Não é de hoje que a questão da formação de Professores e pesquisadores da Educação Física enfrentam uma demasiada interferência dos interesses de instituições que se julgaram e julgam capazes de determinar o certo e o errado dentro de uma determinada área. Foi assim com as Instituções Militares do início do séc. passado influênciando a E.F. Escolar e atualmente com os orgãos de fomento a pesquisa determinado o que é "realmente importante" pesquisar. Nos deparamos com um quadro que parece longe de caminhar na direção de uma Educação Física plural e democrática. De um lado temos as instituições de Ensino Superior formando cada vez mais "profissionais" para atender as demandas de um mercado que tem desvalorizado o conhecimento do EDUCADOR e valorizado cada vez mais Profissionais esteriotipados e marketeiros do FITNESS a serviço da industria do corpo. De outro lado temos a valorização das pesquisas amparadas nos conhecimentos médicos-biológicos, voltados à performance e desenvolvimento biomecânico. Parece até que vivemos num país de superatletas, raro é encontrar quem se dedique a falar da realidade das nossas escolas e de como a Educação Física pode contribuir para solucionar ou amenizar alguns problemas. Temos então cada vez mais Doutores experts nos estudos fisiológicos aplicados à atividade física e a saúde,  que em sua maioria nunca colocaram os pés numa quadra escolar para dar uma aula ao menos. Estes mesmos Doutores vão formar uma nova geração de Professores, que a princípio já consideram a escola como segunda ou terceira opção de trabalho, ou seja, se não conseguir algo melhor, vou dar "aulinhas em escola". Como será que podemos aproximar a Educação Física do faz de conta à Educação Física de intervenção Profissional e pesquisa conscientes?

Comentários

Por João Batista Freire
em 18 de Setembro de 2009 às 09:19.

Leosmar:

Essas aulinhas de escola, como dizem os doutos, é, disparado, o maior mercado de trabalho em nossa área. É o que dá sentido à Educação Física. Sem elas não haveria Educação Física. Cheiram mal para os narizes afinados da pós-graduação. No entanto, ser professor é mais que ser doutor. Não se preocupe: com pós-graduação ou sem ela, avançam os estudos e boas experiências práticas em Educação Física Escolar.

Por João J. A. Rosário
em 18 de Setembro de 2009 às 10:43.

Partindo de que a grande maioria dos que estão agora sentados nas cadeiras das faculdades não tem a mínima noção do que é a Educação Física, não sabem o que esperar dela e nem como transformá-la. Ao meu ver não deveria existir essa separação empre o professor da EF escolar e o professor pesquisador, pois,  acima de tudo, tem o mesmo objetivo que é a educação. Fala-se muito em colaboração entre os profissionais da saúde e criam uma rivalidade entre o bacharelado e a licenciatura em EF. Antes de tudo a colaboração deve vir de ambos.

É certo que os especialistas, mestres e doutores pesquisadores subestimam a licenciatura, que por sua vez, aceitam e se contentam as "aulinhas em escola".

Na verdade a formação deve ser mudada, a graduação é muito pobre, os recém profissionais tem que de uma forma granhar seu dinheiro e rendem ou inegenuamente acreditam no marketing da industria do fitness.

Antes de tudo deve-se esclarecer que não adianta fazer pesquisas visando performance e que também o objetivo da EF escolar é a iniciação esportiva e o garimpo de atletas. As cadeiras das unversidades está cheia de gente que pensam em treinar seus alunos/clientes como atletas. Seguem fórmulas de grandes técnicos ou resultados de pesquisas que não condizem com a realidade da grande população. E cabe aos doutores e mestres orientar e propor pesquisas conscientes e realistas.

Os professores de educação física devem perceber que não é só dar treino ou passar horas em laboratórios. Devem educar.

Por Roberto Affonso Pimentel
em 18 de Setembro de 2009 às 15:31.

Leosmar,

Este é um debate de "longo alcance" e a todo instante percebo inserções do gênero nesta comunidade. Eu mesmo andei provocando quando lancei o título "O Bom Professor". Como deve ser um bom professor? Não consegui interessar as pessoas a explanarem suas concepções. Entretanto, vejo a todo instante - dê uma olhada em várias Comunidades - comentários a respeito do professor de Educação Física. Nuns é quase um vilão, em outras, o mocinho sofrido por tantas mazelas do ensino. Em dado instante, a "culpa" é do sistema, da má formação acadêmica e tantos outros infortúnios. Mas, de prático, ainda não vi absolutamente nada. Assim, estamos dando voltas e mais voltas, e nada de produtivo se tentou realizar.

