Resumo

Este estudo investigou os elementos que constituíram a Educação Física forjada na Associação Cristã de Moços (ACM) e que ressoaram em ações para a escolarização da Educação Física brasileira nas décadas de 1920 e 1930. Para tanto, colocamos em cena sujeitos formados como diretores físicos na Associação: Henry James Sims, missionário acemista nascido nos Estados Unidos, que atuou na sede da Associação no Rio de Janeiro; Renato Eloy de Andrade, o Inspetor de Educação Física de Minas Gerais; e Frederico Guilherme Gaelzer, que foi também Inspetor no Rio Grande do Sul, e Diretor de Jardins de Recreio em Porto Alegre. Os recortes espacial e temporal propostos justificaram-se pelas atividades exercidas por Sims, Andrade e Gaelzer naqueles Estados e temporalidade, que mantiveram estreita relação com uma sistematização produzida e disseminada pela ACM. No estabelecimento de fontes para esta investigação, diferentes arquivos foram mobilizados. Documentos institucionais foram recrutados no Kautz Family YMCA Archives, em Minneapolis, nos Estados Unidos. De Montevidéu, documentos que informam sobre a formação dos secretários e diretores físicos no Instituto Técnico da Federação Sul-Americana das Associações Cristãs de Moços. Ainda na dimensão institucional, o periódico oficial da Associação no Brasil foi investigado na Federação Brasileira das ACMs e na Biblioteca Nacional. Para as práticas de apropriação, foram acionados documentos que informavam sobre experiências de escolarização da Educação Física nos diferentes estados investigados. No Rio de Janeiro, do acervo da Associação Brasileira de Educação, ganharam centralidade os documentos referentes à Seção de Educação Física e Higiene. Para o estado mineiro, o jornal Minas Gerais, Órgão Oficial dos Poderes do Estado e a Revista do Ensino, importantes veículos para a divulgação de política e práticas educacionais. No Centro de Memória do Esporte, da Escola de Educação Física, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a exploração do acervo Lazer e Recreação Pública. Na construção da trama, o engendramento do protestantismo no Brasil foi considerado como aspecto que possibilitou a inserção da Associação no país e os elementos que compunham a sistematização de Educação Física ali empreendida estavam marcados por códigos protestantes capazes de justificar a moralização dos costumes, a vocação para exercer um ofício, a dimensão da eficiência nas práticas, o uso racional dos exercícios físicos. Esta pesquisa evidenciou que os contornos para a Educação Física forjados na Associação não assumiram especificidades para o espaço escolar, foi a dinâmica de circulação dos sujeitos ali formados que promoveu modos de apropriações que participaram do processo de escolarização da disciplina. O cenário brasileiro de renovação educacional foi acolhedor para as iniciativas acemistas. A criação de órgãos específicos responsáveis por inspecionar, promover e orientar o ensino de Educação Física em estabelecimentos escolares foi também incentivadora das referências organizadas, especialmente por Andrade e Gaelzer. No processo de apropriação, práticas que revelam adesão, reconfigurações e recusa ao estabelecido na ACM. Chamados a contribuir no debate e nas iniciativas relativas à escolarização da Educação Física, os sujeitos investigados realizaram um exercício de recriação de sentidos, de deslocamentos necessários. Esta investigação, ao abordar sujeitos e proposições acemistas, contemplou a intenção de dar visibilidade a uma sistematização que, não pertencente ao universo europeu dos métodos ginásticos, mas, vinda dos Estados Unidos, também participou da constituição da Educação Física brasileira.

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