrinhados.      

 

 


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