Resumo

A mobilidade humana não é algo novo na história e está diretamente ligada ao próprio processo de desenvolvimento dos seres humanos no decurso dos tempos. Com efeito, o deslocamento entre territórios é uma atividade humana consciente que possibilita a busca da satisfação de necessidades materiais e simbólicas que os indivíduos reconhecem não haver mais condições de serem atendidas em seus respectivos locais de origem ou de moradia. Contudo, o fenômeno migratório que observamos mais recentemente ganha contornos vultosos em virtude do cenário de crise humanitária deflagrado em diferentes partes do mundo. No contexto dos deslocamentos entre países do Sul global destaca-se o caso venezuelano. Dados de março de 2023, publicizados pela R4V – Plataforma Regional de Coordenação Interagencial organizada Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) - apresentam uma estimativa de que existam 7,2 milhões de refugiados/as e migrantes venezuelanos/as no mundo, sendo que destes, cerca de 6 milhões deixaram suas casas em direção a outros países da América Latina e do Caribe. Somente no Brasil, estariam vivendo em torno de 426.000 venezuelanos/as. Esses números representam a soma de refugiados/as, migrantes e requerentes de asilo venezuelanos/as relatados pelos governos anfitriões. A precarização das condições de vida de venezuelanos/as é resultado da instabilidade política vivida no país de origem. Consequentemente, diante desse cenário, as pessoas passam a enfrentar problemas com relação ao abastecimento de produtos de gênero alimentício, de higiene pessoal, médico, dentre outros, além dos prejuízos no fornecimento de serviços básicos. Frente ao exposto, emergem inquietações atreladas ao presente trabalho: Qual o lugar ocupado pelo lazer, então, na vida cotidiana de refugiados/as venezuelanos/as que enfrentam dificuldades até mesmo na garantia de outras necessidades humanas (tão) essenciais (também) para a sua sobrevivência? Qual o interesse em estudar o fenômeno do lazer na vida de indivíduos que experienciam cotidianamente a crise humanitária na qual eles/as próprios/as estão inseridos/as? As reflexões desenvolvidas no presente trabalho fazem parte do escopo da pesquisa de doutoramento junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (PPGE-UFSCar) /Brasil cujo objetivo central é compreender o significado atribuído à prática social lazer na vida cotidiana por refugiados/as venezuelanos/as em abrigo apoiado pela ACNUR na cidade de Boa Vista, estado de Roraima, Brasil, descrever e analisar os processos educativos decorrentes desta convivência. A presente investigação, em desenvolvimento, visa contribuir para uma concepção não hegemônica tanto da fruição do lazer neste contexto de manutenção da vida, do resistir para existir, quanto dos processos educativos dele decorrentes. Além disso, visa difundir uma perspectiva não hierárquica acerca das necessidades humanas

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