Resumo

O Teatro do Oprimido (TO), elaborado nos anos de 1960, por Augusto Boal (1931-2009), diretor, dramaturgo e teórico do teatro consiste num arsenal de técnicas que, primeiramente, permite que todos e todas que desejam realizar a prática teatral possam fazê-lo, de forma dialógica e autônoma, alfabetizando-se sensível e simbolicamente, por meio da percepção de si e do contato direto com o/a outro/a, problematizando a si mesmo e questionando seu lugar no mundo. Dentro desse conjunto de técnicas, denominado por ele mesmo como um arsenal, já que ele acreditava que o teatro era uma arma na mão do povo, há o teatro-fórum que surge inicialmente a partir de uma técnica chamada dramaturgia simultânea, na qual a peça que está sendo apresentada, em determinado momento é interrompida para que o público possa definir o melhor desfecho daquela cena, que geralmente abordará uma situação de opressão, tendo no protagonista a figura do oprimido ou do opressor. A presente investigação de mestrado, em desenvolvimento, tem como objetivo central descrever, compreender e analisar os processos educativos que decorrem da prática social do TO com um grupo de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos na Casa Lar, instituição ligada à Vara da Infância e Juventude da cidade de São Paulo - SP, Brasil, que acolhe crianças e adolescentes que estão afastadas do convívio familiar por situações de alta complexidade e vulnerabilidade. Trata-se de uma pesquisa participante envolvendo intervenção, com as técnicas do Teatro do Oprimido, junto às crianças e adolescentes da Casa Lar, da qual realizamos registro sistemático das observações em 15 diários de campo, e, destes dados coletados procedemos a análise qualitativa com formação de categorias. Como resultado preliminar construímos a categoria: “educando e educando-se”, originada particularmente no 13º encontro, quando ocorreu o improviso feito pelos/as participantes, no qual um professor agia com os/as alunos/as de forma agressiva, ao mesmo tempo que os/as alunos/as revidaram a agressão de forma similar. Quando a cena foi interrompida, a plateia formada pelos/as outros/as participantes e educadores/as que não estavam em cena foi indagada com a pergunta “Quem é o oprimido e quem é opressor?”, e um dos adolescentes de nome fictício Lacosteiro respondeu: – “Os dois. O professor é oprimido e também opressor. E os/as alunos/as também foram oprimidos, mas também foram opressores porque reagiram de forma agressiva”. Os/as demais participantes, tanto da plateia, como do grupo que apresentou concordaram taxativamente com a fala de Lacosteiro. Desta participação por meio da prática vivenciada (dentro ou fora da cena) se deram reflexões no grupo como um todo acerca de que a opressão se apresenta sob diversas faces, podendo se fazer presente em nós, mesmo quando estamos aparentemente apenas nos defendendo de uma situação opressora, que há outras maneiras de reagirmos e o tempo todo precisamos ter atenção para não (re)agirmos de modo opressor com outrem: colegas, educadores/as, pessoas em geral nos mais diversos contextos sociais. Identificamos que o grupo está educando e educando-se.

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