Resumo

Esse texto discute a inserção de um professor-pesquisador na Educação Física escolar presente no processo de escolarização de jovens em conflito com a lei e que cumprem medida socioeducativa de privação de liberdade na Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente – CASA, na região metropolitana do Estado de São Paulo. Utiliza a narrativa autobiográfica para apresentar um enredo, que entrelaça questões como formação inicial e permanente, gênero, raça, classe e as implicações para e na ação pedagógica no contexto socioeducativo de jovens do sexo masculino. Nas análises, emergiram situações que tencionam a necessidade da promoção de debates sobre as diferenças que marcam as subjetividades no processo de formação docente. Conhecer a si mesmo é condição imprescindível para reconhecer e respeitar os saberes do outro, acreditando que este pode ser a direção para a busca legítima do processo educativo pautado na justiça social, que seja culturalmente sensível, dialógico, rigoroso, intuitivo, imaginativo, comunitário, participativo, político, social e afetivo.

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