A Arte dos Escrevinhadores: Ofícios Cotidianos com o Futebol
Por Bernardo Borges Buarque de Hollanda (Autor).
Resumo
O tema da seção Dossiê desta edição da revista FuLiA / UFMG é Crônica esportiva no Brasil: história e narrativa. Dos gêneros literários – romance, conto, novela, poesia – a crônica é sem dúvida aquele que mais se entrosou com a prática e com o dia a dia do futebol. A liberdade de expressão e a abertura temática – a abrigar o ficcional e o realístico, o anedótico e o sublime, o coloquial e o pedante, o campo de jogo e o extracampo – souberam combinar-se às limitações de espaço concedidas tradicionalmente pelos jornais a esse subgênero cognominado de crônica esportiva.
A crônica esportiva, como se sabe, decalcou-se e emancipou-se da crônica, à medida que o futebol profissional e que as demais modalidades esportivas popularizaram-se e massificaram-se no século XX. O decalque e a emancipação ocorreram também graças ao desenvolvimento dos próprios jornais, que se tornaram periódicos exclusivos de esportes, ampliando a cobertura e as divisões internas do jornalismo esportivo. A crônica esportiva assim fixou-se no interior dos jornais, ao lado das reportagens jornalísticas, dos editoriais, das charges, das fotografias e das cartas dos leitores, que compõem a maior parte dos periódicos voltados às práticas poliesportivas.
A presença longeva e regular da crônica esportiva na imprensa brasileira, seja ela os periódicos gerais ou os jornais específicos de esportes, chamou a atenção da Academia, no momento em que o meio acadêmico se voltou ao estudo do futebol no Brasil, em fins dos anos 1970 e princípios dos anos 1980. Enquanto o interesse das Ciências Sociais pela história esportiva acionou os periódicos como fontes de informação, as áreas de Letras e de Comunicação se interessaram pelo futebol como “fenômeno linguístico”. Sendo assim, era incontornável passar pela crônica e por sua dimensão discursiva na narrativa e na apreensão do objeto.