Não pretendo comentar sobre as causas de possíveis deficiências localizadas ou circunstanciais, mas construir soluções para o dia a dia da prática escolar. Neste sentido, estou lançando um blog em que pretendo apresentar sugestões e relatar experiências que tive quando atuava ajudando um amigo e realizava cursos para professores. Certamente, foram momentos muito ricos, tendo experimentado sensações maravilhosas de contato humano e percebi como foi importante essa minha contribuição para o trabalho deles e, muito mais, para a sua formação como indivíduo frente à vida. Creio que "aprendi a ensinar". Aliás, aprendi muito mais do que ensinei.

Percebo no comentário inicial que não valoriza o trabalho dos pioneiros da Educação Física no Brasil. As instituições militares – Exército e Marinha – deram o seu contributo histórico relevante. Em 1930 foi criada a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), posteriormente a Marinha criou o seu Centro de Esportes; em 1937, veio a obrigatoriedade da educação física escolar e, em 1939, a Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil. Paralelamente, a Associação Cristã de Moços (ACM) teve papel importante também na difusão da prática esportiva e a ela muito se deve em matéria de Educação Física.

A prática escolar de exercícios era realizada com homens (sargentos) que cursaram a EsEFEx. O Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, à época capital do País e inegavelmente o centro cultural, era frequentado somente por meninos. A partir da década de 40 deu início timidamente à prática da EF não só com o futebol, mas também com o basquete, voleibol e tênis de mesa. “Um sargento dava uma aula por mês de ginástica, quase sempre de calistenia, para assegurar o cumprimento da lei. Os alunos somente utilizavam o uniforme (calção) quando dessa única aula. As práticas em momentos vagos eram realizadas com o próprio uniforme. Fora desse ambiente praticava-se o futebol e o voleibol nas praias da Zona Sul do Rio”. (História do Voleibol no Rio de Janeiro, Roberto Pimentel, depoimento de João Baptista de Athayde, antigo atleta de voleibol).

A única Escola de EF no Rio na década de 60 ainda era a ENEF, que na década seguinte se transformaria na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Até 1964, o curso pouco atraía os jovens para essa missão. Eram pouquíssimos aqueles que concluíam o curso, talvez cinco ou seis. Os governos realizavam constantemente “cursos de provisionamento” de curta duração, geralmente voltados para ex-atletas que assim obtinham permissão oficial para lecionarem nas primeiras séries. Aliás, essa prática vem sendo aplicada até nossos dias para a formação de técnicos de futebol, voleibol e outros desportos, burlando a lei.

Quanto às universidades, basta ler o noticiário para sentir vergonha do ensino que se pratica no País.    

Em outro momento voltarei para discorrer sobre as práticas que preconizo para a melhoria do ensino escolar. Grato por ter tocado tão profundo no assunto, o que pode despertar em outros colegas o desejo de encontrarmos soluções para tantos problemas. Por falar em noticiário, veja a notícia ”auspiciosa” que encontrei. Nem tudo está perdido, há alguém trabalhando, e muito bem. Vamos seguir-lhes os passos.  

 Alunos carentes de escola do RJ dão aula de superação
O Dia, 18 de setembro de 2009.

Cercados pela violência de quatro favelas, estudantes do Ciep 1º de Maio, em Santa Cruz, deram exemplo de superação. Os 65 alunos de duas turmas do 5º ano tiveram quase 100% de acertos no simulado para a Prova Brasil do MEC, realizado pela Secretaria Municipal de Educação. Sete acertaram todas as questões de Português e Matemática. A proeza chama a atenção por duas razões: o colégio é uma das 150 Escolas do Amanhã situadas em área de risco e integra a 10ª CRE, que obteve a pior média da rede no teste. "Esse resultado reflete o trabalho de professores compromissados com a aprendizagem de jovens numa região social e economicamente carente", elogiou a secretária de Educação. Segundo a diretora Sueli Gaspar não houve nenhum projeto mirabolante: "Trabalhamos a autoestima dos alunos substituindo atitudes negativas por positivas com muito diálogo e investindo na qualificação da equipe". Quando entrou na escola, há 5 anos, ela implantou a filosofia da "Cerca Viva": a integração entre a escola e as comunidades do entorno, onde tiroteios paralisam aulas.

Roberto Pimentel.

Somente li o comentário (acima)do professor João Rosário após ter "colado" este meu. Gostei muito do que li e pretendo referendar suas posições em relação ao ensino universitário. Parabéns João por sua visão esclarecida. 

Por João Batista Freire
em 18 de Setembro de 2009 às 18:35.

