Cevnautas, podemos iniciar um diálogo com o Secretário Rodrigo Cintra a partir das opiniões nesta entrevista. Laércio

“Natal está no caminho certo”, diz Rodrigo Cintra
Publicação: 10 de Abril de 2011 às 00:00

O titular da Secretaria Municipal da Juventude, do Esporte, do Lazer e da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014 (Sejel), Rodrigo Cintra, em meio a polêmicas sobre a sua atuação como árbitro cumulativamente com a função de admnistrador público e aos atrasos na preparação de Natal para a Copa de 2014, garante que o Mundial está assegurado na capital potiguar e que seu currículo justifica a sua presença na equipe que gerencia os destinos da cidade, mesmo não se tratando de um potiguar nato.

Cintra é formado em Educação Física e Desportos pela Universidade Federal de Juiz de Fora/MG, especialista em Gestão de Instalações, Eventos e Entidades Desportivas e pós-graduado em Administração e em Marketing Esportivo pela Universidade Gama Filho/RJ. Oficial de arbitragem profissional desde 1999, fazendo parte do quadro oficial da Federação Paulista de Futebol por mais de 12 anos e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desde 2001.  O secretário afirma que atuou como gestor do Portfólio de Projetos da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014, cidade-sede Salvador, onde diz ter contribuído para a confecção de aproximadamente 130 projetos para a Copa do Mundo. Em 2010 esteve em vários eventos internacionais relacionados à Copa em países como África do Sul, Alemanha, China e Espanha. Agora, após um mês à frente da Sejel, Rodrigo Cintra terá que ser rápido e preciso, não para decidir se um lance foi pênalti ou impedimento, e sim para traçar as melhores diretrizes rumo à realização de uma grande Copa do Mundo em Natal. Em entrevista concedida à TRIBUNA DO NORTE, Cintra fala de suas impressões iniciais, expectativas, ideias e projetos para a gestão esportiva da capital potiguar.

Como se deu o convite para assumir a Sejel?

Desde o início das discussões acerca da possibilidade da Copa do Mundo de 2014 ser realizada no Brasil, que venho trabalhando na elaboração de projetos para Salvador como cidade-sede. Em 2010, na Copa da África do Sul, tive a oportunidade de conhecer Paulinho Freire, quando conversamos e trocamos algumas informações a respeito. No início deste ano, recebi o convite por parte da prefeita Micarla de Sousa e de Paulinho Freire para vir a Natal, visando discutir sobre possibilidade de algum tipo de auxílio. Naquela oportunidade, fiquei alguns dias na cidade e fiz um diagnóstico da situação de Natal para a Copa. Um mês depois, em fevereiro, retornei a Natal para uma segunda reunião com Micarla e Paulinho, quando apresentei o diagnóstico e as possibilidades de intervenção no âmbito esportivo, tanto profissional quanto amador, e de implementação de projetos para a Copa em Natal. Daí surgiu o convite da prefeita para assumir a Sejel, que aceitei com muita satisfação.

Fale um pouco desse seu trabalho na Secretaria para Assuntos da Copa em Salvador.

Tratava-se de um trabalho de gestão de projetos para a Copa. Existia uma integração entre as secretarias, no sistema de governança, dos grupos de trabalho de todas as áreas relacionada à Copa do Mundo, tais como: saúde, segurança, meio ambiente, saneamento, sustentabilidade, cultura, educação, turismo, transparência, promoção comercial e tecnológica. Num primeiro momento, buscamos estimular as secretarias municipais a criarem projetos relacionados a todos esses temas com o intuito de fazermos cumprir todas as obrigações contratuais. Esse trabalho resultou em mais de 130 projetos confeccionados, cronologicamente falando.

O senhor poderia especificar melhor como eram elaborados esses projetos?

Acontecia da seguinte forma. Fazíamos um levantamento dos temas relacionados à Copa, depois fazíamos uma triagem em cima das obrigações contratuais, das recomendações da FIFA e dos projetos delegados. Para definirmos quais os projetos continuariam, definimos as seguintes prioridades: relevância do projeto; se existiam fontes e recursos para o mesmo, seja no Brasil ou fora; se respeitava as obrigações contratuais; se estava dentro das poligonais geográficas estratégicas para a Copa; se haveria como ser concluído até a data da Copa; e se era um projeto de legado ou não. Seguindo esse método, criamos uma matriz de prioridades onde, dos mais dos 130 projetos, 33 se tornaram projetos prioritários, aptos a serem executados naquele momento. Com a assistência de uma consultoria especializada e de todos os técnicos envolvidos, fizemos um trabalho de planejamento que se tornou referência.

Como foi o processo de transição dos gramados para a política?

Na verdade, não houve um processo de transição. Desde pequeno, sempre fui muito envolvido com esportes e política. Meus avós foram prefeitos em seus respectivos estados, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Durante minha graduação em educação física, estive envolvido com temas relacionados à gestão e planejamento, a ponto de, em 2007, ser convidado para dar aula sobre Administração e Marketing Esportivo na Unip de São Paulo. Posteriormente, dei aula em São José dos Campos, onde passei a integrar um grupo de discussão de políticas esportivas. Em seguida, participei do 9º Seminário Nacional de Políticas Públicas do Esporte e do Lazer realizado em São Bernardo do Campo, de onde saí como coordenador geral da próxima edição. Desta forma, estou estudando a viabilidade de Natal receber a 10ª edição do seminário nacional.

Sua experiência como árbitro ajuda, de alguma forma, sua atuação como gestor esportivo?

Claro que sim! Eu desconheço outra atividade em que o gestor tome mais decisões importantes em apenas noventa minutos do que um árbitro. Inclusive, enquanto árbitro de futebol da 1ª divisão por mais de 10 anos, fui convidado por várias empresas para palestrar sobre o tema: tomada de decisão sob pressão e gerenciamento de conflitos.

O fato de o senhor estar apitando jogos do campeonato baiano, não interfere na sua atuação frente à Sejel?

Não sou árbitro apenas do Campeonato Baiano, mas também da Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro e, excepcionalmente este ano, estou apitando só no Baiano. Nos últimos dois anos, apitava dois ou três estaduais simultaneamente, quando já estava envolvido com o desenvolvimento de políticas públicas desportivas. Sempre vi a arbitragem de futebol como um trabalho voluntário de entusiastas do esporte que se dedicam, além de suas profissões, a colaborar com a legitimidade de resultados de um esporte universal, que é o futebol. E é bom lembrar que a arbitragem nunca foi regulamentada como profissão, no Brasil. Em suma, gostaria de frisar que tenho vários colegas secretários de municípios que são árbitros e existem outros tantos que jogam futebol aos finais de semana. Não vejo distinção e creio que eles não são prejudicados em suas funções por fazerem isso também. Um secretário não trabalha com intuito de cumprir horários, seja durante a semana ou aos fins de semana, e sim com o cumprimento de metas. Até porque muitos trabalham mais do que 48 horas semanais.

Mas, você também apita durante a semana?

Durante muito tempo apitei de seis a oito jogos por mês. Foram inúmeras quartas e domingos em que viajei Brasil a fora com essas atribuições. Há pouco mais de um ano, quando meu envolvimento com a organização da Copa do Mundo tomou uma importância e relevância como é visto hoje, fui obrigado a solicitar tanto à CBF quanto as federações estaduais as quais eu prestava serviço para que não me escalassem nos dias úteis. Às vezes, também em finais de semana, como no ano passado, quando eu não pude apitar, justamente, devido a essas responsabilidades enquanto gestor.

Nesse período inicial como secretário, o que pôde conhecer das necessidades de Natal no âmbito esportivo?