Roberto: gosto muito de ler seus escritos. São muito longos, porém. Tirando esse porém, sua companhia nos fortalece. Sabe Roberto, há belos trabalhos práticos em Educação Física Escolar e em Pedagogia do Esporte no Brasil. Podemos falar sobre eles. Agora, um desafio: quem arrisca dizer porque temos que ser uma profissão da saúde? Por que essa pressão nas escolas para cuidarmos da saúde dos alunos? Pensemos na questão de fundo da Educação Física. Pensemos nas idéias fundadoras da Educação Física no mundo moderno.

Por Leosmar Malachias de Oliveira
em 18 de Setembro de 2009 às 23:54.

Prof. Roberto não quero me justificar, porém gostaria de pontuar melhor algumas questões. Em relação a influência Militar na constituição da Educação Física brasileira creio não ser necessário tecer muitos comentários, pois historicamente o fato foi exaustivamente explorado em nossa área por vários autores, desde de Inezil Penna, Faria Jr, Castellani Filho, Valter Bracht entre muitos outros que se debruçaram sobre a temática. Tenho certeza das contribuições dos Militares, porem não do Regime Militar, e isso é bom que se coloque,  deram início ao que chamamos hoje de Educação Física. Tive minha formação como Professor na Faculdade de Educação Física da ACM de Sorocaba, conheço um pouco a história da Instituição. Concordo com a necessidade de discutirmos ações ao invés de ficarmos em concepções, conceitos e idéias. Vc cita sua experiência na formação de professores, achei muito interessante, e em seu relato descreve e destaca tranformações que considera positivas. Penso que a mudança da prática é fundamental para construirmos uma Educação Física mais Plural e Democrática, aliás, democrática como este espaço, onde as idéais podem fomentar novas práticas. Percebo que tens muita experiência na Educação Física, este conhecimento também não é valorizado nos periódicos Qualis A e B da Capes, mais são muito valorizados aqui. Minhas crítica estão mais no sentido de questionar os modelos e lógica da produção e compartilhamento dos conhecimentos em Educação Física, do que propriamente a falta de práticas, pois como nos alerta Prof. João Freire, "Os cães ladram, mas a caravana passa", e estamos nós Professores "das aulinhas de escola" tocando a caravana em nossas aulas. Vamos seguindo em frente camaradas...

Por Roberto Affonso Pimentel
em 19 de Setembro de 2009 às 18:00.

Prezados colegas,

Preliminarmente, dirijo-me ao professor João Batista: foi uma pena não nos encontrarmos em Floripa, pois visitava frequentemente a cidade - minha filha morou ali 4 anos - e em vários momentos tentei implantar o projeto com as Prefeituras da capital e de São José. Tive contatos inclusive com os Reitores da UFSC e UDESC, onde realizei aula. Uma outra aula foi no Colégio Catarinense.  

Os professores de EF não têm em geral uma formação suficiente para resolver, no plano científico, os problemas que descobrem no decorrer de sua prática. Dessa forma, uma ajudinha sempre será providencial. O problema é “ele quer ser ajudado”? Muitos são levados naturalmente a resolver problemas práticos aplicando certo número de “receitas” técnicas que representam fórmulas dogmáticas empregadas e repetidas durante anos. Não há tempo para parar e pensar a respeito!

O valor da observação para o conhecimento

O conhecimento é essencialmente o fruto da colaboração entre o que é sensível e o que é racional. Ele é elaborado em três estágios: da observação vivida ao pensamento abstrato, do pensamento abstrato à prática. Se não pensarmos no que estamos produzindo, imagino que nada tem valor, pois repetimos a receita, deixando de lado o mais importante - a criatividade - e novas propostas de desenvolvimento para os alunos. Nesse momento, a experiência de um colega, uma boa leitura, ou um curso de atualização podem despertar soluções antes não pensadas.

Na solução de um problema servimo-nos de um método de aproximação das soluções (heurística) que não segue um percurso claro, mas se baseia na intuição e nas circunstâncias a fim de gerar conhecimento novo. É o oposto do procedimento algorítmico. A popularização desse conceito se deve ao matemático George Pólya: a) Se não puder compreender um problema monte um esquema; b) Se o problema for abstrato tente propor o mesmo problema num exemplo concreto; c) Tente abordar primeiro um problema mais geral (o paradoxo do inventor: o propósito mais ambicioso é o que tem mais possibilidade de sucesso).