Desde que assumi a Sejel, tenho buscado conhecer a realidade local, atendendo aos convites das lideranças comunitárias e representantes de centros desportivos. Estamos realizando visitas técnicas nas comunidades, diagnosticando os problemas e discutindo as intervenções possíveis. Estivemos no Palácio dos Esportes, onde pretendemos realizar reformas. Estivemos no Centro Desportivo de Felipe Camarão, administrado por Ney Robson, e no de Santa Catarina, administrado por Piaba. Fomos ao estádio José Pascoal de Lima na Cidade da Esperança, onde o ex-jogador Chico Explosão desenvolve um projeto com jovens carentes. Fomos na quadra de esportes do Bairro Nordeste, próximo a Urbana. Visitamos também a praça Santa Mônica, em Lagoa Nova, onde pretendemos reformar a quadra e disponibilizar novos equipamentos de ginástica, juntamente com a Semsur. Estivemos no Conselho Comunitário das Quintas, onde pudemos conhecer a quadra daquele bairro, entre outras áreas esportivas. O ex-árbitro potiguar da FIFA, Milton Otaviano, tem me ajudado nesse aspecto.

E quanto ao Ginásio Nélio Dias, na Zona Norte, o que fazer para que ele não se transforme em um grande Elefante Branco?

Uma das medidas iniciais diz respeito ao convite que formalizamos as federações esportivas do estado para estabelecerem suas sedes nas dependências do ginásio. Mesmo sabendo que as federações são estaduais, realizamos a proposta por elas estarem sediadas em Natal. Lá temos espaço suficiente para sediar tanto a Sejel quanto as referidas federações, iniciando assim uma grande parceria, onde as federações terão o apoio e, conseqüentemente, darão a população uma contrapartida social na organização de eventos para a população natalense. Vale lembrar que tenho conversado muito com o colega de estado Joacy Bastos (da SEEL), que corrobora com a nossa opinião e ainda, devido a sua larga experiência na sua justiça desportiva, nos encaminhou uma ideia de grande valia, onde provavelmente teremos, no Nélio Dias, uma plenária da justiça desportiva para auxiliar em todos os eventos de diversas modalidades.

E quanto à segurança no Nélio Dias? Essas federações terão garantias de segurança para seus equipamentos?

Como fizemos recentemente no Machadinho e fomos atendidos de pronto, tanto pela secretaria municipal, quanto estadual de segurança, temos a certeza que essa colaboração será da mesma forma no Nélio Dias. O melhor de tudo é que, com o regate das atividades esportivas para a população, em especial às comunidades que vivem no entorno do ginásio, com a sensação de pertencimento que as mesmas terão em relação ao ginásio, temos a certeza de que atos de vandalismo ou incidentes como furtos e roubos estarão bem distantes de nossas instalações.

Saíram algumas notícias, em rede nacional, que Natal seria uma das sedes mais atrasadas. O que o senhor pensa a respeito? A capital potiguar, realmente, corre riscos de não ser sede da Copa 2014?

Não. Estamos dentro do cronograma da Fifa, tanto o município quanto o Estado. Estamos em contato quase que diário com o secretário estadual da Copa, Demétrio Torres, e acompanhando todas as questões da Arena. Por tanto, temos a certeza de que basta fazermos o nosso dever de casa, como temos feito, que a Copa acontecerá em Natal. Até porque, segundo palavras do próprio gerente geral das cidades sedes do COL/ Fifa, Fábio Starling, na última reunião que tivemos no Rio de Janeiro, semana passada, Natal está no caminho certo. Ele disse: “estou feliz por ver Natal nos trilhos”. Portanto, descarto a possibilidade de não sediarmos a Copa e volto nossas preocupações, nesse momento, para trazermos mais do que quatro jogos para a Arena das Dunas, que é o mínimo que a Fifa tem nos dado como certo. Mais do que ganhar a Copa, a nossa preocupação é que a cidade do Natal obtenha um legado ímpar, ao ponto de ganhar como nenhuma outra cidade-sede com a Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014.

Fonte: Tribuna do Norte

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