Produzi um projeto calcado nesses procedimentos heurísticos, cujo objetivo é realizar concretamente uma ponte entre a teoria e a prática, buscando soluções para o docente. Em parte já está pronto e já tenho colocado "no ar" como poderão ver na Comunidade Educação Física em Alagoas e em Roraima. A seguir, estarei dando seguimento e informações no blog que criei e no site que estou providenciando. Estou me disponibilizando gratuitamente para ajudar na solução de problemas. Que o Espírito Santo me inspire!

Roberto Pimentel.

Por João Batista Freire
em 21 de Setembro de 2009 às 09:48.

Roberto: enquanto tomamos nosso café vamos conversar um pouco sobre suas sábias palavras. Há, entre os professores de escolas, bons e maus profissionais, como em todas as profissões. Creio que a maioria é formada de bons professores. São pessoas que trabalham muito, dão, no mínimo, oito aulas por dia. Isso é um trabalho de cão, que esgota as energias de qualquer cristão, ou ateu. Trabalho justamente com isso, isto é, com formação continuada de professores. Só que segui um outro percurso. Acredito que, no dia a dia, os bons professores, mesmo sem discursarem a respeito, produzem uma bela pedagogia, uma pedagogia diferente dos planos, diferente dos currículos oficiais. A cada percalço na aula, a cada contratempo, mudanças climáticas, desinteresse dos alunos, etc., os professores criam algo para a aula continuar e ser bem dada. Essa construção é cotidiana e compõe uma bela pedagogia, mas ninguém nunca fica sabendo disso, porque ela não é falada ou escrita. Pois bem, é isso que os professores de meu grupo contam, esse é o conteúdo de suas reflexões. O percurso que seguimos foi nunca propor soluções, fórmulas, propostas à rede oficial de ensino. Prefiro convidar os professores para o grupo de estudos, criar oportunidades para que reflitam sobre sua bela prática pedagógica, vinculando isso a estudos de vários autores, discutindo a possibilidade de uma prática pedagógica, bonita, barata, eficiente, orientada pela idéia de conscientização dos alunos. Ora, os professores, aderindo á idéia, passam a praticar essa pedagogia produzida no grupo em suas escolas. Tornam-se, muitos deles, inclusive, pesquisadores. Com isso, já afetamos algumas milhares de crianças. O projeto tem o nome de Oficinas do Jogo. Talvez não seja muito diferente do seu.

Um grande abraço. João Freire

Por Roberto Affonso Pimentel
em 21 de Setembro de 2009 às 11:07.

Parabéns João e a todos do grupo "Oficinas do Jogo".  Foi muito oportuno e gratificante encontrá-los nesse momento. Vai entender mais adiante. Ttentarei ser sucinto desta feita.

Da teoria para a prática

Estou enviando meu projeto para análise da Professora Laudicéia, lotada na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas - FAPEAL. (Veja a Comunidade "Educação Física em Alagoas"). Ali dou conhecimento também do desenvolvimento de um blog (já no ar) e de um fututo site. Em ambos, a proposta é debater com interessados a "Arte de Ensinar". Atenho-me a questões práticas e por isso, creio que vamos nos dar muito bem. Várias vezes quis deixar bem clara essa ideia nos contatos em Floripa, mas nada consegui com meus interlocutores. Os motivos estão bem claros, são da natureza humana.

A ideia de um projeto virtual facilitará "descobrir" nesse imenso País pessoas como vocês que estão no dia a dia enfrentando as agruras e, muito mais importante, a felicidade de provocar o sorriso nos seus alunos e a alegria no olhar. Felizmente, ainda penso assim. Saí de uma aula de demonstração no Colégio Catarinense muitíssimo emocionado com algumas alunas que me indagaram: "Você não quer ser nosso professor"? O Professor que me convidou até lá manifestou seu elogio através de uma forma indireta: "Reparei que você se desgastou (físicamente) muito com a aula, como faria se tivesse que realizar 3-4 aulas seguidas"? Disse-lhe: "Se eu fosse professor daquelas crianças elas me conheceriam e eu a elas, o que tornaria tudo muito simples. Seria capaz de realizar as aulas, inclusive sem a minha participação. Como fazer? Isto é conversa para um Curso". Infelizmente, nunca mais tive notícias da escola. Veja também a descoberta que fiz em "Educação Física em Roraima".

Contei esta passagem porque só hoje descobri uma outra Comunidade em que atua com muita propriedade: "Pedagogia do Esporte". Se tiver paciência comigo farei algumas observações a respeito da passagem da teoria para a prática. Este o assunto principal do blog. Voltarei lá naquela Comunidade para discutirmos o assunto.    

Roberto Pimentel.


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